Irmãos Grimm em Quadrinhos: Conhecendo o bom trabalho nacional

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Jacob e Wilhelm Grimm

Para quem deseja conhecer melhor os bons quadrinistas brasileiros através de um conjunto de boas histórias e por um preço barato, eu aconselho que comprem Irmãos Grimm em Quadrinhos, uma antologia de histórias em quadrinho nacionais baseadas no conjunto de obras dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm.

Recentemente tive em mãos este conjunto de trabalhos que já conhecia, mas que nunca tinha parado para ler. Sinceramente esperava algo simples e que pouco me agradasse, como geralmente ocorre com esses conjuntos de pequenas histórias com autores diversos. Mas, para minha surpresa, descobri um material realmente muito bom e pretendo agora dividi-lo com os leitores do site.

Comecemos por algumas informações sobre o livro: no total são 176 páginas que agrupam 14 contos, o que proporciona pouco espaço para que os quadrinistas exponham histórias complexas e, o que eu acho pior (apesar disto poder ser uma boa ferramenta), já conhecidas pela grande maioria dos leitores. O trabalho, portanto, não consiste em criar algo voltado para um espaço pré-determinado ou em preparar livremente uma história própria, mas sim adaptar uma obra de renome para este, o que pede um trabalho bastante diferente que nem todos conseguem realizar de maneira bem-feita.

Ainda assim, cada um dos nomes do livro arranjou uma forma para conseguir transmitir os contos dos dois irmãos, criados durante o século XVIII, se calcando no texto original, mais pesado. O resultado disto foi um trabalho muito diverso, com seus altos e baixos, obviamente, porém muito gostoso de ler, pois as histórias são divertidas e diferentes e os ilustradores mostram uma habilidade que eu não esperava.

Dentro do conjunto, porém, três contos me cativaram especialmente: O Velho Sultão de Allan Alex; Hansel e Gretel (João e Maria), de Carlos Ferreira e Walter Pax; e Branca de Neve, de Rafael Coutinho. E o melhor é que cada um deles chamam a atenção por um motivo diferente. Gostaria de falar um pouco mais sobre o porquê de minha preferência acerca dessas histórias, pois esta seria uma ótima forma de mostrar um pouco do que se deve esperar deste livro.

Logo ao começar a ler o livro damos de cara com a produção de Alex, que realiza um ótimo trabalho tanto como desenhista quanto como roteirista. Primeiramente o que mais cativa é o desenho, cheio de detalhes advindos de uma ponta fina e ávida por linhas que se entrelaçam e formam imagens com um trabalho de luz muito bem-realizado. Porém, é ao reler a obra que as verdadeiras minúcias de quem conhece bem as liberdades do formato aparecem. Alex é capaz de explorar os recursos que a estrutura de uma história em quadrinho proporciona para seu roteirista, o que garante ao leitor uma obra que possui um desenrolar todo organizado, com o posicionamento de imagens que encaminham o olhar produzem uma gama nova de informações sutis e com a produção de um diálogo entre os quadros, explorando seus formatos, colocações e conteúdo.

o-velho-sultao-alex

O conto João e Maria, por sua vez, traz uma forma completamente diferente: temos curtas narrações em prosa interpoladas entre quadros de imagens geralmente maiores do que os comumente apresentados em quadrinhos; a história é simples e curta. E os desenhos são simplesmente maravilhosos. Um trabalho freak feito à lápis que fará você esquecer qualquer imagem de irmãos gordinhos e felizes ou da típica bruxa má. O que temos aqui são irmãos raquíticos de olhos esbugalhados e uma senhora obesa com um estilo xamânico que derrete como cera ao ser empurrada dentro do fogo. Os contos originais dos irmãos Grimm, assim como diversos outros, vinham embebidos em um clima pesado e amedrontador para poder convencer crianças curiosas a se comportar, e a dupla Ferreira e Pax conseguem trazer a tona isto de uma forma contemporânea e bem particular.

joaoemariapax

Por fim, temos o trabalho do Rafael Coutinho. Esta obra me cativou logo de cara pela forma da narrativa. São 12 quadros por página, cada um com uma informação específica sobre o conto, porém não há nenhum texto mais longo, a série de imagens é responsável pela fluidez da história, ajudada pelo conhecimento prévio dos leitores acerca do conto da Branca de Neve. Os desenhos são limpos e bastante diferentes, sendo ausente o clássico vestido brega da princesa e tendo anões muito similares aos muppets. Nesse caso específico acredito que uma imagem do conto ajudará bastante a compreendê-lo:

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O livro não é 100% maravilhas, tendo algumas histórias mais fracas, mas me reservo ao direito de omitir minha opinião sobre estas, e deixar a cargo do próprio leitor o trabalho de escolher suas piores e melhores. Assim, a obra como um todo é algo mais que digno de atenção, com bons materiais, finalização e preço (R$24,90). Ratifico mais uma vez: comprem e leiam. Não necessariamente nesta ordem.

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6 thoughts on “Irmãos Grimm em Quadrinhos: Conhecendo o bom trabalho nacional

  1. De fato, a publicação é uma excelente amostra dos talentosos quadrinistas que possuímos aqui no Brasil. Ele é claramente fruto de um trabalho apaixonado e íntimo entre os autores/desenhistas e a obra de Grim. No meio de tanta literatura adaptada de forma ruim, o título da desiderata ganha feições de um raio de luz.

  2. Que ótima resenha Diana, gostei muito da sua abordagem e não comprometimento das histórias sob sua ótica pessoal.

    Realmente como as fábulas originais, as histórias do livro são livres para cativar de acordo com as preferências pessoais.

  3. Hahah foda, eu to trabalhando com o Allan Alex!