Como admirador do trabalho do Odyr, foi com grande expectativa que adquiri Guadalupe, graphic novell do gaúcho com texto de Angélica Freitas lançado recentemente pele selo Quadrinhos na Cia. Infelizmente o resultado ficou aquém da expectativa.
Não me entenda mal! Guadalupe é um livro legal, bonito e divertido. Porém o saldo final fica longe do que poderíamos esperar de mais um projeto da Companhia das Letras que visa reunir escritores com quadrinistas, como foi com a espetacular Cachalote, de Daniel Galera e Rafael Coutinho.
Vendido como um road movie, a trama apresenta uma realidade fantástica construída ao redor das desventuras de Guadalupe, que viaja junto de seu tio travesti para transportar o corpo de sua avózinha da Cidade do México para a distante vila de Oaxaca. A começar pela misteriosa morte de Elvira, sua avó, a viagem de Guadalupe é atravessada por eventos bizarros, que vão da fome de almas de um antigo deus asteca à invocação do Village People para salvar o dia.
Até aí tudo bem, sou o primeiro a defender a sedução do cotidiano pelo fantástico, incançavelmente revisitado pela cultura contemporânea, no melhor exemplo Vertigo de brincar com nossa realidade (para ficar nos quadrinhos). Mas em Guadalupe não funcionou, a construção de elementos é por demais gratuita e atropela o próprio ritmo do livro. E olha que conversando com outras pessoas, para minha surpresa, descobri o mesmo descontentamento. Não que o objetivo deste texto seja massacrar a obra, validando uma opinião pessoal, como já registrei o saldo final chega a ser positivo, graças a leveza como a autora constrói sua inusitada colcha de retalhos e a arte de Odyr, que soube capturar o tom adequado para a narrativa.
Os apreciadores da arte do Odyr Bernardi ficarão satisfeitos com o livro, porém o formato de revista me parece uma decisão editorial equivocada, visto que as ilustrações de Odyr se sobressaem melhor em um formato menor – como foi com a graphic novell Copacabana. Destaque para os diálogos escritos a mão pelo ilustrador e suas pequenas liberdades criativas que brincam com a cultura mexicana.
[xrr rating=2.5/5]
Se você quiser dar uma chance para Guadalupe, deixo abaixo a sinopse oficial e aqui o link para compra pelo site da Companhia das Letras.
Às vésperas de completar trinta anos, tudo o que Guadalupe quer é esquecer seu trabalho no sebo de Minerva, seu tio travesti. É ela quem pilota um furgão velho pela Cidade do México, apanhando coleções de livros que Minerva arremata por poucos pesos de famílias enlutadas. O símbolo da Minerva Libros é uma coruja, mas bem podia ser um abutre, um abutre com lantejoulas.
Em seu aniversário, Guadalupe só quer sair para beber e dançar com amigos. Mas um telefonema muda seus planos. No meio do pior engarrafamento do ano – ela aproveita engarrafamentos para ler os clássicos -, fica sabendo que a avó, Elvira, uma velhinha intrépida, morreu ao chocar sua scooter com uma banca de tacos sobre duas rodas.
Como Guadalupe tem o furgão, ela é a única que pode cumprir o último desejo da avó: um enterro com banda de música em Oaxaca, onde nasceu. Guadalupe embarca com Minerva e sua inseparável poodle, mais o caixão, rumo à cidade. No caminho, contrariando a opinião de Guadalupe, Minerva dá carona a um exótico rapaz, que se diz guatemalteco, e os problemas começam.
Não poderia concordar mais! Comprei Guadalupe pela arte, terminei de ler e fiquei com esse sentimento meio frustrante, o que me levou a procurar resenhas e felizmente cai aqui, que me aliviou por mostrar que não foi uma implicância minha com a obra! hahah
Terminei de ler pensando: “poxa, mas tinha tanto potencial..”