O encontro de Stan Lee e Grant Morrison

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Stan Lee e Grant Morrison

O primeiro encontro público da dupla Lee e Morrison ocorreu na San Diego Comic-Con deste ano com o painel “Reinventing the Page: Stan Lee and Grant Morrison Talk Virgin Comics” (Reinventando a Página: Stan Lee e Grant Morrison falam sobre a Virgin Comics), abaixo traduzi quase que a totalidade do que foi dito, algo que acredito que seja

A “conversa” começou com um vídeo promocional criado pela Virgin apresentando a série MBX, que se trata de curtas animados criados por Morrison dentro da mitologia da editora. Algo que Morrison descreveu como “família que vai para a guerra, já que o mundo todo está obssecado com guerras, resolvemos voltar para o passado para aquela que foi uma das primeiras batalhas”. Lee então pegou seus fones de ouvido e disse “você viram isso nas Nações Unidas, quando as pessoas estas coisas na orelha para entender o sentido…”, fazendo a brincadeira de não ter entendido nada do que Morrison quis dizer – a platéia foi abaixo em gargalhadas.

A primeira pergunta era sobre o que ambos achavam das similaridades entre os filmes e quadrinhos, Lee explicou que agora “os quadrinhos se tornaram o roteiro para os filmes”, exaltando o fato de “estarem pegando os melhores diretores, os melhores atores e os melhores roteiristas para realizar as adaptações dos quadrinhos para o cinema”.

Em seguida a conversa passou a ser sobre o “Método Marvel” (criado por Lee e que consiste no roteirista passar a idéia para que o artista desenvolva seu trabalho sobre ela e somente depois acrescentar os diálogos), Morrison (com um sorrizo no rosto) provocou Lee dizendo que o “Método Marvel era engraçado, já que você (o roteirista) não precisa ter tanto trabalho”, adicionando enquanto ria “É bem mais colaborativo, a outra maneira de escrever o roteiro pode se tornar bastante entediante as vezes. É legal trabalhar sobre os desenhos de outro, porém isso não acontece com frequência” – aqui vale colocar um paresentes lembrando que Morrison é bastante “obsessivo” quando escreve, chegando a descrever com detalhes o que deverá ser desenhado, não imagino ele utilizando o método de Lee.

Na vez de Lee falar sobre o método que desenvolveu, começou brincando “não sei porque chamam de o Método Marvel e não o Método Stan Lee”, em seguida explicou “Comecei com isso pois não tinha tempo de escrever tudo. Os artistas eram freelancers, e se não tinham nada para desenhar, não eram pagos”, disse também que não podia manter pessoas como Steve Dikto e Jack Kirby sentados sem fazer nada, então que a solução de um plot para que eles fossem trabalhando surgiu como a melhor idéia.

Ainda sobre o assunto, Lee adicionou “Os artistas desse ramo que são realmente bons também são contadores de histórias. Se você deixa na mão do artista, as chances são que ele encontre a melhor maneira de contar. O editor consegue o melhor, os leitores conseguem o melhor, todo mundo consegue o melhor, e isto tudo por causa do meu estilo. Por que ainda não ganhei uma medalha?” Novamente levando o auditório as risadas, Lee (inspirado) ainda mandou para Morrison: “Vá em frente, supere esta”, finalizando Morrison com um Fatality, “Eu vou ensinar a ele como usar roupas” – uma clara referência ao contraste dos estilos de ambos, já que Lee sempre usa roupas coloridas e Morrison tons sóbrios, imagine se no lugar de Morrison estivesse o Gaiman 😀
O assunto mudou para a humanização dos personagens criada por Lee na Marvel, sobre o assunto Morrison começou brincando “Tento tirar os personagens da dimensão que Lee criou, ele adiciou uma segunda dimensão e eu estou tentando trazer eles de volta para a primeira”, mas Lee não entendeu o que Morrison disse e ficou ofendido, Morrison teve de explicar que Lee foi quem adicionou riqueza (dimensão) nos personagens, Lee então disse em tom relaxado “Acho que estou começando a gostar de você”.

Lee e Morrison

E falando de Morrison, Lee disse “Caras como ele pegam a história ou os personagens e os tornam em algo bem mais rico. Eu sou o cara mais feliz do planeta, as pessoas lêem as histórias de Morrison e eu fico com todo crédito… e não me importo com isso”. Lee então passou a explicar que criou os personagens mais humanos pois não era bom em sacadas como as histórias do Batman, mas sim em ter os personagens interagindo entre si, “eu queria saber como aqueles caras eram quando não estavam sendo super-heróis, e eu adorava fazê-los se encontrar em diferentes publicações. Acho que foi com o Quarteto Fantástico, enquanto eles jogavam bola ou algo do tipo, pedi para Jack Kirby desenhar Peter Parker no fundo… tivemos toneladas de cartas das pessoas dizendo que adoraram aquilo.”

