O rapper paulistano Pregador Luo está com seus primeiros doze álbuns, lançados nos primeiros 14 anos de carreira, entre 1998 e 2012 chegando às plataformas de streaming, em distribuição da Universal Music Christian Group. Cristão, ele aborda em suas letras as injustiças sociais e a espiritualidade. Em coletiva de imprensa via Zoom, mediada pela Universal, Luo respondeu à Revista Ambrosia sobre o atual momento da luta contra o racismo e como está impactando sua arte.
“Eu tenho constantemente visto pessoas nas redes sociais, no Instagram, que é a que eu mais olho, e muitos negros americanos ativistas, músicos, políticos falando ‘olha, não é porque você não está mais vendo cenas de racismo passando no seu feed, na sua timeline que ele acabou. Pelo contrário, a gente está aqui para te lembrar que ele existe’. E parece que toda vez que acontece alguma coisa que gera uma overdose na mídia, ela passa um tempo parece que não quer mais falar, porque parece que o assunto encheu o saco.”, disse.
Luo afirma que não tem sofrido o racismo como no passado, mas ressalta que ele continua existindo e pessoas continuam sendo espancadas. “A gente viu agora, há menos de um mês, uma mulher que o policial pisou no pescoço dela, quebrou a perna dela, e ele ainda mentiu, falou que eles tinham sido atacados com barras de ferro, quando na verdade mostrou um vídeo ela tinha pegado um rodo e tentou bater com um cabinho de rodo no cara, porque ele estava enforcando, arrastando pelo pescoço, e essa violência policial, que na verdade tem base não só no consentimento do Estado, do governo federal, do governo estadual, dos municípios, você vê que até as guardas municipais também se portam assim às vezes.”
“Teria que haver não só uma conscientização tipo, todo mundo ficar bonzinho do dia par a noite? Isso não vai acontecer.”, observou. “Tinha que ter uma lei que realmente coibisse punisse severamente pessoas que cometem atitudes como essa. Quando aconteceu essa fatalidade aqui, mais de uma, o governador falou que ia punir, e não aconteceu nada. Alguns nem foram exonerados. Ficaram só talvez afastados do cargo por um momento, quando pessoas assim têm que ser presas. Eles estão sendo nossos inimigos, nossos inimigos no poder, e eu não posso generalizar. Não posso falar que é todo mundo, todo policial, mas a maioria desses problemas vem por conta da polícia. Não é uma atitude isolada. Então não é um número tão pequeno de policiais quanto o governo diz que é.”
Sobre a onda de protestos contra o racismo, ele acredita que deva continuar. “Eu acredito que as medidas seriam continuar protestando, continuar falando, continuar deixando isso claro aos olhos das pessoas. Brigar, fazer alguma frente, brigar por leis mais severas, que realmente vigorassem.”
Como o tema incide em seu trabalho ele respondeu: “eu já falo disso desde sempre, né? Eu venho com esse estigma desde moleque, meus ancestrais carregaram isso, eu passei por isso, ainda hoje se vacilar, é capaz dos caras me apavorarem, como já apavoraram a troco de nada. E estar bem ciente de que não é só também uma questão da polícia. É uma questão que está na sociedade. A gente pode ver isso em qualquer lugar, você pode ir no mercado e ser mal atendido por um gerente, ir ao shopping e a pessoa que está, de repente, na fila do cinema te tratar mal por conta da sua etnia, da sua cor.”
“Eu já abordei isso várias vezes e tenho pensado em como abordar de uma maneira mais simbólica, ainda mais forte, contundente. Talvez fazer um álbum totalmente dedicado a isso. Mas a gente também passa por um problema aqui no Brasil, o jovem não está tão preocupado com consciência. Ele vai ouvir um cara como eu, dizendo ‘não vamos ser racistas’, ‘a história do negro no Brasil é essa aqui’, ou vai querer ouvir ‘vamos fumar, vamos beber, vamos pegar as cachorras‘? Fica complicado na hora de compôr.
Porém, eu não posso ficar pensando nisso. Tenho que levar adiante o meu discurso, aquilo que eu acredito e que eu acho que vai ser benéfico. Mas a gente esbarra em outro problema: boa parte dos negros no Brasil não estão preocupados com essa questão. Parece que não é com eles. Por exemplo, eu sou um negro de pele um pouco mais clara. Mas para mim eu sou negro. Agora, a galera da periferia está se deixando levar muito por essa coisa de ‘ah, você é moreninho, você é pardo. Então se eu não sou assim eu não sou negro. Se eu não sou negro eu não sou tão ruim. Aí o cara se desvincula e a gente perde como unidade. Perde força como um povo que precisa ser reconhecido, respeitado e ter o que é de direito na sociedade em que a gente vive.”
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