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Poeta faz da Libras o idioma da literatura

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“Tudo o que a maioria das pessoas surdas querem é encontrar mais pessoas que saibam se comunicar com elas”. Assim começa a conversa com um jovem escritor mineiro que chama a atenção ao interpretar poemas contemporâneos com o idioma tradicional usada pelas pessoas surdas no Brasil, a Libras.
A primeira impressão, – pelo seu domínio da língua -, é que ele tivesse familiares ou amigos surdos e com isso, adquirido facilidade para comunicar-se com eles, mas não. A história de Guilherme é atípica e une o apreço por aprender com a paixão pela descoberta de um mundo novo.
Para o jovem Guilherme Aniceto, de 27 anos, a comunicação com as pessoas adquiriu encantos diferentes desde que, em agosto de 2018, passou a aprender Libras, a Língua Brasileira de Sinais. Morador de Itajubá, pequena cidade do sul de Minas Gerais, Guilherme, que é graduado em Administração de Empresas e possui dois livros publicados como poeta, viu no curso oferecido pelo seu local de trabalho, a Universidade Federal de Itajubá, uma oportunidade para expandir seus conhecimentos.
Até então ele não tinha contato com pessoas com deficiências e achou interessante, ávido por aprender, participar do curso oferecido pela universidade para a comunidade acadêmica.
Já a partir das primeiras noções, Guilherme passou a relacionar a Libras à outra paixão. Nascia daí seu canal na internet com interpretações de poesias na linguagem de sinais.
Em pouco tempo Aniceto já interpretou os poemas de vários poetas que ele encontra nas redes sociais. Sua opção por escritores contemporâneos tem uma razão de ser; acredita que com os vídeos está ajudando os escritores a continuarem e persistirem em sua escrita. O último agraciado com uma interpretação foi Tassio Ribeiro, também do interior mineiro.
Sobre a opção por utilizar a Libras em seus vídeos e as dificuldades em trabalhar a poesia em uma estrutura idiomática que também é recente a ele, o escritor é claro:
“Considero a Libras uma descoberta poética em si mesma, porque vale-se sobremaneira das expressões faciais e corporais para transmitir ideias. A Libras possui estrutura e gramática próprias, e a maioria dos surdos não é alfabetizada no bilinguismo. Ou seja, a maioria deles adquire fluência somente na Libras, motivo pelo qual é difícil para eles lerem poemas”, destaca o jovem.
Guilherme ainda pontua outros aspectos: “A poesia, tão cheia de metáforas e de significados que ultrapassam o dicionário, precisa ser interpretada, não somente traduzida para a Libras, por isso, escolhi a poesia. O processo de interpretar um poema me fascina”
Fazendo sucesso, cada vez que um dos seus vídeos é postado, são muitos os compartilhamentos e as curtidas. A receptividade na comunidade de pessoas surdas têm sido positiva.
“Olha, as pessoas surdas são bastante receptivas com meus vídeos, sempre comentam e esperam pelos próximos. É muito gratificante perceber que tenho conseguido alcançá-los, emocionalmente, com as minhas interpretações. Para mim, o resultado mais significativo é quando uma pessoa surda comenta que conseguiu compreender o sentimento por trás do poema”.
Como poeta:
Na condição de poeta, Guilherme tem dois livros publicados; “Nós Líricos”, (Editora LiteraCidade / 2015) e “Guerra” (Editora Penalux / 2017).  A Libras adicionou uma nova compreensão à sua produção: “com certeza agrega muito ao meu trabalho como escritor. Passei a ter mais noção de que a poesia precisa ser comunicável a todos os públicos. Não adianta escrever um poema repleto de termos difíceis de traduzir”.
A experiência deve pontuar sua vida pessoal e profissional: “despertou um objetivo, que é trabalhar como tradutor e intérprete de Libras no âmbito educacional” – destacou Aniceto.
Acompanhe os vídeos de Guilherme Aniceto:
Canal de poemas em libras de Guilherme Aniceto
 

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