Quem acompanha as notícias do D&D 4e já deve ter ouvido falar sobre a linha Essentials. As informações que são encontradas por aí são muitas vezes conflitantes, sem uma definição clara do que seria essa linha. O que acabou por gerar afirmações de todo tipo, inclusive que ela seria um D&D 4.5e.
A história é longa e os produtos parecem ter passado por uma série de revisões e mudança de intenção ao longo do desenvolvimento, então o melhor é contar como tudo começou.
Faz alguns meses que a Wizards of the Coast divulgou que iria lançar uma linha nova de D&D, paralela à principal e servindo como material para iniciantes. Ela traria todas as regras necessárias para jogar 4e, mas com simplificações e organizada de forma a facilitar o processo de aprendizado do jogo. Também foi afirmado que a linha Essentials seria composta por um número limitado de produtos e não havia indicações que seu surgimento fosse influenciar a linha principal do D&D.
Depois de alguns meses foram divulgadas informações que essa nova linha de produtos passaria a ser compatível com a linha principal. Os jogadores poderiam usar material de um na outra, entretanto não havia divulgação de como isso seria feito. Ela servia então de linha para iniciantes para quem nunca jogou e fonte de material extra para os jogadores veteranos.
Foi divulgado também na época que seria lançado um livro que serviria de compêndio de D&D, trazendo “todas as regras do jogo”. Esse livro e a promessa de uma série de dungeon tiles (pecinhas para montar mapas que podem ser usadas em conjunto com miniaturas e muito usadas por jogadores de D&D) com material de sets antigos e já fora de produção, atraíram o interesse dos jogadores da 4e.
Uma reclamação comum entre os jogadores é a quantidade de erratas que os livros têm recebido. Um compêndio como o prometido eliminaria a necessidade de carregar as erratas e permitiria ter todas as regras atualizadas e um único lugar. Já os dungeons tiles prometidos vão trazer material de sets que hoje em dia alcançam até dez vezes o seu preço original. Considerando que o ideal é ter duas cópias de cada set, já dá pra imaginar como tem gente esperando por eles.
Nas últimas semanas foram dadas mais explicações. Até agora praticamente todas as classes lançadas nos Livros dos Jogadores e suplementos seguiam o mesmo formato para aquisição de poderes. Não importa ser um guerreiro, bárbaro ou mago, o número de poderes dos três personagens seria o mesmo em determinado nível, excluindo possíveis aquisições por habilidades raciais ou compra através de talentos. As classes do Essentials não vão ser assim, elas seguem progressões próprias e individualizadas. Os designers estão as chamando de sub-classes.
O guerreiro é um bom exemplo do que se esperar. Já foi lançada uma sub-classe, o Knight. Essa versão traz algumas mudanças menores na base do guerreiro – Diplomacy em vez de Streetwise, ganham treinamento com mais um tipo de armadura, etc. – e grandes diferenças nos poderes e habilidades.
Em vez de marcar com ataques, eles possuem uma aura que funciona quase da mesma forma, só que é mais fácil de acompanhar. A penalidade continua igual, -2 para ataques que não mirem no guerreiro, e afeta todos num alcance de 1. Entretanto, não existe a opção de fazer ataques básicos que a marca do guerreiro comum permite.
Em vez de poderes de ataque at-will, eles ganham stances. Essas são habilidades que podem ser “ligadas” quando o personagem quiser, e que modificam seus ataques básicos. Duas já foram divulgadas, uma que aumenta o dano desses ataques e outra que permite acertar um segundo oponente após um ataque inicial bem sucedido. Isso enfatiza o uso dos ataques básicos e permite a utilização de um guerreiro que não use de poderes com tanta freqüência.
A idéia dessa nova sub-classe é ter um guerreiro mais fácil de utilizar, que não use de mecânicas complexas e seja facilmente compreensível pelos iniciantes. Se um inimigo chegou perto, ele toma penalidade se não mirar no guerreiro. É esse tipo de raciocínio simplificado que os designers parecem querer adotar.
Olhando a tabela da classe é fácil notar outras diferenças em relação ao guerreiro normal da 4e. Exemplo: a ausência de poderes diários, a determinação dos poderes ganhos a cada nível e a aquisição de novas habilidades de classe após o primeiro nível.
Muitas dessas parecem ser também características das outras classes Essentials, uma tentativa de criar modelos mais simples e com menos escolhas para o jogador. Essa diminuição do número de decisões é vista como uma forma de simplificar as classes, permitindo que os jogadores tenham personagens eficientes dentro de seus papéis mesmo que não tenham conhecimento mecânico suficiente para determinar quais poderes seriam melhores para a classe.
Colocando de forma mais simples, e já que a comparação com videogame é algo tão comum nessa nova edição, é como deixar a opção Auto-Level Up ligada em um jogo eletrônico. As sub-classes automaticamente trazem boas opções para aquele tipo de personagem desejado dentro de cada nível, com um mínimo de necessidade de customização do jogador.
