Todo mundo já ouviu aquela piada de que se houvesse uma hecatombe nuclear só sobreviveriam as baratas e o Keith Richards. Ok, as baratas, o Keith Richards e o Iggy Pop (outro sobrevivente dos excessos dos anos 60 e 70). A verdade é que várias lendas e histórias escabrosas delineiam a trajetória do Stone que junto com o amigo de infância Mick Jagger e o guitarrista dandi Brian Jones, formou a maior banda de rock do mundo. O livro Life (Vida, em português), da editora Little, Brown & Company, conta essa trajetória, mas do ponto de vista do protagonista, que, ao longo das páginas, confirma e desmente algumas dessas lendas.
Richards já disse algumas vezes que não se lembra direito de muitas coisas que aconteceram nos loucos anos 60, e para, digamos, refrescar sua memória, entrou em ação o editor James Fox, escritor e amigo de longa data do guitarrista que entre outras coisas conseguiu desenterrar uma carta que descreve para a tia o então jovem Mick Jagger que reencontrara depois de anos, e que em seguida iniciaria com ele a empreitada que já dura inacreditáveis 48 anos.
Ao contrário do que se pensa, Mick Jagger não é o líder dos Rolling Stones em todos os sentidos. Ele cuida mais da parte financeira e empresarial, afinal de contas, a banda hoje é uma marca que gera milhões, como a Coca-Cola e a Disney. Quem mantém a coisa funcionando, mesmo que as composições não tenham a relevância de outrora, é Richards, para quem os Rolling Stones são mais do que sua vida. Em 1986, quando Mick Jagger declarou que não haveria turnê para divulgar o álbum Dirty Work, Richards o ameaçou de morte. E de fato, os Stones terminaram informalmente por três anos, quando Jagger cuidava de sua carreira solo que começou promissora, mas naufragou no segundo disco. Já Richards teve seu disco solo Talk Is Cheap aclamado pela crítica. Uma vingança e tanto.
Claro que sua relação explosiva de amor e ódio com Jagger não poderia deixar de ser abordada no livro, que teve conteúdo lido pelo companheiro vocalista. Mas a música sempre fora maior do que as desavenças e foi o que manteve o grupo unido durante todos esses anos, pois a força motriz , no caso os glimmer twins, mantém-se em constante cooperação.
Sobre escrever o livro, Richards afirma ter sido a coisa mais difícil que já fizera, e que seria mais fácil gravar dez discos seguidos. Todavia, segundo Fox, a tarefa de lembrar ao stone alguns fatos não foi tão difícil assim, e que a memória dele não estava deteriorada na proporção que afirmava. Prisões, abusos e experimentos quase científicos com todas as substância possíveis e imagináveis, tudo é relatado pelo próprio, que confirma ter cheirado as cinzas do pai e jura ter largado todas as drogas em 2006 ao 63 anos.
É sem dúvida uma oportunidade de se ver a história do menino de Dartford que bebeu do blues americano, criou parte da trilha sonora que revolucionou o século XX, virou lenda viva e apesar de quase septuagenário, ainda é considerado rebelde e perigoso. Mas ainda fica a forte sensação de que o guitarrista crê na teoria de que entre os fatos e o mito, fiquemos com o mito.
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