Já houve um tempo em que a chamada MPB era o que havia de mais pop no cancioneiro tupiniquim. Nesse panorama do passado se inserem nomes representativos (para além de nichos musicais) como Novos Baianos a Wilson Simonal, passando por Cazuza.
Tulipa Ruiz pode se encaixar nesse ínterim entre duas propostas musicais que são uma espécie híbrida de personalidade musical, e que hoje em dia estão meio borradas. Depois de dois bons trabalhos iniciais – onde conseguiu a façanha de impor seu nome e trabalho no mercado tão complicado – ela agora se reinventa com o ótimo terceiro álbum Dancê.
Trata-se de um trabalho que se propõe a “ser um disco dançante, no sentido de fazer o ouvinte celebrar com o corpo“, segundo a própria cantora. A pulsação da grande maioria das canções já indica isso. Mas Dancê é muito mais um álbum em que o movimento é traduzido em versatilidade. Versatilidade essa que se revela tanto na extensão vocal, quanto nas performances vívidas e dramáticas em seus shows de turnê.
O CD já abre com o pé na porta com a ultra pop “Prumo“, decodificando os melhores maneirismos do gênero e do jeitinho Tulipa de interpretar. Assim como a bem sacada “Proporcional“, música que brinca com a desproporcionalidade física de uma relação.
E segue demonstrando o prestígio da cantora, tendo a participação inusitada de João Donato em “Tafetá“, do produtor Kassin na metalinguística “Físico” e até do cultuado trio Metá Metá na intrigante “Algo Maior“.
Como é de costume em seu trabalho, Tulipa canta boas composições – preste atenção no que a excelente “Jogo do Contente” pode fazer por um verso cujo refrão diz apenas que “o estímulo influência” – em sonoridades entre o cool moderninho e as referências passadas. Por isso que seu legado se solidifica cada dia mais diante desse talento em fazer de vertentes uma identidade. Só de saber que suas inquietações musicais rendem maravilhas como esse trabalho, já podemos sair dançando por aí. Viva Tulipa!!!
que bacana, vou escutar