O francês Cyril Pedrosa desenha bem.
Não, peraí, ele desenha PRA CARALHO.
Provavelmente só mais uns 4 caras na face da terra dominam a técnica do pincel seco como ele. Tá, eu sei, que papo bem punhetístico esse de “pincel seco”, mas não dá pra deixar de mencionar isso por conta do meu profundo apreço por esse tipo de desenho.
Pincel seco é o que o nome diz: um pincel sem excesso de tinta, que produz uma linha suja, quase apagada, que se assemelha ao velho e bom giz de cera com o qual todos nós nos esbaldávamos com 4 anos de idade. É isso. Craig Thompson, que escreveu e desenhou “Retalhos” (que também saiu pela Quadrinhos na Cia) é outro cara que usa essa técnica, mas perto do nosso amigo Ciryl ele ainda tem que tomar muito Toddy.
Geralmente eu começo falando da história para depois falar na técnica & desenho, mas no caso de “Três sombras” o desenho não só sobrepuja a história como quase a anula. È um ponto de vista controverso falar que o desenho ofusca o roteiro e provavelmente almas mais sensíveis ficarão ofendidas com isso, mas me parece ser esse o caso desse álbum.
É mais ou menos a mesma coisa que acontece com os filmes de outro francês, Jean-Pierre Jeunet (“Delicatessen”, “O fabuloso Destino de Amélie Poulain”, etc). É tanta técnica e rigor nos planos, uma preocupação tão grande com a direção de arte, que a história a ser contada mais parece um empecilho do que o objetivo principal da obra. São os famosos RETENTIVOS ANAIS.
Ou não, talvez essa só seja a opinião de quem não sabe desenhar bem nem tem saco pra demorar mais que um dia pra fazer uma página de quadrinhos.
Bom, “Três Sombras” começa com o cotidiano bucólico/lindo/inocente do casal Louis e Lise e seu rebento Joachim. Tudo vai bem até aparecerem 3 silhuetas misteriosas que ficam rondando a choupana da família. Aí Louis pega Joachim e… Não, não vou contar a história. Mas dá pra chamar de um road movie de pai & filho situado num passado remoto, onde Louis vai ensinando ao filho através das próprias ações o que é Certo e Errado.
Talvez uma coisa que tenha me incomodado é o formato de quase fábula, uma coisa no meio do caminho entre literatura juvenil e literatura adulta, não funcionando plenamente nem como um, nem como outro.
Mas quem sou eu para entrar nesse terreno pantanoso? Ora, mal consigo ler um livro por semana.
O fato é que, sem sombra de dúvida, não é um livro para jogar fora, tem certas passagens belas e o ritmo lento é bem explorado. Nesse sentido, é um bom contraponto ao ritmo alucinante que a TV e o cinema nos enfiam goela abaixo nos dias de hoje.
[xrr rating=3/5]
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