Cultura colaborativa! Participe, publique e ganhe pelo seu conteúdo!

Koko be good: quero ser boazinha

Conhecida por suas webcomics que publica em seu blog, a desenhista Jeh Wang, chamou a atenção da editora norte-americana First Second Books, que publicou seu álbum de estréia: Koko be good (Setembro, 2010). Recentemente a graphic foi lançada por aqui pela Barba Negra, com o subtítulo não é fácil ser boazinha, a história é uma reflexão sobre a chegada da idade adulta, onde descobrirmos e encaramos nossas escolhas, definimos nosso futuro. Um conto sobre o caráter que cada um de nós tem perante os desafios, embutido nos sonhos, na carreira que levaremos, na separação para com a família entre outros aspectos vívidos por todos nós.  E são três personagens desajustados que apresentam essas angústias.

Aquela velha pergunta, “O que você quer ser quando crescer?”, ouvida quando criança, aqui ganha densidade, se torna mais pronunciada e cruel principalmente quando os personagens, todos com vinte e poucos anos não podem esquecê-la. Wang compõem seus personagens em meio ao precipício da vida adulta, quando ainda estão confusos sobre o que querem da vida.

Jonathan é um músico recém-formado planejando seguir sua namorada mais velha que está no Peru, trabalhando voluntariamente num orfanato. Inseguro com a mudança, Jon sente que precisa ajeitar algumas coisas, algo lhe diz que falta realizar algo em sua vida. Sua tranqüilidade é o mote de sua personalidade, encara o porvir como tivesse olhando uma partitura. Koko é uma jovem elétrica, contudo fútil e irreflexível, não gosta de estudar, nem tampouco de trabalhar, vive de trambiques e favores, deixando um rastro de caos por onde passa, é uma típica garota “deixa a vida me levar”. Sua expressividade sentencia suas características pessoais. Não podemos esquecer-nos do último desajustado Faron, um adolescente baixinho taciturno e invocado que vive num ambiente de violência familiar e deseja se descobrir, fazer algo diferente, escapar de suas amarras. E é em Koko e Jon que centra a narrativa de Koko be good: principalmente quando os dois se encontram, uma nova perspectiva é visualizada por cada um.  Questionando o rumo que a vida de cada um estava levando, o angustiado Jon e a provocadora Koko, decidem, a sua maneira, pensar um pouco mais sobre seus planos e as razões para tanto. E em última análise, sem spoilear, os dois aprendem a mudar e crescer, mas seus caminhos seguem trilhas diferentes, levando-nos a um final bastante satisfatório.

Wang com seus 26 anos transfere com muita densidade as angústias que sentimos ao se formarmos na faculdade. Como uma veterana cria um roteiro claro, que flui naturalmente, conduzindo os diálogos de forma simples, mas que centra toda a ação na dupla Jon & Koko, deixando Faron de escanteio, grande parte das mais de 300 páginas, conduzindo seu foco somente no final. Em suma, a narrativa segue o rumo de tantas outras graphic novels que usa o fim da juventude como tema, tal foi em Retalhos de Craig Thompson (Cia das Letras) ou Cicatrizes de David Small (Barba Negra). Semelhanças que seguem a uma direção inesperada: a da descoberta do inusitado, do diferente, da procura da mudança mesmo não sabendo como, reflexo de uma geração que chega aos trinta anos sem saber o que quer. Um bom uso do argumento.

Diferente de muitos outros quadrinhos que já li,  visualmente a arte de Koko be good atrai. Jen traduz a emoção e o movimento de seus personagens, de forma suave e fina, distribuindo e orientando os quadros de acordo com a narrativa, sem nada de mudanças bruscas. O estilo de desenhar em camadas, onde inclui as várias fases do processo, estruturadas em matizes azuis e pastéis, perfilando os tons de ocre e sépia dá ao álbum um tom artesanal. Os layouts são dinâmicos, cenários de fundo com um maravilhoso senso de cor, um estilo detalhista que agrada a cada virada de página.

Uma graphic novel que faz pensar sobre o rumo que a vida leva, e mesmo beirando o sentimentalismo, consegue imprimir profundidade aos leitores. Combinando melancolia e humor, com uma arte expressiva, a autora faz que seus personagens se esforcem em retratar o significado e propósito para com suas vidas. E quem sabe as nossas… Leitura recomendada.

[xrr rating=4.5/5]

 

Koko be good: quero ser boazinha

Editora: Leya / Barba Negra 

Autor: Jen Wang (texto e arte).

Tradução de Cassius Medauar

Número de páginas: 304

Preço: R$ 29,90

Compartilhar Publicação
Link para Compartilhar
Publicação Anterior

Festival do Rio: “Mãe e Filha” se perde no excesso de pretensão

Próxima publicação

O que esperar da Rio Comicon 2011?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia a seguir