A indústria de quadrinhos americana tem reagido cada vez mais nos últimos dias após o furor causado pelo designer Marko Djurdjevic em público. O escritor Jonathan Hickman jogou panos quentes; J. Michael Straczynski comentou sobre sua “escrita como papeis higiênicos”, Mark Waid ficou bravo; Chris Roberson e Ron Marz ironizaram; a Marvel fingiu que nada viu e ficou numa boa. Mas como as coisas foram chegar nessa situação, e quem exatamente é este cara?
Marko Djurdjevic é um designer profissional que trabalha especificamente com games e cinema. No entanto, eventualmente, ele trabalha para a indústria de quadrinhos também e manteve exclusividade com a Marvel nos últimos anos para refazer alguns designs de personagens já existentes, criar alguns novos e desenhar capas. O problema originou-se da negação da própria editora em aceitar o lado criativo de Marko e lhe dar ordens explícitas de como tudo deveria ser. Ora, se ele foi contratado para imaginar novos visuais, por que a liberdade de criação não lhe foi dada? Marko fez esta pergunta a si mesmo e elevou o nível de frustração a patamares bem altos – e públicos.
Dentre as criações de Marko que foram negadas estava a Lady Bullseye, cuja arte pode ser vista à direita. Marko é um artista realmente bom e criativo, no entanto a Marvel não aceitou suas sugestões e ordenou detalhadamente o que ele deveria fazer. Mal sabia a editora que estava pondo uma bomba pra explodir em seu próprio escritório. Poucos dias antes da fatídica apresentação pública na qual Marko estapeou a Marvel na cara, ele disse o seguinte em sua conta no Facebook:
Cinco anos e finalmente acabou. Há dois meses atrás eu dei entrada no término de contrato exclusivo com a Marvel. Acabou. Chega de super heróis, chega de homens tristes com roupas coladas, chega de capas, pelo menos por um bom tempo 🙂 Nem acredito que acabou. Depois de 300 capas, incontáveis redesigns e 10 edições desenhadas eu finalmente posso fechar este capítulo da minha carreira e focar no meu projeto SIXMOREVODKA com todas as minhas forças e energias. Estou me sentindo aliviado. E sinto que as coisas estão muito melhores do que jamais estiveram. Obrigado à Marvel pelos cinco anos. Me ensinou bastante, mas agora é hora de sair dessa. 😀 Ahhhhh
Logo em seguida, na última quinta-feira 25 de agosto, a Marvel apresentou-se com ele, Jonathan Hickman (escritor; Quarteto Fantástico, SHIELD, Guerreiros Secretos) e Steve Epting (desenhista; Capitão América, Fundação Futuro) num painel com vários fãs na Fan Expo 2011, no Canadá. Epting perguntou se ele gostaria de fazer mais artes internas para a Marvel (sem saber que o designer já havia saído da editora), ao que Marko respondeu: “Eles nunca me colocaram com um escritor realmente bom. Aquele cara, Straczynski, parece que escreve como papel higiênico“. A polêmica começou, e vale dizer que Marko trabalho com gente como Ed Brubaker e Brian Bendis, dois dos grandes da editora.
Marko então cortou todo mundo, ligou seu laptop e começou a mostrar designs que fez pra Marvel e foram rejeitados. A loucura chegou a tal ponto que o painel permaneceu em silêncio total enquanto o desenhista contava suas péssimas experiências com a editora e tirava sarro da burocracia dos editores em aprovarem uma ideia. “Quando sou contratado para filmes e games é devido à minha criatividade. Na Marvel você é contratado para fazer o que eles acham que vende. É um inferno para artistas” disse ele, causando ainda mais constrangimento. Depois deste evento os profissionais resolveram usar a internet para dar suas opiniões.
Mark Waid foi um dos primeiros, e como bom defensor dos lugares em que trabalha, soltou no Twitter: “#MarkoDjurdjevic, ningueḿ vai sentir sua falta“. Chris Roberson então comentou: “Trabalhar com este #MarkoDjurdjevic deve ser divertido“, ao que Ron Marz complementou: “Acho que o livro Marvel Art of Marko Djurdjevic vai virar item de coleção rapidinho, não?“.