Esse novo modelo acaba lembrando edições mais antigas do jogo, onde existia um mínimo de customização e o sistema já pré-determinava diversas das habilidades que seriam ganhas.
Além das mudanças nas classes, foram prometidas mudanças em outros fatores do jogo, como as raças. Entretanto o que foi mostrado até agora teve enfoque nas classes, tornando difícil determinar o quanto essas outras características do jogo serão alteradas.
Com todas essas mudanças, já era esperado o começo das afirmações que o Essentials é um 4.5e disfarçado. Apesar da insistência de algumas pessoas, essa suposição foi rebatida quando os responsáveis pela linha esclareceram mais o seu funcionamento.
Nenhuma das classes da Essentials irá substituir as classes já apresentadas nos Livros dos Jogadores. A ideia é que elas funcionem de modo paralelo. Um jogador pode escolher o guerreiro do LdJ 1 ou uma das sub-classes do guerreiro no Essentials. E eles podem estar no mesmo grupo sem que um atrapalhe ao outro. Da mesma forma, o material da Essentials está sendo feito de forma a ser compatível com a 4e ‘normal’, podendo ser utilizado em conjunto sem problemas. Já foi afirmado também que os poderes disponíveis poderão ser usados tanto para personagens da linha Essentials quanto para os veteranos, garantindo material novo para os jogadores que usam as versões comuns das classes.
Existe ainda um problema apontado pelos fãs e que não foi tratado por nenhum dos responsáveis da linha. Em diversos pontos, é dito que o Essentials irá trazer uma nova maneira de criar classes, uma nova maneira de encarar o futuro do D&D. A dúvida é exatamente o que eles querem dizer com essa “nova maneira” de fazer as coisas. Se isso significar que o modelo padrão para os próximos suplementos será a Essentials, então existirá uma diminuição sensível na quantidade de material novo a ser disponibilizado paras as classes antigas. O que, mais uma vez, gerou discussões sobre uma 4.5e.
É importante lembrar que esse é um questionamento levantado por fãs e ainda sem resposta. Mas é uma teoria que tem começado a chamar atenção, pois algumas lojas já informaram que foram aconselhadas por seus distribuidores a fazerem estoques dos três livros básicos do D&D, porque eles seriam descontinuados em favor da linha Essentials. Como foi afirmado pela WotC que essa nova linha teria uma quantidade limitada de livros, isso torna a situação ainda mais confusa.
A Essentials parece ter mudado de direção tantas vezes ao longo do seu desenvolvimento que já se torna difícil imaginar o que ela vai acabar se tornando. Minha suposição é que tudo vai depender das vendas da linha. Se ela vender muito bem ela deve se tornar o padrão do jogo, e mesmo que continuem o suporte aos livros antigos, ela irá influenciar muito os futuros suplementos do jogo. Ou seja, coisas mais simples, mais classes com construções que não seguem o padrão, poderes mais fáceis de lidar. Se ela não fizer o sucesso esperado, então o modelo atual deve prevalecer e as coisas continuam como estão.
Semana que vem teremos a Gen Con, onde a Wizards of the Coast deve trazer mais esclarecimentos sobre a coexistência das duas linhas e, com sorte, uma definição melhor do que a Essentials irá representar para o D&D 4e. Tomara, porque todas essas suposições e discussões sobre algo que não foi lançado já estão ficando cansativas.
Cara, post fantastico! Ótima estreia Kimble! Eu to achando que esse novo D&D vai ser uma versão 4.5 mesmo. As mudanças parecem melhores que o original…
Ei, coloca aí na Bio que o Kimble tem dois pés direito e os usou aqui no Ambrosia!
O texto está excelente!
Tenho que agradecer pro pessoal daqui por isso. Tive muita ajuda e a revisão melhorou bastante a versão final 🙂
Muito bom o texto!
Ótimo post Cesar/Kimble, parabéns…
Mas, pô, que merda, justo agora que eu dei o braço a torcer e comprei os livros basicos da quarta edição! =P
Caraca! Escelente matéria! De verdade
A dias ando procurando uma fonte de informação util e aqui eu achei esse maravilho e completo texto! rs
Bem, eu assino o DDI, e espero apenas que eu continue a ser atualizado. Desde que comprei os livros da 4E , e assinei o DDI, nunca mais precisei dos livros 😛
As erratas sao um motivo, mas é realmente mais fácil utilizar as ferramentas online para narrar.
sem mais, um parabens adicional ao texto!
Abraços e muito xp a todos!
Saudades do D&D. Mas do D&D mesmo, que pra mim, ficou bom em AD&D e simplificou o bastante pra ficar jogável sem questionamentos no Dnd3. Cada dia que passa, Dnd4 se tranforma mais em World of Warcraft "off-line".