Conan, o bárbaro mais famosos dos quadrinhos superou o nome do seu criador, (1906-1936), o que aconteceu também com o criador de Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle. Howard, seguidor de H.P. Lovecraft e Edgar Rice Burroughs, deu vida ao personagem e à Era Hiboriana com a narrativa publicada na pulp Weird Tales no conto chamado “The Phoenix on the Sword” (em português, A Fênix na Espada), publicado em 1932. O que o seu personagem conseguiu nos anos vindouros, ele nem imaginaria o sucesso tamanho, com livros, quadrinhos, filmes e qualquer derivado comercial que a mente humana já perpetrou o cimério apareceu.
Sua fama imprimiu tamanha poder que sepultou outros filhos de seu pai. Em 1929, com O reino sombrio, debutou Kull, o conquistador, o bárbaro atlante que se tornaria o monarca de Valusia, mas que mesmo três anos antes, nunca contou, com a legião de admiradores do selvagem do norte. Um desprezo até inexplicável, se constatarmos a lista de talentos que ficaram a frente do personagem, sem falar que as histórias de Howard eram bem mais poéticas, shakespearianas de certo modo. Um bom exemplo, foi o que ocorreu nos anos 1980, quando a Marvel recebeu dos herdeiros o direito de realizar adaptações aos quadrinhos destes personagens e com O Diabo no Espelho (Demon in a Silvered Glass) escrita por Doug Moench e ilustrada por John Bolton para Bizarre Adventures #24, publicação que reunia os maiores nomes da Casa das Ideias experimentavam propostas mais audazes.
As 66 páginas da narrativa são, mais ou menos, o equivalente a uma história que Roy Thomas e Barry Windsor-Smith adaptaram de Howard mas com um apuro gráfico belíssimo. Bolton traz no traço o classicismo de Hal Foster e a força tétrica de Wrightson, como fez em O Dragão Negro com Chris Claremont. Nos dois casos a arte se impõe ao argumento, que podemos dizer que desfrutamos mais das ilustrações do que de sua leitura. Tanto que Bolton divide as páginas em poucos quadros, normalmente cinco ou seis, que distribui a seu gosto, seus personagens possui a imponência que o autor transcreve ao título: Kull tem um aspecto taciturno, robusto e com a famosa cicatriz, o pérfido Sekhmet, uma espécie de Toth Amon com uma malignidade no olhar e sua filha, a bela Jeesala, com a mesma sensualidade das personagens de John Buscema. Talvez o aspecto mais impressionante de sua arte, composta por pegada dark, traços marcantes e predominantemente densos, seja as batalhas, com a sobriedade e a crueldade exposta em meio aos cadáveres que Kull abre com sua espada ou a quando o espelho mostra a versão bestial que Kull teria, lembrando muito Dorian Grey de Oscar Wilde.
Para os fãs de Howard, para fãs de quadrinhos, para os amantes da grande arte e da fantasia heroica, essa história de Kull, o Bárbaro é um tesouro atemporal.
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