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Paralamas e Capital Inicial confirmam que o prazo de validade do Rock Brasil está longe de expirar

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Enquanto ainda não temos uma geração de bandas dos anos 2010 sedimentada enquanto movimento tomando as paradas de sucesso (Suricato e O Terno são as que estão mais próximas do mainstream), a geração 80 continua arrastando multidões e lotando casas Brasil afora. Tanto que em uma sexta feira chuvosa no Rio – cidade em que as pessoas evitam sair ao sentir mais de dois pingos d’água caindo – a Fundição Progresso estava com sua lotação praticamente esgotada para receber o super combo Paralamas do Sucesso e Capital Inicial , duas bandas que nunca saem de moda, apesar dos mais de 30 anos de estrada de cada uma.

A prova da perpetuação do sucesso é a mistura de faixas etárias presente na casa situada na Lapa: de cinqüentões que bateram cabeça no Crepúsculo de Cubatão (mítica casa noturna point de roqueiros na cidade nos anos 80) à garotada com toda a discografia das duas bandas disponível no hd ou em serviços de streaming, e acostumada a ver seus covers nos bares de rock. E no meio, servindo como ponte entre as duas gerações os trintões da geração Acústico MTV, show promovido pela extinta MTV Brasil, com artistas tocando seu repertório desplugado, uma versão brasileira do Unpulgged da matriz norte-americana. Ambas as bandas tiveram grande êxito na virada dos anos 90 para os 2000 com o CD gravado do especial (naquela época em que disco vendia), sobretudo o Capital Inicial, que entrou, com quase vinte anos de atraso para a primeira divisão do rock Brasil.

O Paralamas abriu os trabalhos da noite. Na verdade, o power trio formado por Bi Ribeiro (baixo), Herbert Vianna (voz e guitarra) e João Barone (bateria) já entrou com o jogo ganho, como tem sido nos últimos 25 anos. Bem diferente daquele primeiro Rock In Rio de 1985 em que tiveram que lidar com a ferocidade das latas arremessadas por quem estava ávido para ver as atrações gringas. Inclusive, o esporro de Herbert naqueles mal comportados vale à pena ser procurado no youtube. Mas avançando para 2015, o cenário é completamente distinto. Gozando do status de dinossauros, e com um novelo de sucessos só mesmo desconhecidos por quem não é do Brasil ou passou muito tempo bem longe daqui, ficava até difícil selecionar o que tocar em uma hora e meia do show, que iniciou com ‘Alagados’, do clássico “Selvagem?” de 1986, considerado até hoje o melhor da banda.

A proposta do show é um passeio pela carreira da banda, em clima de viagem no tempo, da mesma forma que fizera o Rush com a turnê Time Machine, que passou pelo Brasil. Isso a reboque da caixa 1983-2015, que traz todos os discos lançados ao longo desse tempo. Daí, não faltaram as velhas de guerra, mas sempre com sabor fresco ‘Cinema Mudo’, ‘Vital e sua Moto’, ‘O Beco’, ‘A Novidade’, ‘Melô do Marinheiro’, ‘Meu Erro’ e ‘Óculos’. Assim como os clássicos um poço mais recentes como ‘Lourinha Bombril’, ‘La Bella Luna’ e ‘Calibre’.

No telão, cada música era apresentada com seu respectivo disco e ano, seguida de imagens do arquivo da banda. A excelência técnica do trio fica só mais evidente com o passar dos anos, não à toa estão sempre relacionados nas listas de melhores do Brasil em seus respectivos instrumentos. E ainda são amparados por uma competentíssima banda de apoio liderada pelo legendário João Fera nos teclados. A despedida se deu com o cover de Que País É Esse da Legião Urbana, que foi o carro chefe do acústico gravado três anos depois da morte de Renato Russo. E os três saíram de cena levantando a bola para a atração seguinte. Aparentemente ficaria difícil para o Capital subir ao palco após o desfile de sucessos contagiantes do Paralamas, mas a banda brasiliense também tem repertório e o que não faltou foi hit.

Logo no início o quarteto formado por Dinho Ouro Preto (vocal e violão), os irmãos Fê  (bateria) e Fávio Lemos (baixo) e Yves Passarelli (guitarra) já deu o recado de que não deixaria o clima esfriar na primeira música ‘Respirar Você’, com direito a mosh de Dinho. Logo em seguida veio ‘Quatro Vezes Você’, do disco “Rosas e Vinho Tinto” de 2002. O estilo do Capital no palco é mesmo jogar para a plateia, durante boa parte do show, Dinho segura nas mãos dos fãs e conversa com o público entre uma música e outra. Ele tem ciência de que não possui a mítica de Cazuza, não é santificado como Renato Russo, então sempre contou com sua “gente bonice” para arrebanhar seus fiéis. A banda hoje conta com um guitarrista de apoio Fabiano Carelli e o tecladista Robledo Silva, que dão estofo ao som e ainda fazem backing vocal.

É nítido que o Capital ainda goza do prestígio adquirido após o Acústico MTV de 2000, e muitas das músicas do repertório são dessa fase em diante como o cover de ‘Primeiros Erros’ de Kiko Zambianchi, ‘Natasha’, ‘À Sua Maneira’, ‘Não Olhe Pra Trás’ e ‘Eu nunca Disse Adeus’, além das canções do novo trabalho, o EP “Viva A Revolução”, como ‘Melhor Do Que Ontem’ e ‘Coração Vazio’. Mas clássicos oitentistas não podiam ser esquecidos, estavam lá ‘Indenpendência’, ‘Fogo’ e um set matador com músicas concebidas ainda na época do Aborto Elétrico, banda de Brasília que já teve Renato Russo nos vocais e originou o Capital. Nessa sequência entraram ‘Música Urbana’, ‘Veraneio Vascaína’, que Dinho dedicou à truculência policial, ‘Geração Coca Cola’, que ganhou fama com a Legião e ‘Fátima’, com direito a mais um mosh de Dinho, dessa vez quase até o meio da plateia, dentro do espírito pós-punk da fase inicial do Capital, ali por meados dos 80.

E nas mais de duas horas de rock n’ roll ainda teve parabéns para o baterista Fê, que fazia aniversário naquela noite e até cover de ‘Mulher de Fases’, da banda conterrânea e da geração seguinte, os Raimundos. Porém, quem esperava uma jam com as duas bandas, como costuma ocorrer nessas dobradinhas, infelizmente saiu frustrado, nenhum integrante dos Paralamas voltou ao palco no show do Capital.  Em suma, a noite da última sexta feira apenas mostrou os quão enganados estavam aqueles que viam o rock Brasil dos anos 80 como uma moda passageira. 30 anos se passaram e o prazo de validade ainda não expirou.

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