Em minhas férias escolares boa parte do dia se passava na frente da televisão, agora com minha filha em férias me encontrei num mundo bem diferente, o mundo de Adventure Time, ou melhor, Hora de Aventura. E não é que gostei?
A série passa no Cartoon Network e conta as aventuras de Finn, um garoto humano aventureiro, e o seu melhor amigo e irmão adotivo Jake, um cão com poderes que lhe permitem alterar a forma e tamanho de acordo com a sua vontade. Sei que é um sucesso. É situado em um mundo apocalíptico, um cenário surreal, com personagens super-estranhas, aventuras mais estranhas ainda, com momentos bem marcantes.
“É para crianças”, mas nem tanto, já que as referências adultas são pinceladas em muitos episódios, mas ficam bem subentendidas. Cada episódio é bem divertido e possui algumas lições que cabem a qualquer idade. Pois bem, recentemente, soube dos quadrinhos baseados no cenário do Mundo de Ooo, e comprei pra minha filha, mas antes uma boa análise do exemplar, né.
Os quadrinhos de Hora da aventura foram bem aceitos por sinal, pelo que li em reviews da Bleending Cool e da Newsarama. A BOOM! Studios contratou bons nomes para expandir o cenário, como o canadense Ryan North e os ilustradores da série de TV Shelli Paroline e Braden Lamb, e as primeiras séries ganharam até os principais prêmios da categoria (Eisner e Harvey em 2013).
A editora concluiu assim que tinha um filão nas mãos para explorar e aproveitou para publicar novas séries, minisséries e spin-offs relacionados cm os personagens criados por Pendleton Ward.
A Panini lançou alguns encadernados aqui, e em capa dura, foi um desses que eu comprei, o Hora de Aventura com Fionna e Cake, que se ambienta na realidade alternativa da Terra de Aaa, com Natasha Allegri encarregada pela história/arte.
Allegri é a criadora da maioria dos personagens alternativos da designada erroneamente pelo marketing como Terra de Aaa. A jovem veem realizando uma tarefa parecida ao longo das duas primeiras temporadas da série televisiva e exerce a função de revisora dos storyboards. Portanto, na hora de aprofundar estes personagens, que são bem aceitos pelos fãs, Natasha era a única opção possível, junto com os criativos desenhistas Adan Muto e Andy Ristaino, pois estava familiarizada com este outro lado do espelho do universo Hora de Aventuras.
Com seus 30 anos, esta inquieta autora, também tem tempo para dedicar a projetos pessoais, como a própria série de animação, Been & Puppy Cat, que podemos seguir no canal do youtube Cartoon Hangover, propriedade da produtora independente Frederator Studios de Fred Seibert ligada ao canal Cartoon Network. O fenômeno de Hora de Aventura está ligado a um perfil de autor que aposta em outros caminhos e também a esse tipo de produção independente, e isso possibilita uma liberdade criativa que determina o espírito do produto final e que conseguiu ser transmitido aos quadrinhos.
Em Hora de Aventura com Fionna e Cake seguimos um bom exemplo desta proposta, e Allegri se serve desta liberdade para narrar um conto emotivo, uma amostra de seu talento, que abre o tomo. Depois, nos reencontramos com o tom habitual das aventuras destes já populares personagens, numa história cujo maior atrativo são as versões alternativas de Finn, Jake e companhia, as quais apresentam sutis e interessantes diferenças não só no visual, como na caracterização psicológica.
No mais é aplicar a fórmula: aventuras, repletas de imaginação e diálogos engenhosos, mas falta um pouco de intensidade. O traço segue a proposta gráfica e são bastante atraentes, mas esperava mais, levando em conta que a narrativa leva vantagem em alguns momentos.
Em todo caso, é agradável leitura, que atiça nossa curiosidade pelas relações que se estabelece entre os personagens. E levando em conta, que o público leitor seja mais jovem, consigo destacar muito de sua mitologia para minha pessoa. E isso é uma das grandes virtudes de Hora de Aventura, agora com Fionna e Cake, sua capacidade para chegar ao público, apostando em histórias sensíveis, mas que com uma abordagem subtendida complexa que desprende segundas leituras, conexões, tão originais como auto-referenciais, que nos obriga em muitos momentos sorrir, sentir aquela sensação de que o tempo é o nosso cúmplice, da mesma forma que perdíamos/ganhávamos manhãs e tardes inteiras a frente de uma brincadeira, de um jogo ou de uma TV.
Achei também muito interessante a maneira que a tendência atual da capa variante é apresentada por parte da BOOM! Studios, relacionando uma lista de jovens artistas como Allegri, que trabalham com a marca Hora de aventura. A Panini em sua edição, trás essas capas variantes e nos apresenta Vera Brosgol, Sina Grace, Rebecca Mock, Stephanie Buscema, Maris Wicks, Stephanie Gonzaga, Lea Hernandez, Abby Boeh e Kel McDonald, uma prova artística que podemos encontrar mais surpresas no futuro ligados a esse desenho animado.
A edição brasileira é bem caprichada, diagramação e revisão foram bem feitas, a tradução do original para o português foi feito pela Tatiana Yoshizumi que combina bem as técnicas de tradução e equilibrando as linguagens usadas pelos personagens.
As histórias foram originalmente publicadas nos seis primeiros números de Adventure Time with Fionna and Cake em 2013. Trata da jornada de de Fionna e Jake para salvar criaturas de fogo da Rainha Gelada. O resgate segue a linha amalucada da série, com doces e tortas, perigos e espada, monstros e varinhas mágicas, justiça e amizade.
Temos, além da história principal, narrativas curtas e histórias complementares de autores convidados, como a história entitulada O bandido do suéter (The Sweater Bandit) escrita e desenhada por Noelle Stevenson, autora de uma webcomic de fantasia maravilhoso Nimona, e que segue as desventuras de Fionna e Cake para atrapalhar um ladrão de suéteres.
Além dessa temos ainda a artista Kate Leth, criadora de outro, Kate or Die, oferece uma pequena história, Doce azedo (Sour Candy) e o relato O poder dos piolhos (Cootie Power) de Lucy Knisley, no qual o príncipe Chiclete que colocar a prova seu novo laboratório matemático enquanto a protagonista tem que lidar com um certo problema de higiene pessoal.
Hora de Aventura com Fionna e Cake me surpreendeu, o mecanismo das narrativas pode seguir a linha da série televisiva, mas é uma proposta estimulante, especialmente indicada aos seguidores da série, sejam de qualquer idade. Já tou lendo o outro volume, Marceline e as rainhas do grito, mas vou deixar para outra postagem aqui no Ambrosia. Abraços.
- Abby Boeh
- Adan Muto
- Adventure Time
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- Stephanie Gonzaga
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- Vera Brosgol
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