The Technopriests: A genialidade de Jodorowsky no melhor sci-fi da história dos quadrinhos

Alejandro Jodorowsky, sem sombra de dúvidas, é o que se pode chamar de espírito criativo livre. Seus trabalhos se estendem do cinema à música, passando notoriamente pelos quadrinhos. É comumente citado por sua incrível parceria com o mestre Moebius em O Incal, HQ considerada por muitos amantes da nona arte como a melhor obra de narrativa gráfica já concebida, e com certeza o mais influente título de space opera da história dos quadrinhos. No campo do sci-fi, Jodorowsky produziu duas excepcionais iguarias, A Casta dos Metabarões, lançado entre 1998 e 2003 e sua obra prima do gênero, The Technopriests (1998 a 2006), ainda sem publicação nacional.

The Technopriests nos apresenta um cenário de ficção científica completamente desenvolvido e assaz complexo, reunindo uma profusão de conceitos que, em um primeiro momento, podem aparentar ser um excesso criativo, potencializando um desenvolvimento raso, por conseguinte. Conforme avançamos na trama, entrementes, percebemos que todas aquelas ideias estão interligadas por uma teia intrincada de verossimilhança, o que acaba por tornar aquele universo extremamente vivo e coerente.

O protagonista da trama, Albino, é um bastardo cujo sonho era tornar-se um “criador de jogos eletrônicos” junto à chamada Technoguild, uma espécie de grupo místico de desenvolvedores de games. O menino nascera em um parto triplo após sua mãe, Panepha, ter sido estuprada por três piratas espaciais; nesse mesmo evento, a mulher deu a luz a outros dois bebês: Almagro, um menino; e Onyx, uma menina, cada qual pertencente à raça de seu progenitor. Onyx e Albino, por terem aparência extremamente peculiar aos olhos da mãe – uma “humana” -, são tomados como mutantes e mal tratados durante toda a infância, enquanto Almagro é envolvido de mimos, tendo uma vida de príncipe.

Acompanhamos a história de Albino através da narração de suas memórias, já como um Supremo Technopriest. O personagem conta não só sua trajetória até se tornar o líder da Technoguild, como o que acontecera à sua família desde quando decidira ingressar na Technopriest School. O primeiro arco, Initiation, explora a educação de Albino junto à essa espécie de sociedade secreta, revelando todos os dogmas e segredos dessa faceta do universo de Jodorowsky, bem como apresenta a busca de sua mãe por vingança a seus violentadores de outrora, em uma tentativa de castrá-los.

As capas dos três livros
As capas dos três livros

É incrível como o argumento de Jodorowsky dialoga bem com o plot driven e character driven, quase que nos impedindo de definir um tipo distinto de plot. A trama concede uma importância muito grande à história dos personagens e, ao mesmo tempo, institui um fator emergencial e um valor muito acentuado ao universo apresentado, como se o futuro do mundo fosse tão importante quando o desenrolar da história de Albino e sua família. A concepção dos diferentes conceitos que classificam o álbum como sendo de sci-fi é muito pertinente, fazendo-os interagir muito bem com o roteiro e a bela arte do artista sérvio Zoran Janjetov.

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Os múltiplos universos é um ponto forte da trama

Há diversos níveis de argumentação crítica na obra, que tratam desde os problemas morais do ser humano – como o barbarismo, a ganância e a vingança – até a decadência da indústria dos games na atualidade. Na história, os jogos eletrônicos são tratados literalmente como realidades (virtuais) alternativas. Os mundos criados por intermédio de máquinas que se assemelham muito ao que entendemos hoje por computador, interagem fisicamente com a realidade material, representando uma força real (quase mágica) dos iniciados na arte da manipulação de realidades, tornando os Technopriests uma casta poderosa dentro da sociedade galáctica criada por Jodorowsky. É incrível como o argumento consegue mesclar tão bem conceitos de ficção-científica e misticismo.

Albino acredita que os criadores de games deveriam conceber realidades para inspirar, instruir e acalantar a mente “humana”, e se decepciona ao ver que a única preocupação de seus instrutores está em lhe passar conhecimentos de marketing, no intuito de torná-lo mais um vendedor que um criador de jogos. Tal passagem funciona como uma crítica direta à indústria de jogos eletrônicos. Posteriormente, o personagem “encontra” o fundador da Technoguild, descobrindo que o que ele acreditava ser o objetivo da casta era de fato o sentido da existência da mesma. Tal descoberta o inspira a prosseguir, no intuito de corrigir as falhas morais inerentes às decisões que guiam a classe.

As composições complexas de Janjetov
As composições complexas de Janjetov

A arte de Janjetov, juntamente com as cores e o tratamento computacional de imagens de Fred Beltran, acompanham brilhantemente bem os conceitos originais do argumento, tanto na ambientação do mundo virtual, como na concepção da tecnologia do universo e na ilustração de cenários complexos, que normalmente apresentam cenas de orgia e violência.

The Technopriests certamente é uma obra prima do sci-fi que nos apresenta incontáveis camadas de interpretação e conceitos profundamente originais. Recomendado a todos os adoradores do gênero.

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Comentários 1
  1. Incal é um lixo.

    Admirar Jodorowsky é como assistir Godart: ninguém entende e ninguém gosta, mas diz que ama pra parecer inteligente.
    Hahaha….

    Isso é ridículo.

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