Lourenço Mutarelli acaba de lançar seu novo livro, A arte de produzir efeito sem causa, pela Cia das Letras. O escritor brasileiro ganhou mais destaque quando, em 2006, foi produzida uma adaptação de outro de seus livro, O Cheiro do Ralo, com a participação de Selton Melo. Porém, Mutarelli atua em outras áreas e faz um trabalho magnífico como escritor e ilustrador de quadrinhos, sendo uma de suas principais obras a trilogia de quatro livros sobre o detetive Diomedes (que também vem sendo adaptada para as telas). Seu traço deformado e sujo dão uma vida única a suas histórias, que são repletas de surrealismo, depravação e pobreza, como se você pegasse idéias do Kafka, misturasse com algumas de Dostoiévski e começasse a partir daí.
Esta sua nova obra fora finalizada em setembro do ano passado, como Mutarelli afirmou em seu blog, no qual ele anuncia algumas informações interessante sobre o livro que estaria por vir e completa afirmando que realizara o trabalho em um momento em que não agüentava mais trabalhar com quadrinhos:
O trabalho é imenso e não compensa. Já não estava com o mesmo fôlego e tenho certas mágoas em relação a isso. Decidi, então, que iria também parar de desenhar. Talvez conseguisse reformatar meu cérebro. Eu queria desenhar por desenhar, como fazia quando era garoto. Nunca mais desenhei dessa forma. Sempre era para alguma publicação. Sempre era trabalho.
Essa foi uma informação que me deixou genuinamente triste, pois não faz muito descobri seu material e acredito que ele seja um dos grandes nomes que o Brasil pôde proporcionar para a indústria de quadrinhos alternativos. Não sei se de fato este intuito se manterá por muito mais tempo, seu último quadrinho foi A caixa de Areia, de 2007. Espero que não.
Bom, voltando ao livro, ele terá como tema central um homem já velho que resolve por nenhum motivo aparente abandonar seu trabalho e sua família e volta a morar na casa de seu pai. O protagonista segue então sua vida sem perspectivas e sem dinheiro, em um marasmo que envolve o velho sofá-cama, o bar e conversas com a jovem e atraente inquilina de seu pai, Bruna, a qual ambos espiam por trás de um furo no armário. Um dia começam a chegar pacotes anônimos pelo correio, fator que serve para fazer o personagem quebrar com sua rotina, seguem daqui as palavras de Mutarelli:
O livro trata de um personagem que fica obcecado com um fragmento de jornal que recebe pelo correio. Não há remetentes. Junto, no mesmo pacote, vem ainda um pedaço de tecido, veludo, vermelho e três Cds que ele não consegue rodar. Eu já chego onde quero, deixe-me apenas dividir algo curioso, a cabeça da matéria que o personagem recebe está em inglês, língua que ele desconhece quase completamente. Consegue que traduzam para ele, ele mesmo havia feito uma tradução palavra por palavra junto a um velho dicionário. A tradução não o convence. Ele começa a achar que aquilo quer dizer algo somente para ele. Então começa a desenvolver uns gráficos buscando um sentido abstrato que apenas ele poderá compreender. Algo indivisível. Vermelho e obcecado. Obcecado em inglês pode ser “hooked”. Estou em Red Hook.
Acho que essas informações são mais que o suficiente para ilustrar o livro, que irá adentrar em um terreno no qual conversam entre si a sanidade e a loucura, cercado por algumas ilustrações de Mutarelli, e para atiçar a curiosidade de quem gosta de uma boa literatura. Eu ainda não li nenhum texto em prosa do Mutarelli, mas acredito que isso está prestes a mudar.
O livro está custando R$39,50 e tem 208 páginas.
Muito interessante, e sem dúvida mutarelli é um dos nomes mais interessantes da literatura nacional contemporânea.
Apesar da trama parecer instigante ela me soou um pouco batida, existem diversos livros com o mesmo plot inicial, um homem recebe por um correio algo que ele desconhece. Uma carta sem remetente ou coisas similares. Até o mundo de sofia (aaaahhh!!!) começa assim….
Eu sei que o tema é um pouco batido, mas eu gosto do estilo do Mutarelli e acho que ele tem capacidade de pegar o tema e desenvolve-lo bem. Lembre-se que o tema da história em si pode não ser nada, depende de como ela é disposta.