Paralelamente diversos cartunistas/quadrinistas brasileiros prestavam suas homenagens aos ídolos Crumb e Shelton, destaque para Rafael Coutinho com seu um quadrinho publicado na Folha de S. Paulo contando – através de licença poética – a passagem dos mestres por Paraty, já para o jornal O Globo, Allan Sieber; André dahmer; Arnaldo Branco; Adão Iturrusgarai; Fabio Lyra; Tiago Lacerda e outros mostraram a influência de Crumb nos seus trabalhos e vida profissional.
Assim, na noite de sábado (07 de agosto), algumas horas antes do evento começou o burburinho e só se ouvia falar em Crumb e Shelton. Uma fila, que só crescia, formava-se na Tenda dos Autores e muita gente ainda sem ingresso tentava a todo custo conseguir o seu, de última hora. Vários curiosos, sem nem saber quem eram Crumb e Shelton, já tinham seu ingresso garantido, causando raiva/inveja de fãs que não possuiam o seu.
A mesa começa e Crumb parece um pouco desconfortável, Shelton parece mais à vontade. O mediador Sergio D’Avila, editor da Folha de São Paulo, é apresentado ao público e logo vem um piadinha sobre o iPad que ele carrega. Ponto Negativo. Crumb é conhecido por sua aversão a novas tecnologias e só gostar de musicas feitas antes da invenção da guitarra elétrica. Começam as perguntas e a primeira delas é a veracidade do boato em dizia que as mulheres de Crumb e Shelton os tinham obrigados a virem ao evento no Brasil. Crumb logo afirma que sim, foi verdade. As perguntas só vão piorando e se tornando cada vez mais sem sentido. Perguntas como “o quê Crumb achava das mulheres brasileiras”, foram deixando um incômodo não só no quadrinista, mas também na platéia que acompanhava a mesa.
Quem não conhecia Shelton, continuou sem conhecer, pois a mesa foi muito focada em Crumb e em historinhas sobre a vida pessoal dele. Sobre o fato dele morar na França e o que ele conhecia de música brasileira. Ao que parecia, o mediador pouco ou nada sabia sobre a obra do quadrinista, pois foi pouco abordado a obra e carreira deles como um dos mais importantes autores do underground do Estados Unidos nas décadas de 60 e 70, junto com Shelton. Foi questionado sobre o trabalho do livro Genesis, que teoricamente era o foco da mesa, mas nada muito aprofundado. O mediador estava mais interessado na vida pessoal de Crumb e sua opinião sobre o governo Obama do que as diferentes fases de sua carreira.
Em um dado momento, Aline Kominsky-Crumb, esposa de Crumb subiu ao palco para participar da conversa. Com seu discurso pronto, dizendo sempre ter vivido a sombra do marido, logo os dois começam seu famoso “bate boca” em público. O mediador pergunta como é a dinâmica do trabalho entre Aline e Crumb e se essa dinâmica se repetia no sexo, nessa hora, Aline solta um “nao é da sua conta”. A resposta vem de supetão mas não poderia ser outra, visto que a mesa foi montada para se falar sobre o trabalho como quadrinista e não a vida pessoal do casal. Cada momento o desconforto do publico fã aumenta e o publico não fã sai antes do fim.
Ao final da mesa era claro o desconforto do público de quadrinhos presente em relação ao debate e as perguntas do mediador Sergio D’Avila. Os fãs queriam saber mais sobre como pensa Crumb e como ele consegue fazer o trabalho que muitos admiram e não a opinião dele sobre o governo de Obama e o quê ele pensa das mulheres e música brasileiras. No final a impressão que ficou foi de que a mesa poderia ser chamada de Crumb for Dummies.
Texto de Lívia Jácome e ilustra de Tiago “Elcerdo” Lacerda.