Era uma necessidade ver de perto esse fenômeno chamado Beyoncé. E o que vi (e vi bem de perto) é que tudo ali é legítimo: a sensualidade, a voz e o sólido domínio cênico. Seu show (em turnê pelo Brasil, passando por Rio (Rock in Rio), São Paulo e outras cidades, tem a estrutura muito difundida por Michael Jackson e Madonna, talvez se excedendo um pouco demais nas interferências do telão (que vale dizer, era muitíssimos bem filmados e fotografados. Impressionante!). Mas o diferencial de Beyoncé é a voz. Ela canta que é uma beleza. E canta, exalando uma sensualidade natural, mesmo dentro de uma estética de femme fatale pós-moderna, pulverizada de forma massante na cultura POP. É parte da The Mrs. Carter Show World Tour – uma referência ao marido Shawn Carter, o rapper Jay-Z – iniciada oficialmente em abril na Sérvia e com bilheteria milionária.
O show é uma aula de espetacularização. É Broadway, é Vegas, é Motown. À luz, impõe-se como num assombro. O som, de altíssima qualidade. E sua banda (integralmente feminina) têm uma precisão técnica invejável. Uma big band com energia sonora correspondente ao espetáculo que configura. Ela começa com Run the world, numa quase dicotomia com o nome do show, “submetida” a dinastia do marido. Adentra com imponência monárquica, mas de virulência (e figurino) sexy. If I were a boy (que usa a melodia de Bittersweet symphony, composta por Mick Jagger e Keith Richards e tornada famosa pelo The Verve) é outro bom momento do show, mais uma vez mostrando que a cantora anda investindo em mash-ups espertos como outrora fez com You Oughta Know de Alanis Morissete.
Beyoncé teve seu momento “homenagem” ao cantar I will always love you, famosa na inesquecível voz de Whitney Houston. Sucessos como Crazy in Love, Single Ladies e Halo fizeram o público vibrar. Mas o ponto alto mesmo foi quando – no Rio e em Brasília – quebrou o protocolo e se deixou levar pelo fenômeno do passinho carioca, ao som de Ah lelek lek lek lek lek. Daí, entrou para a História da Cultura Popular dos Guetos. Pelo menos para quem até ali ainda sentia algum distanciamento. Ganhou o público brasileiro pela perspicácia e pela grandiosidade do que apresentou. Essa maestria é quase cultural numa realidade norte-americana e quando vista por prismas tupiniquins, o abismo é latente. Isso me abateu fortemente. Não consigo saber se esse preciosismo é um caminho alcançável ou um delírio “americanizado”. Essa resposta o mundo pode me dar. E é aí que começa uma violenta inquietação… Thanks, Beyoncé!
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