AcervoCríticasFilmes

“O Rastro”: entre a (boa) técnica e o (mau) desenvolvimento

Compartilhe
Compartilhe

O ponto de partida da trama de O Rastro” é até muito interessante: se valer do gênero terror usando como pano de fundo, o falido sistema de saúde pública do Brasil. J. C. Feyer, em seu primeiro longa, apesar de vasta experiência na publicidade, parece realmente ter muitas boas intenções, mas a carpintaria de um filme (especialmente) de gênero requer mais do que uma primeira boa ideia.

A história, com roteiro de Beatriz Manela e André Pereira, parte de um hospital público que está sendo fechado pelo próprio governo, enquanto pessoas protestam em frente ao prédio. Rafael Cardoso é o médico João, que está cuidando da transferência dos pacientes enquanto o hospital é fechado. Uma menina de 10 anos desaparece misteriosamente. Também não tem nenhuma família que a procure, e o sumiço perturba o protagonista, que está prestes a ser pai, de seu casamento com Leila (Leandra Leal). Consumido pela culpa, João vai investigando o desaparecimento da menina, o que acaba por revelar que existem mais segredos entre o hospital e seus funcionários do que ele imaginava.

Tecnicamente, o filme é caprichoso e muito competente em tornar o hospital um personagem importante tanto na objetivação do sobrenatural buscado pela direção, quanto na subjetividade da trama. A fotografia compreende essa capacidade da direção de arte e enriquece bastante seus enquadramentos para tal. Pena que o roteiro não acompanha a espacialidade que tem.

A trama tem problemas de desenvolvimento de personagens – principalmente os coadjuvantes, que muitas vezes não se justificam. Assim como o próprio eixo central da narrativa, que muda abruptamente do meio para o fim, sem sustentação dramática alguma. Tanto que a resolução do mistério perde inteiramente sua força, uma vez que seu principal elemento é tão irrelevante ao longo do filme, que praticamente não faz sentido num todo. Junte a isso uma insistência recorrente de J. C. em investir nos clichês histéricos de sonorização para suplantar o que a câmera mostra, numa banalização injustificada e surrada do susto fácil. Se por um lado é animador ver o cinema brasileiro investindo em outros gêneros, por outro fica exposto sua sina em subestimar seus próprios roteiros.

Filme: “O Rastro”
Direção: J.C. Feyer
Elenco: Rafael Cardoso, Leandra Leal, Natália Guedes
Gênero: Terror/Suspense
País: Brasil
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Imagem Filmes
Duração: 1h 50 min
Classificação: 14 anos

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
ClássicosCríticasFilmes

Resenha Crítica de Com uma Pulga Atrás da Orelha (1968)

A adaptação cinematográfica de Com uma Pulga Atrás da Orelha (1968), dirigida...

FilmesNotícias

Hideo Kojima aposta que mundo mudará de ideia sobre Coringa: Delírio a Dois

No mundo dos games, poucas figuras são tão icônicas quanto Hideo Kojima,...

CríticasGames

Gori: Cuddly Carnage | Frenético e Feral

Seria esse o hack’n slash que encerrará com chave de ouro as...

AstrosFilmesNotícias

Forrest Gump: Tom Hanks revela satisfação com a ausência de sequência

Tom Hanks, o astro do filme “Forrest Gump”, revelou recentemente que está...

FilmesLançamentos

Agreste, de Sérgio Roizenblit, estreia nos cinemas nacionais

Com roteiro adaptado da premiada peça homônima do dramaturgo Newton Moreno, a...

FilmesNotíciasSéries

Game of Thrones vai ganhar filme nos cinemas pela Warner Bros.

A Warner Bros. anunciou que está desenvolvendo um filme de Game of...