Pearl Jam sacia os fãs cariocas com show vigoroso

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O cenário não era nem um pouco diferente do de dois anos e três meses atrás. Maracanã cheio (mas não com lotação esgotada), com milhares de fãs ávidos para ver (ou rever) o maior nome do grunge de Seattle em atividade. Diferente mesmo só o dia da semana (uma quarta-feira). Para quem gosta de estatística, é a primeira vez que o Pearl Jam não toca no Rio em um domingo. Assim como das duas primeiras vezes (2005 e 2011) não tinha disco novo para divulgar. Então Eddie Vedder & Cia ficaram à la vonté para desfilar hits, lados b e covers. Isso ao longo de vigorosas  2 horas de 45 de rock. Os dois primeiros discos (“Ten”, de 1991 e “Vs”, de 1993) e “Yeld” (de 1998) predominaram no repertório. Do último trabalho, “Lightning Bolt”, entraram apenas duas.
O PJ entrou com um certo atraso. Eram 21h24 quando se ouviu ‘Metamorphosis Two’, de Phillip Glass, no sistema de som. O show estava programado para as 21h. Às 21h28 a banda entra no palco e inicia a apresentação com ‘Release’, a última faixa do primeiro (e melhor) disco. De uns tempos para cá tem sido escolhida uma música mais “calminha” para abrir os trabalhos. Só que dessa vez mantiveram o clima intimista nas seguintes, ‘Low Light’ e ‘Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town’.a primeira do “Vs” na noite. Quando o público começou a estranhar a falta de guitarra alta, vieram os petardos ‘Go’, ‘All Night’ (da compilação de faixas inéditas “Lost Dogs”) e ‘Animal’.
Em seguida, Vedder empunhou sua fiel garrafa de vinho (bebida preferida do vocalista), para delírio dos fãs. Disse o quão feliz estava em voltar ao Brasil e o quanto estava com saudade. Foi a deixa para outra da lista de favoritas do público, ‘Given to Fly’, do “Yield”, que foi seguida de outra faixa desse álbum, ‘In Hiding’. Essa última entrou no lugar de ‘Faithful’.
A aparição de ‘Jeremy’ no terço inicial do show foi uma surpresa. O clássico costuma vir sempre ali pelo final. Nesse momento, Vedder desceu ao pit para um contato bem próximo com o gargarejo. A música formou uma trinca matadora com ‘Corduroy’ e ‘Even Flow’. Para diminuir um pouquinho e deixar o público respirar, entrou ‘Immortality’. A seguinte, a bela ‘Wishlist’ , foi dedicada aos amigos do Red Hot Chilli Peppers, que estarão com o PJ no Lollapalooza em São Pulo nesse final de semana.
Daí, um espaço para as duas únicas músicas de “Lightning Bolt”, ‘Mind Your Manners’ e a faixa título. Após ‘Garden’, mais uma do “Ten”, Chad Smith, baterista do Red Hot Chilli Peppers, que tinham sido lembrados a pouco, subiu ao palco para uma participação especialíssima. Em um kit básico de percussão, ele participou de ‘Can’t Deny Me’, nova faixa que o Pearl Jam lançou a poucos dias. A primeira parte do show se encerrou com mais uma do primeiro álbum, ‘Porch’.
A segunda parte do show foi aberta por ‘Sleeping With Myself’, do trabalho solo de Eddie Vedder. Em seguida, a primeira execução de ‘Inside Job’ nessa turnê. Voltando aos clássicos, o script foi seguido à risca. A balada ‘Daughter’ como sempre teve uma recepção entusiasmada e ‘Do the Evolution’ fez o público pular muito. ‘Black’ foi o momento em que as luzes dos celulares nas arquibancadas deram show fazendo o efeito constelação. O cover de Edward Holland Jr. ‘Leaving Here’ foi dedicado às mulheres e aos homens fortes o bastante para ajudá-las na luta por igualdade. Isso dito no português macarrônico de Vedder já com a fala ligeiramente embolada pelo efeito do vinho. É curioso como ele consegue terminar o show com tanto vinho nas ideias.
A vigorosa ‘Blood’ precedeu a última balada da noite, ‘Betterman’. Com direito a snipets de ‘I Wanna be your Boyfriend’ do Ramones e ‘Save it for Later’ do The Beats. O clássico absoluto (e obrigatório) ‘Alive’ trouxe outro membro dos Chilli Peppers ao palco, dessa vez o guitarrista Josh Klinghoffer. Ficou a cargo dele o solo de guitarra do final da música. E se saiu bem! A essa altura as luzes da casa se acenderam. Certamente programadas para o horário estimado de término do show. Só que ainda vinha mais música. ‘Rocking With the Free World’ – cover de Neil Young tão atrelado ao Pearl Jam quanto ‘Knocking on Heaven’s Door’ de Bob Dylan ao Guns n’ Roses – contou com um histórico crossover da banda de Seattle com metade do RHCP. Josh continuou no palco e Chad assumiu a bateria principal no maior clima de farra.
‘Yellow Ledbetter’ fechou a noite que, como das vezes anteriores, deixou os fãs exaustos após à maratona, porém saciados e já ansiando pela próxima vez. Foram 29 músicas e poderiam ser 30 (‘Reviewmirror’ estava no setlist mas não foi tocada). Depois de 27 anos, sem muitas alterações na formação, era de se esperar esse perfeito entrosamento entre Stone Gossard (guitarra de base), Mike McCready (afiadíssimo na guitarra líder), e a eficiente cozinha de Jeff Ament (baixo) e Matt Cameron (bateria).
Eddie Vedder continua com o vozeirão intacto e defendendo o título de maior vocalista do rock em atividade. Por ter sido um show só deles e não dentro de um festival, houve um clima de descontração que o tornou memorável. Mesmo sem muitas novidades ou surpresas no repertório (quase todas as músicas já haviam sido apresentadas ao vivo aqui outras vezes) teve sim um frescor como se fosse o primeiro.

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