É muito bom pegar um quadrinho brasileiro e ver que podemos produzir material de qualidade sem ficar na sombra dos super-heróis gringos, mas é engraçado que justamente fugindo deste estilo Wander Antunes se tornou um dos meus heróis.
Há alguns meses me deparei com a edição “O Corno que Sabia Demais”, edição especial apresentando alguns causos do detetive Zózimo Barbosa, um malando carioca especializado em infidelidade, em plena Rio de Janeiro anos 50. Foi amor a primeira vista e desde então marquei o nome de Antunes na lista de autores para acompanhar, eis que ontem enquanto aguardava “Quem quer ser um milionário?” encontrei “A Boa Sorte de Solano Dominguez“.
Passada na clássica Cuba pré-comunismo, somos apresentados ao malandro Solano Dominguez após a perda de sua companheira e puta mais apreciada de Havana. Maria havia morrido enquanto saia da igreja, “após rezar a missa para o padre”, deixando Solano sem perspectivas e está afundado até o pescoço em dívidas de jogo. Mas como o título enfatiza, Solano é um cara de sorte e descobre que sua filha, que vivia num internato até então, está de volta e puxou a mãe até na bundinha cobiçada. Com a “faca e o queijo” na mão, Solano decide doutrinar sua filha na arte da safadeza e leiloar a virgindade da filha para o maior bacana da cidade, o que acaba gerando uma competição por poder que leva muito além do óbvio de uma conto erótico.
Misturando Nelson Rodriguez com Leonardo Padura Fuentes, Wander Antunes carrega com soberba a narrativa até a última página, deixando os leitores sedentos por mais. Mas seria injusto não falar do excelente trabalho visual de Mozart Couto, outro brasileiro que merece mais reconhecimento nestas terras tupiniquins. E falo isso não somente pelo traço de Couto, mas principalmente por sua visão cinematográfica, as cenas fluem impulsionando a narrativa e Couto sempre aparenta sempre escolher a melhor perspectiva para cada quadro.
A Boa Sorte de Solano Dominguez é uma publicação da editora Desiderata e no fim deixa a impresão de, assim como Lolita, valer cada centavo do dinheiro investido.
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