Na tentativa de escrever um livro, uma mulher revisita o passado e busca reconstruir na memória as cenas de uma antiga relação amorosa. Obcecada pelos menores detalhes de cada episódio, ela se perde em dúvidas, se confunde, se trai, esbarra a todo tempo na imprecisão da história que deseja contar. A narrativa da personagem, que em parte aborda os dilemas íntimos do seu passado e em parte as dificuldades do processo de escrita do presente, é o que dá corpo a O fim da história, único romance da norte-americana Lydia Davis, autora mais conhecida por seus contos breves.
Davis é considerada uma das melhores contistas da atualidade, tanto que é atual vencedora de um dos mais importantes prêmios da área, o Man Booker International. Tradutora de renome, começou a escrever seus contos quando traduzia alguns clássicos franceses, em especial Proust, que desenvolveu uma de suas marcas de estilo: histórias muito curtas, muitas vezes compostas apenas de título e uma frase. Aqui, desenvolveu uma narrativa onde investiga filosoficamente, uma visão própria de mundo, como escritora, que será demonstrada ou negada no desenrolar da narrativa
O drama da narradora começa a ser apresentado pelo fim. Mas o fim não é, para ela, o momento do abandono e, sim, o da resignação. “Teria sido mais simples começar pelo começo, mas o começo não significava muito sem o que veio depois, e o que veio depois não significava muito sem o fim”, explica. A protagonista retorna então ao início da história, quando, recém-chegada a uma cidade costeira dos EUA, se apaixona por um homem 12 anos mais jovem. Ela é tradutora e dá aulas na universidade. Ele escreve poemas e ainda estuda.
Determinada a compreender o sentido real daquela relação, ela esmiúça as lembranças de cada encontro, interpreta as ações e reações do amante, examina a maneira como se sentia em sua presença e revive os dias em que, mesmo muito depois do término, saía para procurá-lo embaixo de chuva, o perseguia e insistia em conversas dolorosas. Aos poucos, entretanto, ela nota que os fatos lhe fogem e se rende às distorções da memória, colocando em xeque os limites que separam o que viveu do que criou.
A obra chega às livrarias brasileiras pela José Olympio.
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