Public Enemy mostra que ainda é a grande referência do rap em Man Plans God Laughs

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Antes do Gangsta Rap dos anos 90 e do rap ostentação do século XXI, havia o rap consciente e de cunho político-social do Public Enemy. O grupo era a principal referência do gênero que começava a desfrutar do status na cultura pop que possui até hoje.

Os clássicos álbuns It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back, e Fear the Black Planet, que vinha puxado pelos hinos ‘Power to the People’ e ‘Fight the Power’, fizeram com que as gravadoras olhassem seriamente para aquela música negra, até então vista com certo desdém, mas que já chamava a atenção da mídia branca depois que o Run D.M.C. gravou uma versão de ‘Walk This Way’ do Aerosmith com participação de Steven Tyler e Joe Perry.

Porém, como tudo que chega ao mainstream, aquela expressão artística tipicamente urbana, oriunda dos guetos segregados, foi sofrendo uma diluição descaracterizando sua essência contundente e ao mesmo tempo cínica e debochada, assim como aconteceu com o rock. O que era uma poderosa arma de conscientização de uma minoria étnica, em um país onde a questão racial é uma bomba relógio, se transformou em autoafirmação pueril.

Felizmente o Public Enemy, assim como os Rolling Stones, ainda está em atividade não nos deixando esquecer da autenticidade de seu gênero. E é disso que trata Man Plans God Laughs (SPIT/ 2015): autêntico rap como se fazia no início dos anos 90, cínico, agressivo, politizado e apontando a mira para as mazelas do sistema opressor, no melhor estilo “a melhor defesa é o ataque”.

pe2Em recente declaração Chuck D falou que aos 55 anos está mais sensível e isso se reflete na seriedade do novo trabalho. Mas a tenacidade pode ser vista claramente já no título da primeira faixa, ‘No Sympathy For The Devil’ – que também é uma referência a ‘Sympathy For The Devil’ dos Stones. A faixa é seguida dos pancadões ‘Me To We’ e a faixa título. Há também autorreferências, como bases sampleadas de Nation of Million citação de letras e trompete tirado de The Bomb Squad, mas não se pode acusar de falta de criatividade ou reciclagem. É apenas um tributo ao peso da fase pretérita do grupo.

Os Stones são lembrados mais uma vez na ótima ‘Honky Talk Rules’, que remete a ‘Honky Tonk Women’ no título e também no uso do clássico como base sampleada. A produção ficou a cargo de Gary “G-Wiz” Rinaldo, antigo colaborador do PE e de trabalhos solos de Chuck D. Ele trabalha a equação que deixa a sonoridade atual, mas sem macular a identidade, garantido o peso sentido em faixas como ‘Give Peace a Damn’ e ‘Those Who Know Kow Who’. Por fim, Man Plans God Laughs não traz inovação, mas isso não importa. É um belo trabalho de resistência, comprometido em garantir a perpetuação da relevância do gênero.

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