Os audiófilos puristas que se apegaram à mídia física até agora por ter qualidade sonora superior à dos arquivos digitais já podem começar a rever seus conceitos. No início do ano, chegou o Pono, empreendimento da lenda do folk rock Neil Young para melhorar a qualidade do som da música, atualmente comprimida em arquivos digitais que diminuem seu impacto.
“Isto significa muito para mim. Significa que posso voltar a ouvir música de novo”, afirmou o artista. Ele é um grande ativista da corrente de apreciadores de música e um dos ferozes críticos da qualidade do som em formato digital desde que o MP3 foi criado. Porém, antes mesmo do Pono, já existia um formato de áudio digital com qualidade superior à de um CD ou mesmo que um vinil.
Trata-se do Audio Interchange File Format, o AIFF, que a Sony pretende popularizar com seu Walkman NWZ-ZX1, anunciado como a nova geração de áudio. O objetivo é provocar a mesma revolução do IPod há 13 anos. O formato é para o áudio o que o Blu Ray é para o vídeo. Música de alta resolução. Até então o máximo em qualidade sonora digital eram os formatos FLAC e AAC. Para se ter ideia, um álbum completo em MP3 tem em média 90 MB, um Flac 400 MB, já um álbum inteiro no formato AIFF tem 2 GB. Sim a diferença gritante se faz notar na qualidade sonora.
O aparelho entrou no mercado em 2014, mas ainda está longe de dominar o mercado, uma vez que tocadores de música se tornaram obsoletos com o advento dos smartphones. Mas uma coisa procede: após ouvir música no formato fica realmente difícil ouvir um MP3 na sequência. Para efeito de comparação, um CD tem uma taxa de 44.1 KHZ com profundidade de 16 bits. Essa é a taxa mínima de um AIFF, que pode chegar a 192 KHZ e 24 bits de profundidade.
Ainda estabelecendo comparações, a coisa funcionaria mais ou menos assim: o MP3 é como assistir a um filme em um Tablet; um CD seria como assistir ao mesmo filme em um monitor de 15 polegadas; um áudio de alta resolução com taxa de 96/24 é assistir a esse filme em um DVD em uma TV de 50 polegadas e um áudio de alta resolução com taxa 192/24 é como assistir a esse filme em Blu Ray 3D em uma plasma de 80 polegadas.
Esse é o parâmetro colocado no site HDtracks onde se pode baixar faixas avulsas e álbuns inteiros no formato. A vantagem é que criando uma conta, é possível baixar amostras grátis, para degustação. As faixas em AIFF podem ser executadas no iTunes Player.
Em teste com gêneros diversos, como folk, blues, jazz, erudito, rock. De fato, para alguém como eu, que sempre menosprezou o poder de fogo de arquivos de música digital, foi algo surpreendente. A faixa ‘Trouble’s Lament’ de Tori Amos, a primeira a ser testada, e é de uma fidelidade sonora assombrosa. Pode-se “sentir” as palhetas nas cordas do violão. Outra faixa que impressionou pela riqueza de detalhes que podiam ser percebidos nitidamente foi ‘Another Country’ de Cassandra Wilson.
No rock, escolhemos o álbum “1984” do Van Halen, que leva uma vantagem significativa em relação à primeira edição em CD e sutil se comparáramos com a última remasterização. Os agudos estão no devido lugar e a firmeza dos graves, característica do vinil, está mantida, para deleite dos puristas. No jazz, uma epifania com a faixa ‘St Thomas’ de Sonny Rollins, ouvida quase que em looping.
Enquanto apreciador do áudio de qualidade (sou um fóssil da época em que ouvíamos música em sistemas de som apropriados) eu torci muito para que tanto o Pono quanto o Walkman NWZ-ZX1 se popularizassem e os arquivos de alta definição se tornassem o padrão. Já que o formato físico se tornou irrelevante, apesar do hype do vinil, pelo menos teríamos mídia intangível com fidelidade sonora. Mas infelizmente o sucesso dessas novas mídias é pouco provável, pois o público em geral está mais preocupado com a praticidade do que com a qualidade.
O CD não substituiu o vinil por ter qualidade sonora superior, e sim por ser um disquinho menor, que não precisava trocar de lado e ainda permitia ao ouvinte selecionar a faixa a ser ouvida por controle remoto, sem ter que se levantar para a cirúrgica operação com a agulha.
Assim sendo, ninguém vai investir dinheiro em um aparelho tocador de música, já possuindo smartphone e nem abarrotar o HD com arquivos pesados de música podendo ouvir tudo em streaming. Já os audiófilos mais ferrenhos, bem esses certamente continuarão afeitos à mídia física, sobretudo ao vinil.
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