REBOOT DC – Gol ou bola na trave?

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Estou acompanhando com interesse o burburinho em torno desse tal “reboot” da DC e só vejo fãs reclamando ou se deleitando com as possibilidades (finitas) dessas reformulações, mesmo com alguns autores vindo a público e revelando que essa reformulação não tem nenhum escopo criativo e muito menos planejamento editorial.

A  lista de criadores escalados para esta tal revolução é de meter medo até nos fãs mais radicais, Fabian Nicieza, Scott Lobdel, J T Krull e muitos outros (grandes autores) azeitam suas maquinas para levar a DC a disparar na frente com seus gibis arte nos chats de venda. Dentro desse gênero de super heróis a DC ao longo dos anos sempre ousou mais que a Marvel, talvez por questão de vendas no qual o dominio da concorrência é total.

Os  personagens da DC sempre foram mais excitantes para criadores capazes, foi lá que Frank Miller virou decano e  Alan Moore divindade e  Marv Wolfman provou que sem sombra de duvidas que é o melhor escritor de super heróis da década de 80, foi  lá também que Neil Gaiman chamou a atenção da critica literária para os quadrinhos e Grant Morrison provou que é o alquimista tecno supremo, foi lá que Garth Ennis trouxe a sacanagem de cunho político herético sangrento para os quadradinhos Yankees injetando neles uma gama de revolta politica e religiosa  abrasiva, e o que dizer da acidez politica e social  revolucionaria que Tim Truman imprimiu em Mundo Gavião que cutuca a herança de direita tão arraigada na cultura americana, ou da grã-finagem literária de James Robinson em Starman e a mini série “A  era de ouro”, obra prima meio que esquecida pelo pessoal da DC, ou do horror feito de concreto e ferragens de Jamie Deláno em Hellblazer, foi lá também que Warren Ellis se revelou alma gêmea de J G Ballárd (autor do livro Crash: Estranhos Prazeres, filmado por David Cronenberg) e legitimo filhotinho de grandes autores de ficção científica de tempos idos

A lista é grande , atravessa a década de 90 e segue até hoje, é este o motivo de minha desconfiança com esta dita revolução da DC. É notório o olho gordo da Warner no sucesso cinematográfico da Marvel, eles sabem que isso depende de coerência e sucesso editorial, mas em vez de seguir a fórmula vitoriosa da concorrência eles vão em direção contraria, designa Dianne Nelson como chefona executiva, sem nenhuma experiência neste ramo, para cuidar da DC, mantém Dan Didio com sua habitual incompetência junto com Jim Lee que é muito capaz, mas com poderes limitados e traz o famigerado Bob Harras para ser editor chefe, receita infalível para o fracasso

Nota-se uma estrategia eficaz de Dianne Nelson para não ser questionada e assim, ela transforma a DC no quintal de recreio de executivos que nada entendem de quadrinhos, só de lucros, enterrando assim uma tradição de renovação e vanguarda de décadas e empurrando a editora e seus iconicos personagens para um sistema de plataforma que visa acima de tudo licenciamento e merchandising

Se  até um cara como Mark Millar que adora se autopromover, vem a público reclamar dessas patacoadas é por que o negócio fugiu do controle. Há de se reconhecer que alguns autores escalados para este recomeço tem qualidades e vão dar o melhor de si para ajudar, mas será que terão paciência com engravatados buzinando em suas orelhas ?

Eu  acho que não, e assim a Marvel segue tranquila com seu dominio nas tabelas de vendas e acompanha sossegada o seu lento dominio tambem nos cinemas .

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3 thoughts on “REBOOT DC – Gol ou bola na trave?

  1. Nem gol, nem bola na trave. Ao que parece, se a DC não apresentar soluções mais, digamos, dinâmicas, a metáfora futebolística será “escanteio cedido” para a Marvel. Mais um, aliás.

  2. Não sei como tão surtando lá nos EUA, mas aqui os poucos que acompanhavam parecem que vão é chutar o balde.

  3. Excelente análise e hoje mais que comprovada