O digno recomeço do Barão Vermelho no Circo Voador, no Rio

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Recomeço. Com muita dignidade, esse foi o espírito do show do Barão Vermelho na noite de ontem (sábado, 06 de maio) no Circo Voador. O retorno da banda aos palcos, depois de um hiato de quatro anos e muitas incertezas, não tinha lugar mais adequado para acontecer do que a casa de shows da Lapa carioca. Afinal, foi no Circo (quando ainda era uma lona armada no Arpoador) que as estripulias artísticas de Cazuza começaram a ter visibilidade e onde o próprio Barão (junto com as principais bandas daquela geração) ganhou notoriedade.

A banda recentemente sofreu dois baques que fez muita gente duvidar da sobrevida. Um foi a morte de Peninha em setembro de 2016, vítima de um câncer. O percussionista, que passou a integrar o Barão o primeiro disco após à saída de Cazuza, adicionou um tempero de brasilidade ao rock n’ roll, balizando a identidade sonora da banda a partir dali. E a outra perda foi a saída do vocalista e guitarrista Roberto Frejat. Mas o baterista e fundador Guto Goffi e o baixista Rodrigo Santos não se deixaram abater. Juntaram forças e contaram com a volta do tecladista Maurício Barros, um dos fundadores, que deixou  grupo em 1988, mas vinha participando das últimas turnês como músico de apoio. E o posto de frontman agora fica a cargo de Rodrigo Suricato, da banda Suricato.

O show de estreia da nova formação, com o sugestivo nome de #BarãoPraSempre, dá a entender que, além de se reerguerem, os rapazes não tem intenção de parar tão cedo. Adornando esse retorno, o show traz um cenário com telão de alta definição e pontos de led nas laterais do palco, produzindo imagens que muitas vezes se comunicavam com as do telão. Para os que temiam pelo resultado com o novo vocalista, a boa notícia é que Rodrigo desempenhou muito bem o papel à frente do Barão, com segurança e personalidade, sem tentar emular nem Cazuza ou Frejat, mas com um timbre que não se distancia muito dos antecessores, adequando-se bem ao acento bluesy do grupo. Claro que causa um certa melancolia inicial o fato de não haver mais nenhum dos dois compositores originais responsáveis por tantos clássicos, mas o novo frontman conseguiu dobrar até os mais pessimistas.

A banda no palco se mostrou solta, bem azeitada, e bastante à vontade com os elementos trazidos por Rodrigo, como o slide característico do folk rock do seu Suricato. O recurso caiu como uma luva na música que abriu a apresentação, ‘Pedra Flor e Espinho’, do álbum “Supermercados  Vida”, de 1992. O ponto alto de sua performance pode ser considerada a interpretação da música ‘Quem Me Olha Só’, logo após sua introdução pelos colegas seguida de aplausos efusivos. Ali uniam-se fãs do Suricato (identificáveis pelo visual hipster), fãs do Barão felizes em ver a banda de volta com fôlego renovado e os que a princípio desconfiavam da substituição nos vocais.

Em aproximadamente 1 hora e 50 de apresentação, com músicas executadas sequencialmente, com pouquíssimos intervalos, o setlist que visitou todas as fases do grupo. Em ‘Não Amo Ninguém’, do álbum “Maior Abandonado”, de 1984, Rodrigo deu lugar a Maurício nos voais principais. A curiosidade é que o tecladista foi a primeira opção para substituir Cazuza, mas a ideia fora abandonada justamente pela semelhança das vozes.

‘Brasil’ e ‘O Tempo Não Para’, duas canções da carreira solo de Cazuza que costumam integra o repertório do Barão também fizeram parte do repertório. O vocalista original era lembrado eventualmente em imagens de arquivo no telão. Em dado momento, Guto lembrou as três figuras fundamentais do Barão: Cazuza, Peninha e o jornalista, produtor e compositor Ezequiel Neves. Rodrigo Santos, diplomático, lembrou também de Frejat.

Ao final do último acorde do clássico absoluto ‘Pro Dia Nascer Feliz’, que encerrou o show, ficou certeza de que talvez essa segunda troca de vocalistas na trajetória do Barão Vermelho pode ter sido benéfica. Se o caminho natural era rumo a uma confortável estagnação, a mudança que sobreveio trouxe efeito revigorante. É uma banda de 36 anos de estrada sem abrir mão de suas bases sólidas, mas aberta a novidades para seguir em frente se mantendo relevante.

Setlist

Pedra flor e espinho

Pense e dance

Ponto fraco

Carne de pescoço

Bete Balanço

Dignidade

Billy Negão

Eu queria ter uma bomba

Down em mim

Enquanto ela não chegar

Meus bons amigos

Quem me olha só

Não amo ninguém (Maurício nos vocais)

Tão longe de tudo

Por você

Por que a gente é assim

Cuidado (Rodrigo Santos nos vocais)

Menina Mimada

Declare guerra

Brasil

Puro êxtase

Maior abandonado

O poeta está vivo

O tempo não para

Pro dia nascer feliz

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