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Os 30 anos da Dark Horse Comics: Uma breve história

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Em 1980, um tal de Mike Richardson abriu a Pegasus, uma livraria especializada em quadrinhos, lá no Oregon. Com o que arrecadou, decidiu seis anos depois, montar uma pequena editora. Convidou o amigo  Randy Stradley e em 1986, nascia a Dark Horse Comics. Já são 30 anos desde então, e numa homenagem destacaremos o que a editora nos ofereceu durante as três décadas.

24532-3738-27297-1-boris-the-bearA primeira publicação foi uma a Dark Horse Presents, uma revista que reunia diversas narrativas em preto e branco. Segue Boris The Bear, uma série sobre um urso antropomórfico que parodiava os quadrinhos mais sérios da época, na mesma direção das célebres Tartarugas Ninjas de Peter Laird e Kevin Eastman. Richardson e David Jackson estavam a frente do título. Em 1987 o criador do Boris the bear tirou da Dark Horse seu personagem por um desencontro com o dono da editora, mas a editorial já tinha passado a marcha com um certo êxito, devido a série do Concrete de Paul Chadwick nas páginas de Dark Horse Presents. Pouco a pouco foi reunindo títulos a seu catálogo como The American, de Mark Verheiden. E foi esse roteirista que foi encarregado de escrever a primeira minissérie sob a licença que Richardson e Stradley adquiriram em 1988. Nada menos que os Aliens da 20th Century Fox.

O bom resultado desta continuação do filme de James Cameron criou uma boa reputação para com os estúdios de Hollywood, que vieram acreditando nessa pequena e independente, a ideal para receber a licença de quadrinhos de sci-fi, ação e terror. A Dark Horse foi fazendo seu nome no panorama do comic independente dos Estados Unidos, um lugar onde os autores se achavam confortáveis realizando projetos livre e com resultados econômicos satisfatórios.

E no início dos anos 1990, a Dark Horse se tornou uma peça realmente importante no mosaico dos quadrinhos norte-americanos. Tudo ocorreu quando grandes nomes do meio se animaram a realizar seus próprios projetos fora das duas Majors, que retinham s direitos de suas criações.

Assim, John Byrne, Frank Miller, Howard Chaykin, Mike Mignola, Arthur Adams e Dave Gibbons decidiram seguir os mesmos passos de outra geração de artistas que fundaram a Image, mas se amparando na Dark Horse. A diferença fundamental que notaríamos, era que seus quadrinhos tinham muito mais qualidade do que os realizados por Todd McFarlane, Rob Liefeld, Jim Lee e Erik Larsen.

O êxito de Sin City Hellboy animou outros autores a procurarem a Dark Horse, após o colapso de outras editoras independentes, Mike Baron e Steve Rude, Stan Sakai, Matt Wagner, Wendy e Richard Pini, entre outros trouxeram suas séries prestigiosas, somando a lista de quadrinhos que a editora oferecia nos stands do país.

Em tempo, a editora não descuidou do tema das licenças cinematográficas que já tinham, e trouxeram Star Wars, que a Marvel deixou escapar provavelmente ao decidir que não aquele filão não era tão rentável quanto no final dos anos 1970 e início dos 80. Randy Stradley trabalhou na Marvel no selo Star Wars, e foi uma mão na roda, pois a aposta garantiu uma nova linha de quadrinhos que ampliou o universo de George Lucas. Contava com autores de prestígio e profissionais sólidos, saindo da inércia do título e prezando a qualidade dos conteúdos. A aceitação foi espetacular e com a retomada da série no cinema, chamou mais ainda a atenção do público leitor.

Com algumas criações publicadas pela Dark Horse chegando ao cinema e à televisão, como O Máscara, 300, Sin City, Big Guy and Rusty the boy robot, Timecop, Barb Wire, Tank Girl Mystery Men, foi crescente o reconhecimento da editora, àquela altura já não mais vista como pequena. E, com o merchandising associado a seus títulos, Richardson e Stradley conseguiram os direitos de publicação nos EUA de muitos manga japoneses e coreanos, convertendo a editora em referência neste setor.

Tal aniversario não poderia passar indiferente e antes de fazer somente uma menção pontual, vamos homenagear as três décadas destacando algumas obras publicadas pela editora do Cavalo Negro. Não haverá ordem nenhuma, nem iremos seguir importância do título. Somente o gosto pessoal do autor. Sem dúvida, haverá omissões, mas convidamos que completem a lista em nossos comentários.

As licenças cinematográficas de Ficção Científica

urlu3istqzkgdw2dsigdFoi com a primeira minissérie de Aliens, em 1988, que a Dark Horse Comics começou a chamar a atenção de forma significativa. Soava estranho que uma pequena independente conseguisse os direitos de uma licença audiovisual de Ficção Científica para os quadrinhos, já que durante a década passada, a Marvel era retentora de Star Wars, o Planeta dos Macacos e a DC de Star Trek e Atari Force, e a licença não seria em forma de adaptação, mas de desenvolver séries que contavam novas aventuras nestes universos criativos.

