Música

Paul McCartney volta, fazendo o que sabe

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O ano de 2013 na Música pode ser lembrado como o ano da volta de David Bowie e do retorno de Paul McCartney. Bom, no que diz respeito ao primeiro, de fato foi uma volta, pois estava há 10 anos sem lançar um álbum e há sete sem sequer aparecer publicamente.
Já McCartney está lançando seu primeiro disco de inéditas em seis anos, o último foi Memory Almost Full, de 2007. Seu último registro em estúdio foi Kisses On The Bottom, que reunia Standards do cancioneiro romântico. Porém, o mais profícuo dos ex-Beatles nunca saiu de cena; está em uma turnê há cinco anos que apenas muda o nome a cada ano, vira e mexe aparece em shows conjuntos com vários artistas ou cerimônias, como a de abertura dos jogos Olímpicos de Londres ou o jubileu da Rainha Elisabeth e, dizem, vai tocar na abertura da copa do mundo no Brasil ano que vem. Se tivesse uma bola de cristal quando compôs When I’m Sixty Four, faixa de Sgt Pepper’s, veria que o futuro que lhe aguardava era bem diferente daquele pacato senil vislumbrado na letra da música, que dizia “When I get older losing my hair, Many years from now. Will you still be sending me a Valentine. Birthday greetings bottle of wine. If I’d been out till quarter to three. Would you lock the door. Will you still need me, will you still feed me, When i’m sixty-four.” (“Quando eu ficar mais velho, perdendo meus cabelos. Daqui a muitos anos. Você ainda irá me mandar presentes no dia dos namorados. Saudações no aniversário, garrafa de vinho? Se eu estiver fora até quinze pras três. Irá trancar a porta? Você ainda irá precisar de mim, ainda irá gostar de mim. Quando eu estiver com sessenta e quatro?”)

paul-mccartney-new-album-1381250075Paul está vivo, e, aos setenta anos, com vitalidade de garoto, entrega às lojas um disco de rock como ele sempre soube fazer, e bem. New (Hear Music/2013) traz doze faixas ao longo de 46 minutos e 06 segundos sem mexer em time que está ganhando. É o velho Paul sim, reconhecível no primeiro acorde da primeira faixa Save Us, energética, fiel ao seu estilo, porém olhando para frente. De tão contemporânea, soa até como bandas atuais (que foram influenciadas por ele). Claramente um empurrãozinho do produtor, que geralmente gosta de colocar um artista veterano up to date em cada novo trabalho. Como o disco foi produzido por Mark Ronson (Amy Winehouse, Lilly Allen e Bruno Mars no currículo), Ethan Johns (Kings of Leon, Kaiser Chiefs, The Vaccines) e Paul Epworth (Foster the People, Adele e Florence and the Machine) é natural que um certo frescor tenha sido injetado na sonoridade das faixas.

Mas aquela deliciosa melodia beatles que que todos adoramos também se encontra ali em estado puro, sem muitas intervenções como em Aligator, On My Way To Work, Queenie Eye que lembra a fase circense de 67 do quarteto de Liverpool. O primeiro single New, outra que lembra a fase mais madura (e melhor) dos Beatles, mostra Paul, considerado um eterno jovem, olhando para trás, quando era novo, “You came along and made my life a song / One lucky day, you came along / Just in time, while I was searching for a rhyme / You came along, then we were new” (Você chegou e fez da minha vida uma canção / Num dia de sorte, você chegou / Bem na hora que eu estava procurando por uma rima / Você chegou, quando éramos novos) e vendo que a essa altura da vida certos pudores e precauções já não fazem mais tanto sentido, quando diz “We can do what we want / We can live as we choose / You see there’s no guarantee / We got nothing to lose”  (Podemos fazer o que quisermos / Podemos viver como nós escolhemos / Você vê que não há nenhuma garantia / Não temos nada a perder). Everybody Out There já lembra mais a fase solo e Wings, assim como I Can Bet. Looking at Her volta a remeter aos anos sessenta, porém com adornos sonoros modernos, mas que não comprometem a nostalgia.

Em suma, New é um disco de Paul McCartney que todos esperavam, e, sem dúvida, ele gravou se divertindo, como em seus shows. O disco é uma mostra de que a aposentadoria do eterno garoto de Liverpool ainda está muito longe de acontecer. Merecem também atenção as faixas extras da edição deluxe, que não fariam mal nenhum se tivessem entrado na edição simples. E para os mais fanáticos, ainda há uma edição de luxo limitada trazendo além da edição deluxe, uma edição mono em vinil de RAM, o melhor trabalho solo de Paul. Um mimo e tanto!

[xrr rating=3.5/5]

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