[Parte 1: O Começo de Tudo]
[Parte 2: A Justiça é Cega, mas tem cores fortes!]
[Parte 3: Demolidor Amarelo]
Existe muito a ser dito sobre o Demolidor de Frank Miller ainda nos dias de hoje. Para muitas pessoas, inclusive para este que vos escreve, é difícil reler todo este material e não compará-lo com o que o escritor Brian Bendis fez com o herói cego pois e um material de tamanha qualidade e revolução que certamente está entre os melhores trabalhos da Marvel de todos os tempos. Claro, é fato que a passagem de Miller pelo título mensal do diabo teve este mesmo impacto na época em que saiu e vamos falar um pouco sobre tudo que ele fez nela.
Como dissemos na segunda parte deste especial, no fim da década de 1970 quem escrevia o Demolidor eram David Micheline e Roger McKenzie, com arte de Miller. O escritor estava apenas cumprindo obrigações contratuais e não chegava a lugar nenhum, enquanto o desenhista começava a pensar o quanto seus conhecimentos e suas influências de literatura, conhecimentos de culturas orientais e fanatismo pelo trabalho de Will Eisner poderia transformar aquela personagem de categoria Z em algo totalmente novo no mundo dos quadrinhos.
Influências
Primeiramente vale dizer que Frank Miller sempre teve grande base de cultura oriental e quadrinhos noir dos anos 1930 e 1940, como dissemos acima. A partir destes conceitos, Miller começou a redesenhar Nova York incessantemente para dar um estilo próprio e obscuro à cidade, ambiente no qual as ideias para a nova personalidade do Demolidor se desenvolveria melhor. Com isso ele transformou a maior cidade do mundo num lugar muito desenvolvido, mas que vive às escuras e com becos sinistros onde tudo de ruim acontece. Tendo o ambiente criado, era hora de preparar os coadjuvantes.
Utilizando-se ainda da influência de Eisner, Miller pegou o vilão chinfrim Rei do Crime e realmente transformou-o num grande rei da máfia, embasando-se até em casos reais porém romantizados de casos do submundo nova yorkino que poderiam acrescentar mais à suas histórias. Mais que isso, o escritor passou a perceber que era necessário ao herói ter também seu nêmesis, afinal, todo grande herói precisa ter um grande inimigo. Pegando uma ideia que não tinha dado certo na época, o Mercenário foi todo reformulado para um psicopata frio, calculista e de mira certeira em suas vítimas, que trabalharia para quem lhe pagasse mais para matar.
Com tudo isso teríamos um herói que faria justiça nos mais diferentes fronts de sua vida, seja como advogado para derrubar casos do Rei e colocar seus capangas na cadeia e seja como Demolidor para obter informações de ladrões e fazer coisas que sua identidade civil não permitiria para fazer o que era necessário. Só falta um elemento para a narrativa ser formada por todo tipo de influência: um par romântico real, que fosse uma lembrança do passado e se tornaria presente novamente para apimentar a vida do herói. Somando-se o conhecimento de ninja e artes marciais, que também passariam a fazer parte das características do Demolidor, surgia a mercenária Elektra.
Elektra
Electra (com “c” mesmo) é um mito grego de diversas vertentes. É dito, primeiramente, que Electra é filha do rei Agamemnon e da rainha Clitemnestra, irmã de Orestes. Na história, ela é sempre tomada pela fúria e impulsividade e a mando da mãe, planejou a morte do pai com seu irmão. Em outras versões é dito que ela é filha de Atlas e teve filhos com Zeus e Dardano e Harmonia. Também já foi filha de Oceano e Tétis.
Reunindo alguns desses conhecimentos e unindo com sua vontade criar uma ninja assassina, surge Elektra Natchios, filha de um grande empresário grego que chega à Nova York para negócios e para morar, colocando sua filha para estudar na mesma faculdade em que Matt Murdock estudava também. O resto é história.
Grandes momentos e principais temas
Frank Miller ficou dois anos escrevendo Demolidor, que voltou a ser mensal sob suas mãos. Ao seu lado estava um grande parceiro que viria a se tornar um grande amigo também: Klaus Janson, arte-finalizando as páginas feitas por ele. Com sagaz edição de Dennis O’Neil o autor elevou o personagem de categoria Z a um dos maiores sucessos da Marvel até os dias de hoje, algo impensável para a época. Dentre os principais momentos da grande passagem dele pelo título (somando-se dois anos seguidos, partindo da edição #168 até a #191) podemos citar:
A jornada do Mercenário: o vilão foi transformado num psicopata perigoso e sem limites. Tudo começa com a história “Demônios” em que ele tem alucinações de que todas as pessoas da rua estão disfarçados de Demolidor e inicia uma série de assassinatos bizarros. Depois ele teve operações mas nunca deixou de lado sua loucura pelo herói, trabalhando para o Rei do Crime e para si mesmo para derrubar seu nêmesis, até assassinar Elektra e quase ser morto pelo herói, que o deixa todo enfaixado no hospital e o tortura psicologicamente na história “Roleta Russa” (a última do autor com o personagem em sua primeira passagem).
A trajetória de Elektra: Elektra nasce, cresce e morre nas mãos de Frank Miller. O escritor a apresentou logo em sua primeira história com o demônio e a matou cerca de 1 ano depois numa época em que heróis e/ou personagens fantasiados não mortos assim, muito menos da forma brutal como aconteceu. Edições mais tarde ela foi ressuscitada pelos rituais secretos do Tentáculo, organização ninja e terrorista de conhecimento arcaico sobre a vida e a morte.