O filme de James Cameron, sequência do de Ridley Scott, foi um sucesso, e os quadrinhos que Mark Verheiden e Mark A. Nelson contava como foi as vidas de Newt, Hicks e companhia após a fuga de Acheron, numa atmosfera preto e branco belíssima. Os quadrinhos de Aliens tiveram também um êxito incrível, tendo múltiplas continuações, projetos especiais e spin-offs que continuam até hoje em dia, na nova concepção desse universo, que Ridley Scott apresentou com Prometheus. Por suas páginas desfilaram nomes ilustres como Mike Mignola, John Byrne, Sam Kieth, John Arcudi, Chuck Dixon, Phil Hester, Paul Tobin, Kelly Sue DeConnick e Mark Schultz.

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Predator: Life & Death #3

Com Aliens a Dark Horse se animou em adquirir outras licenças, como a do Exterminador do Futuro e a do Predador, que deixaram nas mãos de Chris Warner, cujas primeiras minisséries, conseguiram plasmar perfeitamente o espírito de blockbuster de ação e adrenalina com tintas de sci-fi, como em seus respectivos filmes. Estas primeiras empreitadas dos filmes protagonizados por Arnold Schwarzenegger foram publicadas antes da estreia de suas respectivas sequências, o que possibilitou um impulso nestas linhas editoriais. Por Terminator desfilaram James Robinson, Matt Wagner, Paul Gulacy, além de Frank Miller e Walt Simonson que fizeram um crossover com o Robocop genial. Com Predator destacamos o momento em que amalgamaram-se os terríveis caçadores Yautjas com o universo de Alien, com uma estrondosa máxisserie que inspirou o popular videogame e os filmes que reuniram os monstros espaciais.

 

Todavia, a licença mais exitosa que a Dark Horse possuiu foi, sem dúvidas, a de Star Wars. Começaram publicando Dark Empire, quando a trilogia original de George Lucas parecia ter caído no esquecimento do público em geral, no começo dos anos 1990. Com títulos e minisséries consecutivas, os quadrinhos contribuíram a manter viva essa franquia naquela década junto aos livros, videogames e livros de RPG que seus fãs atesouravam, gerando pouco a pouco o chamado universo expandido.

Na estreia de  A Ameaça Fantasma nos fins do século XX, Star Wars já voltara a ser um ícone presente de forma contínua na cultura popular global. As series que a Dark Horse dedicou a esta linha alcançaram estândares de qualidade ímpar, graças a autores como John Ostrander. Entretanto de repente, tudo acabou quando George Lucas vendeu seus direitos a Disney e os quadrinhos passaram a ser publicados pela Marvel. E aquilo doeu em Richardson e companhia.

 O Mignolaverso

fe6a1d57ba9dd8a3f1300092e98127c4b293c53f_hqMike Mignola criou espontaneamente Hellboy, de um pequeno esboço durante uma convenção. Publicou um pequeno relato com o personagem nas páginas de Dark Horse Presents, e deu a continuidade do título para John Byrne na primeira minissérie protagonizada por ele. Foi aqui que apresentaram a vocação do personagem, a Agência de Investigação e Defesa Paranormal e os outros coprotagonistas como Abe Sapien e Liz Sherman.

Em várias e sucessivas minisséries, o universo foi crescendo de forma orgânica, e pouco a pouco alguns títulos foram concedidos a alguns dos heróis que surgiram naquelas páginas. Mas é com a AIDP que esse universo fictício definitivamente se consolida, oferecendo um título destacado no panorama dos quadrinhos. Mignola desenvolve seus argumentos, e uma extensa saga se deu início com a adição de John Arcudi.

Paralelamente surgem spin-offs do passado da Agência e de Anung Un Rama, além de livros (coescritas com Christopher Golden, da série Warcraft), videogames, RPG, e os dois filmes dirigidos por Guillermo Del Toro e também os desenhos animados de Hellboy. Witchfinder, Frankenstein Underground, Sledgehammer 44, Lobster Johnson…um cosmo macabro compartilhado por Mignola, que enriqueceu muito o cenário das HQs nos últimos anos.

Usagi Yojimbo

Esse foi o primeiro quadrinho desta lista que começou fora da Dark Horse, publicado por outra editora, que posteriormente foi acolhida pela editora do Cavalo Negro. Usagi Yojimbo foi criado em 1984 por Stan Sakai para as páginas do segundo número de Albedo Anthropomorphics, publicado pela Thoughts and Images. Dali foi para a Fantagraphics, a Mirage Studios e por último pela  Dark Horse.

