O Arcade Fire mostrou esse ano que é uma banda de coragem. Assim como Daft Punk e o MGMT, a banda radicada no Canadá (que na verdade tem quase todos os integrantes americanos) nadou contra a tendência do mercado fonográfico atual. Em uma época em que o disco físico está se tornando cada vez mais um fetiche para colecionadores (os verdadeiros amantes da música) e menos uma plataforma de consumo de massa. O Arcade Fire não está nem aí. Reflektor (Virgin/EMI, 2013) é um disco concebido para ser consumido como um álbum, e não um amontoado de singles avulsos reunidos como uma coletânea. Assim como o Daft Punk lançou este ano que finda um disco conceitual e o MGMT lançou um trabalho com “lado A” e “lado B”, Win Butler, Regine Chassagne, Will Butler e Cia tiveram a audácia de lançar um álbum duplo. E que álbum!
Reflektor mostra a banda mais madura, segura e ousada, não só no conceito do álbum, mas nas composições. Parece que a necessidade de ser absorvida pelas rádios mainstream que vimos em The Suburbs ficou definitivamente para trás. Em vez de seguir uma linha radiofônica, que parecia ter se iniciado no álbum anterior, o grupo deu uma guinada oposta. O disco já abre com uma faixa escondida que se chama…Hiden Track. São dez minutos instrumentais com muito experimento. Logo na sequência (as músicas são praticamente continuidade umas das outras) entra a faixa título, escolhida para ser o primeiro single. Com certeza é a mais acessível do disco comercialmente falando. Não que as outras sejam difíceis de assimilar, mas de certo não cabem nas FMs e MTVs da vida.
O novo álbum traz o elemento dançante, que sempre fez parte da sonoridade da banda,de forma mais acentuada. O estilo da banda é perfeitamente reconhecido nas faixas, com suas referências à New Wave, pós-punk e à dance music dos anos 80. Joy Division, Echo & the Bunnymen, David Bowie, Björk, Pixies continuam sendo as mais fortes influências.
O disco dois traz a faceta mais etérea e sofisticada do conjunto. Se inicia com a parte II de Here Comes the Night Time, a bela faixa 4 do disco 1. Em seguida vem a belíssima Awful Sound (Oh Eurydice) e sua cara-metade It’s Never Over (Oh Orpheus). Assim como a abertura, o encerramento também se dá com uma faixa longa e experimental, em sua segunda metade. O disco traz uma sonoridade tão rica que chega a ser injusto ser ouvido em um mp3 player. A audição necessita de um aparelho de som. A música do Arcade Fire sempre demandou propagação no espaço. E para aqueles que não dão a mínima para a arte de capa de um disco, a banda também virou as costas e veio com uma bela capa que, óbvio, é melhor apreciada na versão vinil do álbum, mas em cd também tem seu charme.
Em suma, Reflektor não é o melhor disco do Arcade Fire. Este título ainda pertence ao debut da banda, Funeral. Seria para o Arcade o que o álbum branco foi para os Beatles ou o Sandinista foi para o Clash. Aquele disco que, apesar de um ou outro deslize, natural devido à longa duração, sem sombra de dúvidas é o mais audacioso artisticamente, e esse é seu grande mérito. Em abril a banda estará no Brasil para uma apresentação no festival Lollapalooza em São Paulo. Promete ser um épico.
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