Quadrinhos

Crítica: “Exit Wounds”, de Rutu Mondan

Compartilhe
Compartilhe

Não sou ninguém; não tenho nada a ver com explosões
– Sylvia Plath

Uma separação silenciada pelo simples abandono. Uma explosão numa cafeteria israelense por um homem-bomba como esperança de explicação do sumiço repentino do companheiro. Os palestinos, nem sequer mencionados, vilões da história: amor-próprio salvo, responsabilidade pela situação política instável repassada à vileza de um povo assassino? Não. O quadro na verdade é irônico e crítico.

Exit Wounds tem um ritmo próprio, a um tempo franco e lacônico, que recria a dinâmica da catástrofe fragmentária do cotidiano de guerra e evidencia as lacunas do silêncio entre as pessoas. Uma tonalidade diminuta.

Exit WoundsA história é repleta de silêncios expressivos, em sentidos pessoais e também políticos. O desenho de Rutu Mondan é simples e preciso e dá a seus personagens linguagens corporais que são, por si sós, significativamente narrativas. Uma gama de gestos e feições enriquecem a história emocionalmente e fazem com que também os silêncios digam muito.

Trata-se da paradoxal coexistência da necessidade e da incapacidade de comunicação, dicotomia irresoluta – entre as pessoas e consequentemente entre os povos. O silêncio retumba a guerra, seu medo, crueza. As explosões são notícias desmemoriadas. E todos tem a ver com as explosões.

No limite entre o desespero e a esperança, a história desenvolve-se no centro de outra disparidade, no momento em que duas pessoas se encontram entre a intimidade e as muralhas que erguem em torno de si. Nesse momento intermediário de descoberta, o próprio desenrolar da história encaminha um desdobramento sutil, do caso individual ao contexto histórico e social: o esfacelamento emocional desdobra-se no esfacelamento das perspectivas de solução das questões inerentes ao problema da filiação cultural em relação ao território em disputa, pela guerra constante e pelo terror iminente – a genealogia da desgraça enraizada na intencionalidade sociológica da guerra.

Exit Wounds não tem um caráter de denúncia escancarada, como por exemplo Palestina, de Joe Sacco, que expôs a humilhação palestina, o massacre promovido especialmente ao redor dos assentamentos judeus, toques de recolher, ações de extrema violência legitimadas. A crítica de Mondan é oblíqua, tem o humor negro um tanto reticente do desagradável conformismo que a rotina diária exige quando imiscuída à tirania da guerra. A figura um tanto desconcertada da heroína – chamada de feia, apelidada de girafa – fortalece a personagem e, assim, a dramaticidade humana da história.

rutu-mondan-exit-wounds-pagina-graphic-novell

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
AgendaLiteraturaQuadrinhos

Evento na Gibiteca de Curitiba celebra impacto de “O Mágico de Oz”

O projeto NA-NU na Gibiteca de Curitiba chega a sua terceira edição...

NotíciasQuadrinhos

Supergirl: Mulher do Amanhã ganha edição de luxo no Brasil

A aclamada minissérie “Supergirl: Mulher do Amanhã” está prestes a ganhar uma...

LiteraturaNotíciasQuadrinhos

Alan Moore: o fandom como uma “praga grotesca” na sociedade

Alan Moore, renomado escritor de quadrinhos por obras como Watchmen e V...

NotíciasQuadrinhos

Encontro de Naruto e Tartarugas Ninja ganha primeiras imagens

As primeiras páginas do encontro nos quadrinhos entre Naruto e As Tartarugas...

MangáNotíciasQuadrinhos

Mangá de Dragon Ball Super retornará após morte de Akira Toriyama

Os fãs de Dragon Ball Super estão sendo pegos de surpresa com...

CríticasQuadrinhosSériesTV

The Boys 4, a resenha: velhas fórmulas e novas fases

Nos últimos dois meses, três séries altamente aguardadas estrearam, causando grande entusiasmo...

NotíciasQuadrinhos

X-Men: nova série apresenta Ransom, o primeiro mutante argentino

Na mais recente edição em quadrinhos de “The Uncanny X-Men”, a Marvel...