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Relendo “Asilo Arkham” de Grant Morrison e Dave McKean

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Durante um fatídico 1º de abril, os internos do Arkham conseguem tomar o controle do hospital psiquiátrico, sequestrando a todos que trabalham no centro. Liderados pelo o Coringa, os criminosos mais instáveis de Gotham City — Duas Caras, Crocodilo, o Chapeleiro Louco, entre outros— exigem uma única condição para liberar os reféns: que Batman esteja junto no Asilo.

Capa da edição da Panini

Em 1989, Grant Morrison e Dave McKean desenvolveram Asilo Arkham, uma das obras mais importantes da história dos quadrinhos. Mesmo não sendo muito aficionado por Asilo Arkham como muitos são, sou fã do Batman e de tudo que essa perturbadora obra traz. Quando a li, já me interessava por Morrison por seu trabalho em Animal Man e, além do mais, o estilo gráfico de McKean alucinava o mosaico de loucura.

Morrison é um roteirista provocador, pois gosta de se atrever em assuntos escabrosos para a maioria dos escritores de quadrinhos. É daquele que vão contra a maré.  E este Asilo Arkham surgiu do cenário deixado por Frank Miller e o seu Batman visto em  O Cavaleiro das Trevas e Ano um, uma racional e sólida caracterização do personagem como nunca se tinha visto antes. Tal foi a impressão que durante anos os autores posteriores do Homem-Morcego seguiram a mesma linha, na medida que eram capazes.

Já Morrison não. Ele retirou toda a força do caráter do Batman, o desnudou para convertê-lo em um menino ferido e assustado e o jogou no coração da loucura que se reunia em Arkham. Um argumento bem básico, mas que atrai pelos elementos contidos na história, recorrendo ao desenrolar do confronto pelo manicômio de Gotham e seus vilões clássicos. A história nos introduz em Arkham, literal e figuradamente, de forma gradual: o herói é informado da situação, tem o primeiro contato com o Coringa por telefone, entra no asilo e é recebido pelos internos e começam os jogos… e deste momento, que, sem spoilers, tratarei de analisar a experiência da leitura neste quadrinho.

Paralelamente à história protagonizada por Batman, é apresentado a vida de Amadeus Arkhan, a “origem” de tudo, tanto do asilo como da comunidade maligna de doentes que viveria no lugar. A vida de um homem que enlouquece pouco a pouco, mas mesmo percebendo sua demência, nada faz para impedir. Não entrarei nos detalhes argumentais, mas é sobre este enredo que as ações futuras recaem. Mesmo que Morrison tenha linkado com simplicidade as tramas, justificando o climax para o momento final, que chega autêntico, presenteia-nos com uma narrativa incomum.

“Às vezes… às vezes eu acho que o Asilo é uma cabeça. Estamos dentro de uma cabeça que nos sonha. Talvez seja a sua cabeça, Batman. Arkham é um país dos espelhos. E nós somos você.”

Metáforas a parte, com inimigos simbolizando a psiquê do herói, o que mais me chamou a atenção foi o Chapeleiro Louco, talvez o personagem que faz o leitor chegar mais perto de entender as intenções do roteirista, de colocar o Arkham como o mentor daquilo tudo e que isso tudo não seja mais que sonhos. O reflexo das imagens/cenas nos fazem pensar sobre o medo ou a loucura de todos os personagens e como estão suas mentes. É surreal, pois o autor desconstrói muitos dos icónicos vilões de Batman. E estranho, quando vemos o quão é desconfortável ver o Batman é tão frágil perante aquilo tudo como experiência onírica.

Morrison explicou que a caracterização que fez de Batman não era uma crítica ao personagem como ele foi representado nos anos 80, violento, decidido e quase psicopático, entretanto só uma versão e que não implicava que trabalhos futuros fossem semelhantes.  Como demonstrou em Legends of the Dark Knight: Gothic e na sua popular JLA, oferecendo duas visões muito diferentes de Batman vista nesta HQ e entre as citadas.

Não podemos esquecer da outra grande estrela de Asilo Arkham, Dave McKean, um ilustrador que conseguiu mostrar a loucura do Coringa tão graficamente, que somente mostrando seu rosto aterroriza. Compondo páginas impressionantes, com seu lado perturbador, com imagens e cenários que acompanham perfeitamente as ideias perversas do escritor e converte a narrativa gráfica em um autêntico quadrinho de terror.  Os quadros são compostos por todo tipo de apuro gráfico, amalgamando sombras, colagens, tecidos, tintas e fotografias. Se adapta a cada momento como convém à historia, chegando a desenvolver matizes tão sutis com a cena de fora do Arkham, variando para o interior para provocar no leitor reações de dúvida e de susto.

Após Morrison e Mckean tratar os muros desta instituição ser tão difícil, devem ter reformado Arkham de uma maneira, que parece de papel, pois cada ano encontramos os internos em fuga. Ironias a parte, Morrison fez um trabalho sem igual, daqueles que só faz uma vez.

PS: A Panini lançou uma edição em capa dura, que merece a atenção por trazer muita da história da HQ e dos bastidores, além de extras como desenhos originais.

Asilo Arkham – Uma Séria Casa em um Sério Mundo (Arkham Asylum: A Serious House on Serious Earth) — EUA, 1989
Roteiro: Grant Morrison
Arte: Dave McKean
Letras: Gaspar Saladino

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