Agon: Canta ó musa a cólera de Aquiles!

Agon: Canta ó musa a cólera de Aquiles! – Ambrosia
A bela arte de Matthias Kabel na capa de Agon

Sei que já resenhei um RPG com ambientação Grega essa semana, mas por coincidência, uma caixa de livros com RPGs indies chegou da Lulu, que devo dizer possui um excelente serviço, barato e funcional. Um destes livros é justamente Agon, um jogo extremamente bem desenvolvido situado na era de bronze.

Avaliando primeiro o lado estético, ao contrário dos livros de RPG mais tradicionais, Agon possui um formato retangular-horizontal, que pode causar algum estranhamento a primeira vista, mas realmente não é nenhum empecilho. Ele possui uma belíssima capa, infelizmente softcover, que a faz menos durável. A arte interna ainda que extremamente coerente apresenta problemas de originalidade já que as mesmas não foram produzidas para o livro, tendo sido reaproveitadas de reproduções gregas feitas no século XIX, o que não impede as mesmas de serem muito bonitas.

Herói grego

Agon é um jogo que inova também em proposta e nas mecânicas. Sua proposta é diferente por que o jogo estimula a competição entre todos os participantes, seja ela entre os jogadores e até mesmo destes com o narrador. Como assim? Bem, basicamente, o objetivo do jogo é se tornar o maior heróis de todos os tempos, cujos feitos estarão para sempre nas poesias dos aedos, isso é representado por aquele que acumular mais o atributo “lenda”. Toda tarefa bem sucedida no jogo gera pontos de Glória, de disputas físicas em competições atléticas entre os heróis, até a derrota de uma hidra, passando por discussões retóricas.

No entanto não só de rivalidades vivem nossos heróis, muito pelo contrário, afinal um dos participantes é o antagonista (nome bastante sugestivo). Ao contrário da maioria dos jogos, o narrador não é um deus onipotente que apenas conta a história. Para cada missão que os heróis são enviados (90% das mesmas por algum deus), ele tem um número de pontos pré-determinado para gastar em desafios, obstáculos e antagonistas, baseado no nível atual dos jogadores (não é nível, pois é determinado pelo nome dos mesmos, ou seja o quanto eles estão mais próximos de um status lendário) somado ao número de objetivos da missão: eles são chamados pontos de conflito (strife points). Geralmente eles são generosos o suficiente para enrascar completamente os jogadores, e existe um agravante, todas as vezes que desejarem, os heróis podem pedir um interlúdio no meio da sessão, ou seja, eles sentam, descansam e se recuperam de ferimentos. No entanto para cada vez que os mesmos clamam por essa opção (que o antagonista não pode negar), eles dão para seu inimigo quatro pontos de conflito, fazendo os próximos desafios potencialmente mais arriscados. Vale dizer também que estes pontos são revertidos em XP quando o desafio é superado.

Os testes e batalhas do jogo são muito bem pensados, e todos eles se beneficiam do uso da estratégia e do trabalho em equipe. Soma-se a isso o fato que todos os heróis são pessoas honradas que devem favores uns aos outros: toda vez que um jogador opta por ajudar o outro em uma tarefa, e é bem sucedido, ele faz com que o ajudado fique devendo ao mesmo. Por tanto existem muitas trocas de favores, ao longo do jogo, fazendo com que muitas vezes um herói seja obrigado a atuar diretamente no aumento da glória de outro.

Agon: Canta ó musa a cólera de Aquiles! – Ambrosia

O combate é completamente irreal, mas muito divertido, pois é inovador. Basicamente antes dos testes com as armas e os danos, temos uma fase de movimentação no plano (um grande retângulo dividido em tiras extremamente fácil de se entender, que demarca as posições). Nessa fase os jogadores que perdem a iniciativa podem mover apenas seus personagens, ao contrário aqueles que tiraram números maiores podem mover todos os combatentes com iniciativa mais baixa. Isso em tese pode ser ilustrado, por ameaças e fintas, que posicionariam tanto você como seu oponente na posição indicada. Essa fase proporciona coisas como troca de favores para que um jogador de iniciativa mais alta coloque o monstro a distância de espada de um outro herói forte, mais que ficou lento no resultado.

Como podem observar tudo é muito divertido e tem muita competição. Um dos aspectos mais interessantes é o conceito de destino. Todo personagem começa com o mesmo no mínimo e é obrigado a se retirar da partida quando alcança a pontuação de 20 neste atributo. Você só ganha destino, nada faz com que esta pool desapareça, ou seja, você sempre caminha em direção ao fim do jogo, por isso a necessidade de acumular mais lenda do que os outros. Você ganha pontos de destino de muitas maneiras: toda vez que completa uma missão, sempre que desejar escapar de todo dano de um ataque, para curar quatro debilidades (uma habilidade que ficou mais fraca pelo uso extensivo), toda vez que é derrotado em batalha e quando opta por desafiar um deus, isto é, não obedecer o seu comando.

Fora isso ainda existem as disputas fora de jogo, existe uma ficha de premiação que fica com o antagonista que possui dezesseis categorias de prêmios, oito determinadas pelo livro e mais oito determinadas pelo grupo. Elas são: Maior quantidade de dano em um ataque, maior rolagem de habilidade, maior número de bestas abatidas, maior número de homens derrotados, maior número de monstros derrotados, maior número de minions vencidos, mais dano recebido em um ataque e jogador mais valoroso. O livro sugere coisas como melhor interpretação do grupo, melhores idéias, e por aí vai. Um lugar nesse pódio adiciona glória ao seu personagem, potencializando a capacidade do mesmo de se tornar uma lenda.

Quando um jogador cumpre o seu destino, sua glória acumulada ilustra o sucesso do mesmo durante o jogo. Quanto mais níveis de lenda ele alcançou mais poderoso pode começar seu próximo personagem. A tabela de prêmios é sempre a mesma para os grupos de Agon, mesmo que todos os heróis nela, já tenham morrido há muito tempo. Isso incentiva mais ainda o espírito meritocrático do jogo.

Agon: Canta ó musa a cólera de Aquiles! – Ambrosia

Com um sistema inovador e extremamente divertido, Agon é uma das melhores idéias a aparecer no mundo do RPG nos últimos anos. Uma crônica funcional do sistema deve gerar muita diversão e competição entre todos os participantes, o autor John Harper certamente foi bem sucedido em sua iniciativa.

Para quem quiser saber mais sobre Agon, existe um demo disponível no site oficial.

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Comentários 3
  1. “Canta ó Musa, do pélida Aquiles, a coléra funestra que precipitou no Hades hérois sem conta!” Homero
    Eia! Juntemo-nos aos Hérois (no sentido “original” da palavra! Não a estes bárbarozinho incultos de D&D 4ª! hehehehe).

  2. Como já disse antes, esse RPG tem um tom bastante diferente e interessante, mas infelizmente eu não tenho nenhum interesse em jogá-lo. Essa questão dos jogados inimigos, que torna o jogo muito realista e lhe proporciona muito de seu crédito, não faz meu tipo de jogo…
    Mas ótima resenha!

  3. Jogo Heróico com combates irreais?! Opa, já da pra rolar umas histórias de Xena!
    Só vai ser duro todos os jogadores quererem jogar com o Joxer! (sim, meus players são estranhos)
    “debilidades (uma habilidade que ficou mais fraca pelo uso extensivo” quer dizer que quanto mais se luta, pior se fica no combate?
    ótima resenha!
    keep posting!

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