Como não podia deixar de ser a Marvel veio a público e foi politicamente correta: “estamos tranquilos com o acontecido. Marko é assim mesmo e continua sendo nosso amigo“. Hickman também falou logo em seguida, numa nota oficial, dizendo “entendo a situação de Marko e digo que ele não me desrespeitou e nem desrespeitou Steve. Diabos, só achei que a gente ia se divertir bastante no painel“. Curiosamente a opinião mais divertida veio de Straczynski. Ele soltou uma nota oficial em que diz:
Muita gente me mandou e-mails perguntando sobre minha escrita e Marko Djurdjevic. Aparentemente ele disse que escrevo como papel higiênico. Oras, mas um papel higiênico não pode escrever, ele nem consegue segurar uma caneta. Foi então que entrei em contato com a TPADL (Toilet Paper Anti-Defamation League) para esclarecer esta situação. Como eles disseram, o papel não pode ser difamado, afinal eles são apenas um veículo de mensagem, e não são responsáveis pelas merdas dos outros. O acho Djurdjevic quis dizer – e certamente diria isso se estivesse sóbrio – é que eu escrevo merda, o que qualquer outra pessoa acharia correto.
Agradeço pelo esclarecimento do pessoal e digo que estou ao lado de Marko nessa. Já tinha passado da hora de alguém dar uma Charlie Sheen na indústria de quadrinhos e ele é o cara certo pra isso. Estou junto dele nessa, segurando meu rolo de papel higiênico para a próxima porcaria. Vai nessa, Marko!
A grande pergunta que fica é: estaria ele tão certo assim? Será que a Marvel, assim como outras editoras americanas, chegaram ao ponto de controlar com tamanha rigidez o que os artistas fazem e dar a eles sua direção desejada e não abrir espaço para criatividade? É fato que a falta de criatividade nesta indústria, bem como em Hollywood, já vem de tempos, provocando atitudes cada vez mais desesperadas dos cabeças destas empresas para angariar mais fãs (ou manter os que já existem num vicioso ciclo de histórias e eventos).
Profissionalmente Marko agiu mal – não se fala para um público tão grande, ainda mais em tempos de internet, o quanto foi ruim trabalhar em algum lugar, pois eventualmente estas frases cairão nos ouvidos dos empregadores e a situação do profissional se complicará terrivelmente. No entanto, e isto parece ser um fator cada vez mais recorrente nas HQs americanas, a insatisfação artística não pode chegar a este ponto, ou a própria editora cairá em descrédito entre profissionais e fãs.
Fonte das informações: Bleeding Cool
ah que maravilha ler isso ,virei fã desse marko dadada,é fato que o cara é um artista dos grandes que foi enganado com a promessa de liberdade criativa ,inocente ele foi de acreditar nisto ,mas é bom acontecer isto em publico para dissipar a nevoa que cobre esta brutal incompetencia da industria de super heroi ,que se consome rapidamente em um mar de mediocridade ,é notória a infantilização deste segmento de quadrinhos não no sentido de estar desviando de publico e sim de esgotamento criativo que desconhece o senso de ridiculo ,megassagas bombasticas que vai mudar tudo para sempre ,mortes dramaticas da semana ,escritores sem cerebros e desenhistas manetas ,o que sobra para caras realmentes bons ? cair fora é claro ?
o termo industria cultural é jargão criado e difundido pela locomotiva americana de midia ,o que tem que se entender em relação ao artista marko Djurdjevic é que ele é um artista europeu que atua em quadrinhos ,games e criação visual em geral ,portanto meios que da muita liberdade criativa na criação e concepção do produto ,entendo o choque do cara em trabalhar em um lugar onde suas ideias e capacidade artistica não vale nada e piór, amarrado pelo um contrato onde tem que seguir diretrizes de pessoas que nada entende do oficio ,dai a ira despejada na midia por ele ,ha quem defenda as editoras e não são poucos ,para esses defensores nem as vendas ridiculas que os super herois medalhões tem hoje os fazem enxergar o quanto de razão tem este colérico sujeito .