Luan Correia, Mbé transforma suas experimentações sonoras e estudos acerca de sua ancestralidade em “ROCINHA”, seu primeiro álbum que conta com participações especiais de Juçara Marçal e dos renomados percussionistas baianos Luizinho do Jêje e Orlando Costa.
Mbé vem do yorubá e significa “ser e existir”. O projeto parte de uma pesquisa por fósseis tecnológicos, utilizados como ferramentas de comunicação com o objetivo de construir um presente-futuro. Produzido na favela que dá nome ao disco, o trabalho é uma decodificação sonora de experiências vividas, lidas e ouvidas ali, à margem da Zona Sul carioca
Assim como nos terreiros, escolas de samba e bailes funk, as batidas e cantos são um dispositivo e um circuito através do qual as populações negras conservam e reinventam práticas e saberes marginalizados pelo sistema cultural vigente.
Aqui, foram os ruídos que tomaram um papel fundamental para transplantar as informações. Em inúmeras gravações de campo que registram as práticas de povos distantes dos centros urbanos, com os ruídos, é possível ouvir mais do que os músicos e seus instrumentos. O que poderia soar como “sujeira” na gravação, vira ferramenta de transporte para mostrar aldeias e vilarejos, as crianças e animais que passam, o som do rio ou da mata.
Esse universo não é novo para Luan Correia. Atuando como engenheiro de som na Audio Rebel, espaço do underground carioca, ele teve no free jazz, improviso e música de ruídos algumas das suas principais referências. Partindo de artistas como Madlib, DEDO, Juçara Marçal – que aparece no disco em duas faixas – e Moor Mother, ele cria verdadeiras ambiências onde os sons coletados elevam a música para contar histórias. “ROCINHA” é carregado de samples que tentam mostrar a vida contemporânea e um possível reencontro com nativos e antepassados.
“Os samples funcionam como amostras de onde viemos e do que somos, as batidas deixam pegadas nas trilhas e os ruídos ressoam aquilo que não nos contam. Recentemente uma palavra chegou até mim e acredito que ela resuma muito bem onde eu imagino chegar: ‘sankofa’, que por coincidência, é o mesmo nome que carrega o Museu da Rocinha. Sankofa é uma palavra da língua Akan, originária das nações africanas de Gana e da Costa do Marfim, que significa: ‘Devemos olhar para trás e recuperar nosso passado, assim podemos nos mover para frente. Assim compreendemos por que e como viemos a ser quem somos nós hoje’”, reflete Luan.
Mbé vê no experimentalismo uma oportunidade e uma necessidade de ressignificar a vivência preta a partir da arte, e não da marginalização. Mais que um gênero musical, é uma forma de propor um novo olhar para essas experiências e amefricanidade, um novo passo na direção que os antepassados vêm tentando desbravar há muitas gerações de líderes e intelectuais negros.
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