Crumb for Dummies

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Na penúltima noite da FLIP aconteceu a mesa 14, na qual os quadrinistas Robert Crumb e Gilbert Shelton iriam “teoricamente” dissetar sobre o tema “A Origem do Universo”, baseado no livro em quadrinhos de Crumb sobre o primeiro livro da Biblia: A Genesis, e também sobre a trajetória profissional deles. Os dois representantes do quadrinhos underground norte-americano vieram ao Brasil com o tratamento de estrelas, foram incessantemente assediados por jornalistas e fotógrafos causando incomodo nos autores. Crumb deixou explícito  seu desconforto com o assédio e em uma coletiva foi pedido que parassem de fotografar e deixassem os dois quadrinistas saírem da sala sem serem incomodados, mas como eles eram os ídolos dessa edição da feira, incomodar era inevitável.

Paralelamente diversos cartunistas/quadrinistas brasileiros prestavam suas homenagens aos ídolos Crumb e Shelton, destaque para Rafael Coutinho com seu um quadrinho publicado na Folha de S. Paulo contando – através de licença poética – a passagem dos mestres por Paraty, já para o jornal O Globo, Allan Sieber; André dahmer; Arnaldo Branco; Adão Iturrusgarai; Fabio Lyra; Tiago Lacerda e outros mostraram a influência de Crumb nos seus trabalhos e vida profissional.

Assim, na noite de sábado (07 de agosto), algumas horas antes do evento começou o burburinho e só se ouvia falar em Crumb e Shelton. Uma fila, que só crescia, formava-se na Tenda dos Autores e muita gente ainda sem ingresso tentava a todo custo conseguir o seu, de última hora. Vários curiosos, sem nem saber quem eram Crumb e Shelton, já tinham seu ingresso garantido, causando raiva/inveja de fãs que não possuiam o seu.

A mesa começa e Crumb parece um pouco desconfortável, Shelton parece mais à vontade. O mediador Sergio D’Avila, editor da Folha de São Paulo, é apresentado ao público e logo vem um piadinha sobre o iPad que ele carrega. Ponto Negativo. Crumb é conhecido por sua aversão a novas tecnologias e só gostar de musicas feitas antes da invenção da guitarra elétrica. Começam as perguntas e a primeira delas é a veracidade do boato em dizia que as mulheres de Crumb e Shelton os tinham obrigados a virem ao evento no Brasil. Crumb logo afirma que sim, foi verdade. As perguntas só vão piorando e se tornando cada vez mais sem sentido. Perguntas como “o quê Crumb achava das mulheres brasileiras”, foram deixando um incômodo não só no quadrinista, mas também na platéia que acompanhava a mesa.

Quem não conhecia Shelton, continuou sem conhecer, pois a mesa foi muito focada em Crumb e em historinhas sobre a vida pessoal dele. Sobre o fato dele morar na França e o que ele conhecia de música brasileira. Ao que parecia, o mediador pouco ou nada sabia sobre a obra do quadrinista, pois foi pouco abordado a obra e carreira deles como um dos mais importantes autores do underground do Estados Unidos nas décadas de 60 e 70, junto com Shelton. Foi questionado sobre o trabalho do livro Genesis, que teoricamente era o foco da mesa, mas nada muito aprofundado. O mediador estava mais interessado na vida pessoal de Crumb e sua opinião sobre o governo Obama do que as diferentes fases de sua carreira.

Em um dado momento, Aline Kominsky-Crumb, esposa de Crumb  subiu ao palco para participar da conversa. Com seu discurso pronto, dizendo sempre ter vivido a sombra do marido, logo os dois começam seu famoso “bate boca” em público. O mediador pergunta como é a dinâmica do trabalho entre Aline e Crumb e se essa dinâmica se repetia no sexo, nessa hora, Aline solta um “nao é da sua conta”. A resposta vem de supetão mas não poderia ser outra, visto que a mesa foi montada para se falar sobre o trabalho como quadrinista e não a vida pessoal do casal. Cada momento o desconforto do publico fã aumenta e o publico não fã sai antes do fim.

Ao final da mesa era claro o desconforto do público de quadrinhos presente em relação ao debate e as perguntas do mediador Sergio D’Avila. Os fãs queriam saber mais sobre como pensa Crumb e como ele consegue fazer o trabalho que muitos admiram e não a opinião dele sobre o governo de Obama e o quê ele pensa das mulheres e música brasileiras. No final a impressão que ficou foi de que a mesa poderia ser chamada de Crumb for Dummies.

Texto de Lívia Jácome e ilustra de Tiago “Elcerdo” Lacerda.

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5 thoughts on “Crumb for Dummies

  1. Lastimável. Esse D'Avila é um boçalzinho chato. Para ouvir essas coisas, seria melhor levar o Crumb ao Programa do Jô. Quase me sinto contente de não conseguir ingressos.

  2. melhor análise que li sobre essa mesa

  3. invejinha de vocês que foram. invejinha dos paulistas que ainda vão curtir crumb.

    ficou patente, com essa mesa, o desprezo dos "literários" contra os "quadrinísticos".

    o que pra mim também parece ser bem legal, já que mostra quanta ignorância reina daquele lado…

  4. Realmente, a mesa foi um tanto patética, por conta dessa atuação do mediador, que visivelmente não conhecia a obra de ambos. Uma pena. Consegui conversar com Mr. Crumb e um trecho desse papo está no link abaixo. Em breve, tem mais.
    http://www.saraivaconteudo.com.br/artigo.aspx?id=