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O fim da MTV Brasil

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A MTV Brasil vai acabar. Pelo menos, como a conhecemos até aqui. Foi anunciado que o grupo Abril, que detém os direitos da marca por meio de concessão, não irá renovar o contrato que vence em outubro deste ano. Com isso, o canal não desaparecerá da grade de programação, mas será administrado pela Viacom, dona do canal nos EUA, e terá uma programação bem similar à da matriz estadunidense. É, sem dúvida, o fim de uma era.

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A MTV estreou no Brasil em 20 de outubro de 1990 com bastante atraso, já que nos EUA a emissora operava desde 1981. Porém, até 1985, nem todas as cidades americanas pegavam o canal, o que motivou a campanha “Eu quero a minha MTV” (I Want My MTV, que foi citado até no hit do Dire Straits, Money For Nothing).

No Brasil, a informação a respeito do que era quente no exterior vinha através de programas de videoclipe salpicados pelos canais de TV, como o FMTV, da extinta Rede Manchete e apresentado por Marco Antônio, e um juvenil João Kleber. Até Patrícia Pillar já apresentou o programa. Havia também o Clip Clip, da Globo. Era através destes que conhecíamos os clipes de Michael Jackson, Madonna, Prince e outros astros da música pop nos anos 80. Sabíamos da existência de um canal de 24 horas de música nos Estados Unidos, mas a ideia soava deveras alienígena naquele Brasil atrasado de trinta anos atrás.

A MTV iniciou seus trabalhos no Brasil com uma grade de programação praticamente exclusiva de videoclipes, o que chamou a atenção de muitos artistas gringos que vieram tocar no Rock in Rio, em janeiro de 1991. A versão tupiniquim do canal de música gerou simpatia entre os músicos estrangeiros primeiro por fugir do estilo padronizado das MTVs mundo afora, e segundo pela programação 90% musical, visto que, na época, a matriz já estava tomada por séries teen e programas que nada tinham a ver com música.

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Tanto que muitos artistas quando vinham ao Brasil aceitavam ser entrevistados apenas por VJs da MTV. Aos poucos o canal foi abrindo espaço para programas não musicais, reality shows da matriz e, posteriormente, produzidos aqui (como o Vinte e Poucos Anos, exibido em 1999). Até que, em meados da década passada, a emissora ocupou toda sua programação diurna com uma total ausência de videoclipes, que foram arremessados ao horário da madrugada. A alegação era de que a internet já fazia o serviço de apresentar música ao público, tanto que o canal tinha um site na rede chamado overdrive (que era um nome de um programa de clipes da emissora), onde era possível assistir clipes online. O detalhe é que na época a banda larga no Brasil deixava muito a desejar, e pouquíssimos contavam com uma conexão de qualidade a ponto de ver vídeos em streaming. Talvez entendendo o equívoco que fora cometido o canal chegou ao equilíbrio entre atrações musicais e não musicais, no último caso, dando ênfase ao humor, com muito êxito.

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É sabido que o grupo Abril passa por uma fase de corte nos gastos, por isso vai abrir mão de possuir os direitos sobre o canal no território nacional, mas esse anúncio do fim da MTV como conhecemos (perderá o Brasil do nome) também tem gerado uma discussão sobre a relevância do canal nos dias de hoje. A MTV é vista atualmente por muitos como um fóssil remanescente da época em que a indústria fonográfica faturava alto e investia pesado em videoclipes super produzidos para divulgar seus artistas. Claro, não é mais preciso sintonizar a TV e esperar pelo seu clipe favorito, você pode assisti-lo na internet a hora que quiser.

Mas, e quanto àquelas bandas que ninguém conhece, ou por serem muito antigas ou muito alternativas? Esse deveria ser o papel da MTV, apresentar essas bandas e artistas para o público jovem, mostrar a produção musical fora do eixo EUA/UK, e mostrar o que é feito na Ásia (como faz o canal Play TV, em uma faixa que exibe clipes de artistas nipônicos), no Leste Europeu e na América Latina, pois temos pouquíssimo conhecimento da cena musical “hermana”. Pelo contrário, a emissora continuou se coadunando com o esquema jabazeiro da época de seu nascimento, exibindo o mais do mesmo que pode ser visualizado fartamente nos youtubes da vida. Como resultado, ficou literalmente para trás e, infelizmente, ao que tudo indica, a nova MTV será uma xerox da matriz, pálida, sem personalidade e (quase) sem música. Uma pena. Descanse em paz.

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