[Parte 1: O Começo de Tudo]
[Parte 2: A Justiça é Cega, mas tem cores fortes!]
[Parte 3: Demolidor Amarelo]
[Parte 4: Chega Frank Miller]
A saída de Frank Miller do título mensal do Demolidor não foi abrupta, mas acabou sendo mal planejada pela Marvel, que teve que correr atrás de substitutos de última hora, mas não havia quem pudesse fazer este trabalho a não ser o próprio editor do título, Dennis O’Neil. Pouco antes dele estiveram escritores como Larry Hama e Steven Grant, mas ninguém ficou com o trabalho, muito menos fez alguma história que fosse memorável. Sendo assim, seu cargo oficial foi tomado por Bob Budiansky e Ralph Macchio (um dos grandes nomes da editora até os dias de hoje).
As aventuras de O’Neil também tinham rotatividade de artistas até a chegada do inovador e criativo David Mazzuchelli, que tinha um estilo totalmente noir e urbano, fazendo não apenas com que o visual do Demolidor voltasse ao que Miller fazia com Klaus Janson, mas dando ainda mais vida a esse ambiente e fazendo com que a fase de Denny, mesmo que não fosse tão boa quanto a anterior, ainda figurasse entre algumas das mais interessantes para os fãs, justamente porque o escritor escolheu não ir muito além do universo criado por Miller e pôde aproveitar alguns desses pontos em sua narrativa. Curiosamente o próprio Miller escreveu histórias fechadas e esporádicas durante este período (que durou cerca de 3 anos) mas nenhuma que valha a pena ser citada.
Todavia, os fãs demandavam mais, e após esses anos todos, a Marvel tentou fazer um acordo com Frank para que ele voltasse para, pelo menos, um arco de histórias. O escritor demandou que Mazzuchelli fosse mantido devido à sua grande qualidade de arte e ao apego que os fãs criaram por ele – além do que, comercialmente, a parceria seria um grande sucesso.
Nascer de Novo – A Queda de Murdock
O arco em sete partes que se tornou o mais famoso escrito por Miller com o Demolidor não se trata apenas da queda psicológica de uma pessoa em frente às dificuldades mais extremas pelas quais ela passa mas também fala da integridade que ela mantém frente à total corrupção. Matt Murdock, visto por muitos com preconceito, lutou para conseguir se estabelecer como o maior advogado de Nova York, além de um exímio vigilante que ganhou apoio da própria polícia local – e o escritor usaria o próprio status quo que ele estabeleceu com o Rei do Crime para colocar Matt numa espiral de decadência enquanto perdia mais e mais da sua vida.
Tudo começa com Karen Page, desaparecida há muito tempo para se tornar uma atriz em Hollywood mas que acabou se tornando atriz pornô e viciada em drogas. Para ter mais dinheiro para sustentar seu vício, Karen vendeu o segredo da identidade do Demolidor, que não levou muito tempo para chegar ao Rei do Crime, que resolveu testar a informação vagarosamente. Após perceber que se tratava de um fato real, o lorde do crime nova yorkino começou a mexer os pauzinhos e em poucos dias explodiu a mansão do advogado, cassou sua licença profissional e deixou-o sem nada nos bolsos e nos bancos – Matt Murdock havia perdido, inclusive a própria vontade de agir como Demolidor.
Mais que focar no aspecto psicológico de cada personagem envolvido na trama, Miller mostra uma sujeira do mundo corporativo e governamental muito maior do que nas histórias anteriores e novamente não esconde suas opções políticas durante a narrativa. Novamente o fracasso no Vietnã foi utilizado por uma obra da cultura pop, numa forma de alegoria. O Capitão América é uma figura totalmente fora de seu tempo, mostrada como o fruto de uma época mais pura que já se foi e nunca mais voltará; o vilão Nuke, enfrentado pelo Demolidor no fim da história, tem o aspecto de Rambo: o soldado patriota cego que perde as estribeiras com seu próprio povo devido à paranóia adquirida pelas guerras.
Tanto em nível de roteiro como em nível de arte, A Queda de Murdock é uma obra completa e figura entre as mais importantes dos quadrinhos, merece uma lida por fãs e não fãs da Marvel ou mesmo deste tipo de literatura, por retratar com muita fidelidade um momento na cultura dos EUA em que o grande inimigo passou a estar dentro do próprio país e a paranoia avassalou a população.
Nova dança das cadeiras
Miller fez uma história memorável, mas criou um grande problema para a editora e outros escritores que viriam após sua breve passagem: como continuar a contar a vida do Demolidor daquele ponto? A Marvel não tinha a menor ideia e mais uma vez se arriscou com alguns nomes breves colocando o histórico Steve Ditko para desenhar, o que em nada adiantou. Felizmente, em cerca de 3 meses, a editora já tinha um novo nome para estar com a revista, e era uma mulher. Ann Nocenti era uma novata no mercado e tinha uma quantidade imensa de ideias a apresentar para este herói, como veremos no próximo artigo deste especial aqui no Ambrosia.
Gente, para mim, todas as grandes sagas do Demolidor são memoráveis. Acho que devido ao personagem viver mais afastado dos outros heróis ele pode ter essas grandes histórias. Sabe, todos os heróis que participam de um grande evento sofem esse bloqueio.