FICA 2018 – O segundo dia da Mostra Competitiva

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O segundo dia da mostra competitiva do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) mais uma vez trouxe a união da arte e do discurso sobre questões ambientais. Desapropriação, uma doença rara, tradição artística indígena foram alguns dos motes das produções. A experiência sensorial criada para falar sobre o curso dos ventos no Ceará em “Aracati” (foto de capa) foi um dos destaques. Confira abaixo a opinião sobre cada um:

Nanã

O orixá ancestral, a grande mãe, Rainha da lama, de onde veio o ser humano, dá nome ao filme passado no território em trânsito do Suape, em Pernambuco. A gentrificação abre espaço para o discurso de integração com a Terra, assim com a denúncia das desapropriações que ocorrem na região.
Em entrevista durante o FICA, o cineasta Rafael Amorim disse: “durante a pesquisa do filme presenciei uma ação da milícia que atua na região em nome do complexo portuário de Suape. É um grupo de uma empresa de segurança privada que atua aterrorizando a população, chegando ao extremo de ‘confiscar’ materiais de construção até demolir casas” (via Cine61).
Misto de ficção com documentário, é um filme que propõe um debate pertinente, mas a compreensão é maior para quem está inteirado do contexto. Carece de uma contextualização mais clara para que a narrativa ganhe força. Ainda assim é um projeto bem realizado pelo diretor.

Cotação: Muito Bom

Sensibile

O longa do diretor italiano Alessandro Quadretti aborda um tema científico pouco conhecido, mas não tão raro quanto se pensava: a Sensibilidade Química Múltipla e a Hipersensibilidade Eletromagnética. Na primeira, as pessoas acometidas da enfermidade são intolerantes à exposição de substâncias químicas. Já no segundo caso, o problema está relacionado aos campos eletromagnéticos.
O documentário mostra a história de pessoas na Itália que levam uma vida peculiar devido aos cuidados que têm de tomar em relação a coisas do cotidiano como celular, antenas de rádio e até mesmo se privar do convívio social. Em muitos países a doença não é reconhecida – como na própria Itália, onde os pacientes precisam ir ao exterior para se tratar – e a maioria das pessoas portadoras são mulheres (75%). Tanto que no documentário apenas um homem é entrevistado.
O alerta que fica é para o modo de vida do mundo moderno e o impacto que causa no ambiente, o que fará com que em alguns anos o número de portadores pode crescer a números assustadores.
Cotação: Muito Bom

Diriti de Bdé Buré

É um curta documentário sobre a vida de uma indígena mestra ceramista, que fabrica bonecas karajás. O filme aborda a perpetuação das tradições nas conversas dela com sua neta, a transmissão do seu conhecimento de cerâmica e também da relação com a natureza. Chama atenção o belíssimo trabalho de fotografia.

Cotação: Bom

Frequências

Foi sem dúvida o mais experimental e sensorial do dia. O pernambucano Adalberto Oliveira utiliza o Farol da Barra no Recife como catalisador de uma experiência de luz movimento e formas geométricas.
Cotação: Bom

Aracati

O documentário segue a chamada rota do vento Aracati. É um passeio pelo Vale do Jaguaribe, no Ceará, partindo do litoral até adentrar o interior. A proposta de uma experiência sensorial do anterior também é perceptível, mas ela serve muito mais para costurar a narrativa que trata da relação entre homem e paisagem, da coexistência do natural e do artificial. Poderia ser um pouco mais curto do que seus 62 minutos. Alguns cortes não prejudicariam a mensagem. Ainda assim, é relevante dentro de sua proposta artística.

Cotação: Bom

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