Usagi Yojimbo é uma história em P&B que transcorre num Japão feudal habitado por todo tipo de animais antropomórficos. É um erro pensar que é uma obra destinada ao público infantil, a saga do ronin Usagi Miyamoto é um dos quadrinhos mais sólidos, épicos, sensíveis e melhor contados em termos de narrativa sequencial das últimas décadas; assim, sem mais, uma obra mestra. As influências do Livro dos cinco anéis de Miyamoto Mushashi, mas também podemos notar referências aos filmes de Akira Kurosawa e do Lobo Solitario em seus mais de 150 números e dos quais, posso dizer que jamais li um só número ruim.

Os trabalhos de Frank Miller

5Após revolucionar o meio nos anos 1980 com o seu Daredevil e o seu Batman no seio das majors, Frank Miller se juntou a Dave Gibbons para inaugurar suas obras na Dark Horse. Um dream team para Give Me Liberty, o primeiro arco argumental, e para mim o melhor para o personagem de Martha Washington num EUA futurista cheio de aventura e sátira política. Depois veio Hardboiled, uma brincadeira visualmente cyberpunk,mas genial graças ao trabalho de Geof Darrow, um seguidor de Moebius. E logo traria Big Guy and Rusty, The Boy Robot, onde novamente temos a dupla fazendo uma graphic novel de excelência, intranscedente, que gerou uma série de animação realmente fabulosa, expandindo enormemente o conceito original.

Mas foi com Sin City, anteriormente serializada na Dark Horse Presents, um relato em P&B que sublimou a personalidade gráfica de Miller e no qual o mestre deu muito do seu melhor como escritor. Os trabalhos posteriores podem ter diminuído a qualidade de maneira paulatina, mas o meio o popularizou. E a adaptação fiel ao cinema, dirigida pelo próprio Miller e por Robert Rodriguez, garantiu mais ainda o sucesso da série. Também não podemos esquecer de sua obra mais épica: 300, que reconta o episódio histórico do rei espartano Leônidas na batalha das Termópilas. Talvez haja muito que discutir sobre a mudança da tendencia ideológica que Miller começava a ter no desenvolvimento de 300, mas podemos relatar veemente que é um dos trabalhos colossais da nona arte, ricamente ilustrado por sua esposa Lynn Varley. Sublime.

Next Men de John Byrne

Quando nas oficinas da Marvel começava a se pensar uma ideia para apresentar o futuro oficial do universo compartilhado da editora (que acabaria dando lugar à linha 2099), a príncípio se tratava de um projeto do próprio Stan Lee e do renomado John Byrne.

As coisas não deram certo e Byrne levou as ideias que propôs e foram descartadas, para reinventá-las e publicá-las na Dark Horse. Primeiro com a graphic novel 2112, que transcorria no futuro e serviu para introduzir Next Men. Na série regular, Byrne reuniu todos aqueles conceitos: um pouco do Miracleman de Alan Moore, uma porção de mutantes a la Marvel e a intenção de narrar com um olhar mais realista do aparecimento de seres superpoderosos em um mundo idêntico ao nosso, assim como a mudança que este sofreria frente a tal surgimento. Uma série que resistiu ao tempo e inegavelmente um dos títulos mais importantes dos anos 1990.

Grendel

A criação genial de Matt Wagner tinha sido publicada na Comico. E a história do título seguiu por várias outras editoras, deu impressão do conceito original tinha se perdido, e Wagner não querendo de forma nenhuma que os direitos do personagem ficasse perdidos, após a falência de uma editora. Não vendendo sua parte num processo editorial, o autor lutou legalmente até que recuperou o seu conceito e começou a publicar novas histórias, ampliando seu mundo na Dark Horse. A primeira publicação foi Grendel: War Child, uma máxisserie de dez capítulos, onde Wagner explorou o entorno futurista do personagem Hunter Rose. E começaram a lançar, sobre aquele mundo pós-apocalipse, minisséries que podemos destacar Grendel Tales, com Darko Macan e Edvin Biukovic, tratando da Guerra de Clãs, ou James Robinson e Teddy Kristiansen, que narra uma história sobre os assassinos, ou ainda Steve T. Seagle e Paul Grist. Grendel segue aparecendo, em forma de crossovers com Batman ou com The Shadow, com  histórias que Wagner narra mais sobre o passado de Hunter Rose ou as necessárias reedições de seu material clássico. E tudo isso vale seu preço.

São esses alguns dos títulos que a editora trouxe. Tem muitos outros (segue uma lista abaixo), mas esses coloco como os meus preferidos. E os seus?

Nexus, de mike Baron e Steve Rude

 

The Umbrella Academy, de Gerard Way e Gabriel Ba

 

The Mask, de Mike Richardson e Mark Badger

 

Elfquest, de Wendy e Richard Pini

 

Madman, de Mike Allred

 

Danger Unlimited, de John Byrne

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Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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