Apesar de serem uma das bandas de sonoridade mais agressiva do BRock, o Ira! vez por outra gosta de se voltar ao clima intimista do formato acústico. O projeto Ira! Folk é uma turnê que Nasi e Edgard Scandurra empreendem paralelamente aos shows elétricos. O show estreou em Curitiba no último dia 13 e chegou ao Circo Voador, no Rio de Janeiro, na (fria) noite da última sexta-feira, 19 de maio.
Folk se difere do Acústico MTV de 2004, pois ali havia instrumentos de cordas e percussão. Neste aqui, é basicamente voz e violão, mas com efeitos dos teclados de Johnny Boy e pedais na guitarra acústica de Scandurra que em alguns momentos permitiam sons bastante próximos de uma guitarra elétrica. O show acabou coincidindo com a morte de Kid Vinil que foi lembrado logo antes de iniciar a apresentação, tanto pelo apresentador do Circo quanto pelos integrantes, uma vez que Kid foi um dos responsáveis por lançar o Ira!. ‘Um Dia Como Hoje’ abriu os trabalhos da noite e foi seguida de ‘Dias de Luta’, precedida da já tradicional balada flamenca de Scandurra.
O setlist faz um passeio pelos 36 anos de estrada da banda, com hits e outras menos conhecidas, mas sempre privilegiando as que rendem bem no formato mais intimista. Por isso, o repertório é semelhante ao do Acústico. ’15 Anos’, ‘Girassol’, ‘Tarde Vazia’ e ‘Tolices’ são os sucessos que se encaixam muito bem no modo básico, daí não poderiam mesmo ficar de fora. A grata surpresa desse ficou por conta da inclusão de duas canções do cultuado disco “Psicoacústica”: o ska/rock à La The Clash ‘Receita Para Fazer Um Herói’ e ‘Mesmo Distante’. A faixa mais do disco, ‘Rubro Zorro’, também estava presente.
A versão de ‘Mariana Foi Pro Mar’, do disco “Invisível DJ” de 2007 (que antecedeu o fim da banda), foi a que se adequou mais ao pé da letra ao “Folk” do título da turnê. ‘Culto de amor’ foi a única com Scandurra nos vocais principais. ‘Flores em Você’ até funciona em versão naked , mas a ausência dos arranjos de cordas que tornaram a música famosa é sentida. ‘Mudança de Comportamento’ e ‘Envelheço na Cidade’ encerraram a primeira parte da apresentação.
O bis, clamado efusivamente pelo público, abriu com o cover de ‘Telefone’, do Gang 90, como homenagem ao vocalista Júlio Barroso, falecido em 1984. A música fazia parte do álbum de covers “Isso É Amor”, lançada pelo Ira! em 1999. Em ‘Tanto Quanto Eu’ Kid Vinil foi mais uma vez lembrado com um snipet de ‘Eu Sou Boy’. Atendendo a pedidos de “toca Belchior”, Scandurra emendou um cover de ‘Medo de Avião’, em homenagem ao artista falecido recentemente.
Com o momento político do país em ebulição, não poderiam faltar gritos de “Fora Temer!” (incentivados pela banda) e na última música da noite, ‘Núcleo Base’, Nasi mudou a letra para “Eu quero lutar mas não com Bolsonaro”. Com tradição de contestação e engajamento, o Ira! não podia deixar de manifestar seu repúdio à cena política. O show Ira! Folk mostra a versatilidade da banda, nesse retorno que se deu no último ano depois de sete anos de rompimento. É nítido que o hiato os deixou com fome de palco.
Comente!