Elevação do Rei do Crime: Wildson Fisk passou de mero vilão do Homem-Aranha a um mafioso de tamanho respeito dentro do universo Marvel suficiente para derrubar planos de muitos dos grandes heróis da editora e é, até hoje, um dos principais criminosos da cultura pop. Sua sagacidade e planejamento são comparados ao seu tamanho e força física. Um inimigo perfeito para o Demolidor (tanto como o advogado Matt Mudock como fantasiado) muitas vezes eles tiveram que fazer algumas tréguas para obter resultados satisfatórios para ambos os lados. De grande destaque estão a história em que o Rei perde sua esposa Vanessa por culpa de um plano de um de seus próprios capangas e o momento em que ele convence o Mercenário, e mais tarde Elektra, a trabalharem para ele.
Definição de Matt Murdock: o herói passou a ter uma personalidade extremamente bem definida, reunido a sua vida como advogado e como vigilante noturno, mas nunca deixando de lado os amigos, os amores complicados e seu treinamento passado. Uma das histórias que melhor trata a postura e a vida de Matt é “Onde os Anjos Temem Caminhar” na qual o herói está sem seu sentido de radar e seu mentor Stick vai ajudá-lo, num jogo de muita metalinguagem de Miller, a recuperar seus sentidos aguçados.
Grandes coadjuvantes: como se não bastasse ter grandes protagonistas, Miller também rodeia Matt de grandes coadjuvantes. Dentre eles podemos citar Foggy Nelson – que tem um momento sensacional na história “Garra”, na qual ele se passa por um cara da máfia para descobrir o que está acontecendo por trás das conspirações das Indústrias Glenn, de Heather Glenn, namorada de Matt. Há também aparições de Luke Cage e Punho de Ferro como os heróis de aluguel para protegerem Matt de ser assassinado por bandidos, além do grande embate do vigilante com o Justiceiro nas histórias “Ela está viva!”, “História de criança” e “Os Mocinhos veste vermelho”.
Aspecto social: Miller sempre foi politicamente engajado e não temeu em colocar vários dos aspectos sociais e políticos dos EUA na época em suas histórias, mostrando de forma escancarada coisas como tráfico de drogas, oversoses, corrupção do sistema legal e muitas outras sujeiras que acontecem em nosso dia-a-dia no mundo real.
Polêmicas
Há quem diga, hoje em dia, que Miller copiava muitos dos elementos usados nas antigas histórias do Spirt de Will Eisner e replicava-os em seus contos com o Demolidor. Sendo verdade ou não, influência são normais em qualquer mídia e é claro que o autor foi se basear nos grandes clássicos e não nos seus contemporâneos.
O grande diretor Quentin Tarantino já brincou muitas vezes dizendo que nada se cria, tudo se copia, mas estamos falando de duas pessoas que se influenciaram das mais diversas culturas pela pura diversão de criarem histórias diferentes e que acabaram tornando-se algumas das mais importantes em suas mídias.
Publicação
O Demolidor de Frank Miller e Klaus Janson está entre os materiais mais republicados dos quadrinhos. Nos EUA já ganhou diversos encadernados, inclusive uma versão de luxo reunindo tudo em mais de 500 páginas. No Brasil, além de todas as edição da finada Superaventuras Marvel da editora Abril, todo material foi lançado em versão encadernada e pela primeira vez em forma americano com desenhos e roteiros completos pela editora Panini e sua série “Os Maiores Clássicos”. São quatro volumes que merecem estar na coleção de qualquer fã de quadrinhos.
Mais tarde, Frank Miller voltaria ao Demolidor em sua revista mensal para escrever o arco A Queda de Murdock com David Mazuchelli, mas isto é outra história…
Assim como Walter Simmonson em Thor, Frank Miller criou a fase definitiva do Demolidor e mais recordada pelos fãs. É uma pena que o sr. Miller enfrenta, hoje, um período de decadência criativa, chafurdando em piadas auto-referentes (vide Grandes Astros: Batman) ou em tentativas vãs de “canibalizar” suas próprias obras (como a “continuação” de 300, Xerxes).
E…ele cometeu DK2…não se perdoa quem comete DK2.
Bem, eu li a triologia de Orestes,e tenho que fazer uma correção sobre a Electra desta peça.
A rainha Clitemnestra que assassinou seu marido, Agamenon, em conjunto com seu amante(também primo do rei). Electra envenenou Orestes contra a mãe, para que este a matasse, vingando seu pai.
Bem, fazendo a sequencia cronológica de todos assassinatos do livro (spoiler):
-O Pai de Agamenon assassina todos filhos de seu irmão, exceto pelo primo de Agamenon. Dá as crianças cozidas, dizendo ser cordeiro para seu irmão (na época rei), obrigando-o a se matar, e se tornando o rei.
-Agamenon sacrifica sua filha mais velha e prefirida de Climnestra ao deus Oceano antes de partir m viagem para guerra de Tróia (ele também participa desta lenda)
-A esposa e seu amante (o primo sobrevivente de Agamenon) planejam sua morte, …
e assim vai.
Realmente muito boa eu tenho essa coleção dos Maiores Clássicos do Demolidor e realmente valeu cada centavo empregado, só não gostei de não terem usado as artes originais, pq esses desenhos do Miller são de doer de ruins, corpo franzino e cabeção, ninguém merece.
Miller criou a base do Demolidor, o que ele é e o que o Bendis escreveu bebem dessa fonte.
o miller fez o demolidor vira um icone dos quadrinhos,praticamente criando seus 2 maiores vilões o rei do crime e o mercenario,o ultimo sendo o maior vilão da história do demolidor,e um de seus grandes amores a elektra que mesmo não dando certo foi uma fase marcante do herói