U2: No Line On The Horizon

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[artigo de Guilherme Barini]

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O ano é 1980. O U2 se reúne em estúdio para gravar o seu primeiro álbum que lhe daria alguma expressão musical. Bono perde o caderno com as letras das músicas e faz tudo de novo, na hora, com o que lembrava de cabeça. “Boy” foi lançado e “I Will Follow” foi o seu primeiro hit com certa projeção

Passados 29 anos desde a concepção do seu primeiro disco, a banda lança um trabalho ambicioso e que demorou muito (começaram em 2006, arquivaram tudo e começaram do zero com outra equipe de produção) para ser finalizado. Falo do novo álbum, “No Line On The Horizon”, o 12º disco da banda gravado em estúdio.

O álbum possui tudo aquilo que faz do U2 uma das maiores bandas do mundo. É um disco cheio de experimentalismos, no qual algumas canções tiveram o rock deixado de lado, mas que em sua maioria conseguem uma certa aprovação de quem já o ouviu atenciosamente.

Considerado um divisor de águas, NLOTH, como vem sendo chamado, foi comparado com o fantástico Joshua Tree e o inovador Achtung Baby, que provocou infartos nos fãs mais puristas da banda. Segundo o próprio U2, NLOTH reinventou o rock e mostrou ao mundo que a banda não parou no tempo.

Parafraseando o Lam: “O que eu acho”? Bom, eu sou fã da banda desde 1999, quando estavam no fim do POP MART. Meu primeiro álbum deles foi o Best of 1980-1990, cujas músicas me deram uma nova visão do que era rock. É um disco fantástico, que me fez buscar ainda mais para beber dessa fonte.

Infelizmente, a fonte havia secado. Os quatro rapazes de Dublin tinham derrubado a Árvore de Josué ao som de Achtung Baby. Tentaram replanta-la em 2000 e 2004, com All That You Can’t Leave Behind e o ótimo How to Dismantle An Atomic Bomb, mas ficou evidente que eles pararam por aí.

O rock deles não era mais o mesmo. Eram novos tempos para a banda. Outras tendências me mostraram que havia qualidade no que eles produziam, embora não fosse o meu estilo favorito. E, assim como eles, eu e mais milhões de fãs nos adequamos ao novo, mas sem abandonar o velho rock progressivo-alternativo já criado por eles.

NLOTH é uma mistura de estilos. O disco contém influências de rap, indie, pop, eletrônica, trance e mais um monte de outras tendências que um leigo como eu não consegue identificar. Isso não se aplica apenas às melodias: na canção “Moment of Surrender”, a impressão que eu tive foi que eles fizeram um apanhado geral de várias idéias e jogaram lá para escrever a letra. No clipe que foi ao ar no Fantástico, “Get on Yout Boots”, aparecem imagens que não tem, de forma direta, nada a ver com a música, inclusive uma delas com a marcação de um site ao qual ela pertencia. Esta, inclusive, não teve a aceitação tão boa por parte do público como esperado.

O resultado dessa mistura, por incrível que pareça, é bom. O “divisor de águas”, como foi prometido, é um álbum que se salva, não pelos terríveis agudos e uuuu’s do Bono, ou pela infinidade de instrumentos estranhos ao rock que foram inseridos nas músicas. O grande salvador da banda é o guitarrista David Howell Evans, também conhecido como The Edge. É dele a responsabilidade de colocar um basta no estrelismo do vocalista e mostrar que a sua guitarra ainda é o que a banda ainda tem de melhor.

Não vou discorrer sobre as músicas individualmente, mas vou dar alguns destaques:

O álbum possui duas canções de protesto, “White as Snow” e “Cedars of Lebanon” são socos no estômago do ouvinte, conforme minha opinião e da crítica especializada. Não por serem ruins: pelo contrário, são excelentes, e nos fazem pensar sobre a vida no melhor estilo “Sunday Bloody Sunday”.

A música título do álbum poderia estar no Zooropa. Não é inovadora e me lembra “Misterious Ways”. Apesar disso, possui uma qualidade insuperável, e serve para abrir o álbum de forma formidável, papel que “Vertigo” não soube desempenhar no disco anterior.

“FEZ – Being Born” e “I’ll go Crazy if I Don’t Go Crazy Tonight” são os destaques do álbum, juntamente com “Unknown Caller”, embora esta esteja aquém do meu gosto. Certamente serão as primeiras a serem apreciadas pelos fãs de longa data.

“Breathe” e “Moment of Surrender” não me descem. Parecem-me mais um chute bem colocado nas bolas. Já ouvi as músicas dezenas de vezes, e muito embora “Breathe” parece ter saído do “Boy”, a melodia não me agradou de jeito nenhum, embora figurem como favoritas dos fãs.

Em resumo, é um bom álbum. Embora cumpra um papel de mostrar ao mundo uma nova fase do U2, não chega aos pés de “Joshua Tree” e “Achtung Baby”. Comprei o meu no dia que saiu e escuto sempre que posso. Não é um álbum que tem uma canção que o fisgará de imediato, como “Beautiful Day” em All That You Can’t Leave Behind” ou “New Year’s Day” do “War”. É um álbum para ser absorvido com o tempo, em doses homeopáticas.

Pontos Positivos: The Edge na guitarra.

Pontos Negativos: O excesso de agudos e instrumentos eletrônicos.

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