Morrison aproveitando a deixa declarou “Acredito que os quadrinhos são únicos por estas duas coisas que você (Lee) adicionou, a complexidade dos personagens e o universo compartilhado. Ninguém foi muito além disso”. Lee então respondeu “Você foi”, e se virando para a platéia enfatizou “Tenho visto alguma das coisas que esse cara escreveu e são brilhantes, e você não têm ficado apenas com os super-heróis. E quanto ao trabalho que têm feito para a Virgin, estou um pouco chateado, pois agora tenho que fazer algo ainda melhor.”Morrison perguntou para Lee o que ele estava fazendo para a Virgin, Lee explicou que não podia dizer, mas que era “algo novo e realmente diferente. Tão diferente que provavelmente ninguém irá entender, incluindo a si próprio”, nos próximos meses fará o anuncio sobre isto.

A conversa moveu então para o trabalho de Morrison em X-Men, o escritor disse “que foi direto na fonte” e leu tudo que Lee escreveu, entendendo ao fim que as histórias “tratavam da guerra entre adultos e jovens”, brincando em seguida com uma voz infantil “estou pedindo sua vallidação aqui, Stan. Isto é tudo que eu quero”

Lee respondeu “Isto é parte da genialidade de um homem. Ele enxerga coisas que nem estão lá. Eu ví X-Men como algo sobre intolerância racial e discriminação, mas essa é uma ótima idéia e queria eu ter pensado nessa coisa dos jovems e mais velhos não estarem numa mesma frequência. É por isso que ele (Morrison) é tão bom, isso não havia me ocorrido”. Morrison então explicou que tudo aquilo estava dentro das histórias de Lee, que sacaneou “é por isto que sou tão bom — eu nem sabia que estava colocando isso lá”.

Após discutir suas histórias favoritas e concordar que “This Man, This Monster” em Fantastic Four 51 é um clássico, Lee perguntou a Morrison de onde vinham suas influencias e o que o havia inspirado a trabalhar com quadrinhos, Morrison categoricamnet disse “Apenas li toneladas e mais toneladas dos quadrinhos do Stan Lee, é daí que todas boas idéias vieram” 😀

Perguntaram a Stan “The Man” Lee o que inspirou inserir filosofia dentro do trabalho na Marvel, Lee respondeu “Eu amo filosofia. As pessoas não gostam de pregação. E eu gosto de pregar, portanto tinha que ser algo bem sútil. O trabalho no Surfista Prateado foi o primeiro e mais importante, Thor um pouco…”, completando “talvez seja por isso que Surfista não tenha ido bem nas vendas”.

Perguntaram a Morrison que criação de Stan Lee ele gostaria de escrever, o escocês respondeu “Homem de Ferro ou o Hulk. Eu não sei se conseguiria escrever Homem-Aranha, ele é muito específico.” (capado pela editora)

A próxima pergunta foi como criar um personagem, Lee respondeu “as vezes você começa com um super-poder e escreve a história sobre isso. Porém há pouquíssimos super-poderes sobrando atualmente. Eu geralmente pensava num título e escrevia a história a seu redor. Atualmente estou escrevendo um filme e a história toda surgiu do título que imaginei”.

Stan Lee e Grant Morrison

Lee então confessou “Existe uma coisa que me arrependo. Jack Kirby e eu tínhamos de fazer uma edição de Quarteto Fantástico e não tínhamos idéia alguma. Você não pode fazer uma história sem uma idéia. Mas eu tinha pensado no nome Diablo. No momento em que eu acabava de dizer a palavra, Jack já o tinha desenhado e nós inventamos alguma história, e até não me lembro como era, mas eu sabia que era horrível. Mas foi impressa e lançada e eu sabia que era um tipo de trapaça, pois não tínhamos realmente uma história, somente o nome do personagem. Esse é meu maior arrependimento.”

O painel acabou após um fã desafiar Lee e Morrison a criarem um personagens juntos no palco, após algumas risadas e discussão Morrison disse “Acho que deveríamos ser pagos por isto, não Stan?”. Em seguida ambos explicaram que criaram um personagem juntos para a Virgin, um herói para refletir o século 21, Lee então já ao sair do palco soltou sua uma última piada do dia: “Eu vou fazer o que geralmente faço, ele fará todo trabalho e eu fico com todo crédito”.

E assim terminou o melhor painel da San Diego Internation Comic-Con de 2008.

Sal
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Sal

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5 thoughts on “O encontro de Stan Lee e Grant Morrison

  1. Lee explicou que não podia dizer, mas que era “algo novo e realmente diferente. Tão diferente que provavelmente ninguém irá entender, incluindo a si próprio”
    Eu queria que ele fosse meu avô.

  2. Lee então já ao sair do palco soltou sua uma última piada do dia: “Eu vou fazer o que geralmente faço, ele fará todo trabalho e eu fico com todo crédito”.
    hauhaauhhuuhauh, e como o Lam recebeu essa? Ou melhor e como o Camino recebeu essa?

  3. “Eu vou fazer o que geralmente faço, ele fará todo trabalho e eu fico com todo crédito”
    Velho safado! Os gênio que criam e ele que leva o crédito! Método Marvel é o escambal!
    No Who Wants to Be a Superhero?, desclassificou o Major Victory (o melhor participante), pq ele era Stripper (isso não seria bom pras crianças), mas a porcaria do programa inteiro tinha um quadro da Strippirella atrás do Stan Lee. Hipocrisia do caramba!

  4. Lam deixa de ser chato, o Stan Lee é o nome supremo da Marvel e pronto. Até o Morrison disse isso 😀

  5. Uou, um dialogo interessante. Realmente muito bom.