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The Book of Souls mostra Iron Maiden em projeto ambicioso

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Considerado hoje o mais relevante dos pilares do Heavy Metal, o Iron Maiden surgiu na Londres de 1976, em meio à chamada New Wave Of British Metal ou , em português, Nova Onda do Metal Britânico. Tratava-se de um movimento musical da segunda metade dos anos setenta que visava recuperar o prestígio do som pesado no Reino Unido, quando Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath estava perdendo holofotes para o punk e a disco. As bandas da NWOBM baseavam sua sonoridade no que era feito pelo Zeppelin e o Purple, mas suprimindo o elemento do Blues e acrescentando mais aceleração e ainda mais peso, resultando em uma versão ainda mais agressiva do som que o Sabbath fazia. Dessa leva de bandas saiu o Venom, o Saxon e o Iron Maiden, ainda com o vocalista Paul Di’Anno.

Quando este deixou o grupo em 1982, assumiu os vocais Bruce Dickinson, vindo de uma outra banda do movimento, o Samson. Dickinson passou a ser a voz mais marcante e a presença mais carismática à frente da banda, tanto que sua volta em 2000, depois de sete anos afastado, foi incessantemente comemorada pelos fãs na época. Hoje o Iron goza de imenso prestígio e poderia viver apenas de turnês e discos concebidos apenas para impulsioná-las, mas resolveu enveredar por um ambicioso projeto às vésperas de completar 40 anos de carreira e 30 depois da primeira visita ao Brasil, no antológico show no primeiro Rock In Rio.

“The Book Of Souls” (Parlophone, 2015) é um álbum audacioso. Em um momento em que não só as vendas de disco físico estão minguadas, como o conceito de álbum está praticamente em desuso, a donzela de ferro rema contra a maré e lança um disco duplo com músicas longas e elaboradas, no melhor estilo das grandes bandas dos anos 70.

Esse novo trabalho vem imbuído da vibe progressiva insinuada em Somewhere In Time, de 1986, e acentuada em Seventh Son Of A Seventh Son, de 1988. Esse espírito fica nítido logo na primeira faixa, ‘If Eternity Should Fail’, e até mais sedimentado em ‘The Great Unknown’, na faixa título e Shadows of the Valley, que vem introduzida por um riff de guitarra que remete à ‘Wasted Years’ de “Somewhere”.

Há também rocks de arena como ‘Speed of Light’, a faixa escolhida para ser o primeiro single (até por ser uma das poucas com duração abaixo de seis minutos), ‘When the River Runs Deep’ e ‘Death or Glory’.

A terceira faixa do disco 2,‘Tears of the Clown’, é uma homenagem ao ator Robin Williams, que se suicidou ano passado. Escrita por Steve Harris e Dave Murray, a música fala sobre o paradoxo da alegria que o comediante proporcionava ao público com sua tristeza interior.

‘The Empire of the Clouds’ fecha o disco com inacreditáveis 18 minutos de duração, praticamente uma opereta metal que deixa a quilométrica ‘Rime of the Ancient Mariner’ do álbum “Powerslave” parecer uma canção breve. Adornada por cordas e piano, é provavelmente o maior delírio prog que o Iron já produziu.

Mas tirando todo esse verniz, é a banda como sempre a tivemos; estão lá o baixo de  Harris e a bateria de Nicko McBrain funcionando como vasos comunicantes na tradicional marcação de cavalaria, os riffs rockarolla de Janick Gers, com o amparo das outras duas guitarras de Murray e Adrian Smith. E Dickinson continua cantando como sempre, alcançando suas altas notas características, desempenho que poderá ser conferido em março do ano que vem, quando a banda virá ao Brasil, agora que o vocalista felizmente se curou do câncer na língua que deixou todos os fãs preocupados.

Seria ousadia demais da parte do sexteto fazer um show com a maior parte do repertório tomado por músicas desse novo álbum, certamente irão escolher as mais curtas, ou melhor, menos longas, para figurar entre os clássicos imbatíveis. Mas é bom ver a donzela de ferro mostrando que seu prazo de validade ainda está longe de expirar.

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