Lucas Vasconcellos convida a um respiro em “O Contorno das Nuvens”, primeiro single de seu próximo disco. “Teoria da Terra Plena” será o quarto trabalho de estúdio do cantor e marca uma reconexão com o lado mais orgânico de sua produção solo. Deixando de lado a experimentação eletrônica que guiou suas últimas canções, Lucas começa a revelar o próximo álbum em uma composição assinada com Phillip Long.
A faixa abre os trabalhos para “Teoria da Terra Plena”, revelando alguns elementos que permearão toda a obra. O novo disco de Lucas Vasconcellos é um reflexo direto de seu retorno às origens: o músico natural de Petrópolis (RJ) voltou a morar na serra fluminense após duas décadas vivendo no Rio de Janeiro, onde se apresentou nos principais palcos e de onde partiu para turnês por todo o Brasil com os seus variados projetos.
Antes mesmo do início do atual período de isolamento social, Lucas já havia realocado seu home studio, Pavão Preto, para uma casa em meio às montanhas. Foi nesse novo habitat e em meio às produções para uma gama de artistas nos últimos anos, que surgiu boa parte das faixas de “Teoria da Terra Plena”, um mergulho intenso em questões pessoais e um olhar bem-humorado para a velocidade da vida moderna, uma obra nascida do isolamento, mas construída a muitas mãos.
“O Contorno das Nuvens” nasce dessa dicotomia. A composição surgiu, justamente, nos ares. Lucas começou a compor em pleno turbilhão da turnê de 30 anos do lançamento do primeiro álbum da Legião Urbana, em shows que o levaram por todo o país.
“Foi nesse translado pelo céu que escrevi os primeiros versos dessa música. Porque as nuvens são os objetos mais bonitos que existem na natureza. A volatilidade, a energia elétrica fatal que carregam, sua elegância e movimento discreto e irrefreável, sua parceria com o vento. Eu via muito as nuvens de cima, da janela do avião. Via que o contraste entre as cores, as distâncias e luzes que acometiam umas e deixavam outras nas sombras. Pensei que poderiam ser hieróglifos ou alguma linguagem espacial que pudesse ser lida de cima. Quis pensar que aqueles desenhos não eram tão aleatórios. Queria que eles pudessem significar algo comum a pelo menos duas pessoas. Já seria um milagre”, reflete.
Depois de um tempo com a música pela metade, Vasconcellos convidou o cantor e compositor paulista Phillip Long para assinar a segunda parte da letra. A ideia era complementar o ar de natureza e simplicidade, ao mesmo tempo que trazia sua própria personalidade para a música.
“Sinto que finalmente eu estou olhando e fazendo minha música se parecer com o meu presente. Não mais uma ansiedade por acontecimentos, como era no início da minha vida como compositor e nem a nostalgia de reminiscências próximas ou ancestrais. Eu sinto que me encontrei com a música num campo do hoje. Quis dar essa segurada nas experimentações e tocar com mais fluxo e menos drama. Todo mundo precisa respirar”, conclui Lucas.
“Teoria da Terra Plena” vem para somar a uma trajetória já de destaque no cenário independente nacional. Lucas Vasconcellos fundou, nos anos 2000, a banda Binario (2000-2008), que misturava rock, eletrônico e intervenções urbanas audiovisuais e com quem lançou quatro álbuns pelo selo britânico Far Out Recordings, além de outros dois pelo selo brasileiro Bolacha Discos. De 2008 a 2016 comandou a banda Letuce ao lado da cantora e compositora Letícia Novaes (Letrux), resultando em três discos: “Plano de Fuga pra Cima dos Outros e de Mim” (2009), “Manja Perene” (2015) e “Estilhaça” (2016).
Nessas duas décadas de música, trabalhou ao lado de artistas renomados como Dado Villa-Lobos, Rodrigo Amarante, Lucas Santtana, Marcelo Jeneci, Tiê, Alice Caymmi, entre outros, e compôs trilhas para cinema e TV, culminando no prêmio de Melhor Trilha Sonora Original no Festival de Gramado para o longa-metragem “Riscado” (2011). Mas foi ainda em 2014 que Lucas começou a lançar seus trabalhos solo. Vieram então os discos “Falo de Coração” (2014), “Adotar Cachorros” (2015) e “Silenciosamente” (2016). Dois anos depois, realizou a trilha sonora para uma performance de dança, “Utopyas to everyday life”. Por fim, em 2020, retomou seus lançamentos com o single “Abissal”.
“Teoria da Terra Plena” revisita as experiências vividas ao longo dos últimos quatro anos, mas sem deixar de oferecer um olhar para o futuro. Seja virtualmente ou presencialmente, antigos parceiros retornaram colaborando como instrumentistas, arranjadores ou compositores (Bruno Di Lullo, Emygdio Costa, Thomas Harres, Letícia Novaes etc.); e novos colabores surgiram (Gabriel Barbosa, Felipe Duriez, Uyara Torrente e Vinicius Nisi, ambos d’A Banda Mais Bonita da Cidade, entre outros). Tudo para fazer de “Teoria da Terra Plena” um álbum plural e diverso – tanto quanto as experiências que o inspiraram.
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