O universo televisivo do canal The CW se expande cada vez mais; e em todas as direções, criando um multiverso como o das HQs. O
Arrowverso incorporou Black Lightning, Batwoman e mais recentemente a série da Stargirl. E isso sem contar Superman & Lois, que será lançado em 2021, com Tyler Hoechlin novamente como Superman e Bitsie Tulloch como Lois Lane.
É claro que este universo como cenário está valendo a pena pois, de outra forma, um personagem como Stargirl poderia nunca ter tido essa oportunidade, embora a heroína já tivesse feito outras aparições em séries anteriores, como Smallville e Legends of Tomorrow.
Interpretada por Sarah Gray, nesta última, mas que para a nova série, os showrunners Geoff Johns e Melissa Carter preferiram escolher a jovem Brec Bassinger para o papel.
Análise
A história nos apresenta a origem de Stargirl, indo de uma mera estudante do ensino médio para abraçar o legado de Starman e da Sociedade da Justiça da América. E é nesse ponto, que a série ganha nossa atenção.
A capacidade de imaginar é uma das dádivas mais poderosas do ser humano. O imaginar tem como sinônimos, criar. O showrunner Geoff Johns é conhecido por criar, histórias de novos mundos, novos cenários, é um contador de histórias e um criador de personagens. E entre os vários que criou, Stargirl, é ligada emocionalmente ao roteirista, uma homenagem sincera à sua irmã falecida numa tragédia. Não é à toa que ele tem estado ativamente envolvido em trazer essa adaptação do personagem para a telinha.
E há muita ênfase na palavra adaptação. Johns e os demais responsáveis pela série não buscam transferir a Stargirl dos quadrinhos para a TV, e sim adaptar todo o conceito, a essência da personagem a um ambiente onde a narrativa e o ritmo visual são muito diferentes do que pode ser experimentado nos quadrinhos.
Temos uma série que recolhe os valores e a essência da ‘Era de Ouro’, o mundo pródigo ligado a Sociedade da Justiça da América, expressando de uma forma que possa parecer válida para o espectador. E a maneira escolhida, foi através de um dos conceitos mais sólidos da DC Comics, o de legado.
Trazer a Sociedade da Justiça (Justice Society of America) para qualquer tela, cinema ou televisão, é algo que exigiria um enredo denso e um esforço financeiro para que quem assistisse pudessem confortavelmente entrar na ideia de um grupo pré-Liga da Justiça. Um grupo que tinha em suas fileiras todo o ideal de uma geração e representava os primeiros personagens super-heróicos em quadrinhos.
A série da Stargirl com um roteiro mais simples e um orçamento menos substancioso pega um atalho e não fala da JSA em si, mas traz a inspiração que a equipe faz para uma nova geração de heróis e heroínas. Ideia que já apareceu nos quadrinhos, antes da Crise nas Infinitas Terras, com uma série regular, da Corporação Infinito um grupo de descendentes diretos ou indiretos da JSA que assumiu o manto de seus antecessores para encarnar uma nova geração de combatentes do crime.
Johns com isso em mãos cria uma série com um toque jovem, livre dos laços clássicos, com a qual desenvolver uma história de corte simples, onde inverte algumas coisas, como ligações familiares. Há homenagens, há piscadelas, são inúmeros os detalhes perdidos nas ruas da cidade que dão um sabor a mais a uma produção que não cai nos vícios das produções CW.
Stargirl usa o gênero superheróico para levar ao espectador a sensação de que é uma canção de amor para a nona arte. Cada episódio traz aventuras que transmitem esse sentimento, onde cada personagem segue um alinhamento que evolui ao longo da temporada.
O desenvolvimento de cada um é fundamental dentro do cenário construído, onde meros personagens presos em um prisma emocional muito específico evoluem, quebrando seus próprios limites, chegando a um patamar que parecia impossível no início da temporada.
Já em relação aos dois lados, tanto dos super-heróis, quanto dos vilões, as diferenças não está no tamanho de seus traumas. Na verdade, todos sofreram traumas no passado ou estão sofrendo no presente. É transformar toda aquela dor, essa frustração, aquela tristeza, e transformá-la em uma força para mudar as coisas para melhor. E isso é muito bem acertado.
Neil Hopkins como o Mestre dos Esportes, Neil Jackson como Jordan Mahkent/Geada, Nelson Lee como Dr. Ito/Dragon King e Joy Osmanski como Tigress
A história percorre o mesmo caminho de entusiasmar o espectador com uma aventura com um grande sabor da Era de Ouro, que brinca com outras produções com pretensões muito mais elevadas do Universo CW. A simplicidade e a elegância do enredo, sem colocar níveis elevados inacessíveis, tornam a série um produto agradável a qualquer público, mesmo sentindo que o peso do Sociedade da Justiça é enorme, mas não opressor a ponto de criar uma série apenas para conhecedores.
Seu enredo, juntamente com sua paixão por adaptar a essência dos quadrinhos, fazem de Stargirl uma série charmosa. Sem spoilers, mas a série não carrega aquela tensão de Patrulha do Destino (HBO) ou Titãs (Netflix), mas traz drama familiar e humor, sem brincadeiras incessantes e referências constantes para satisfazer o telespectador mais experiente, enquanto tudo é temperado de uma forma muito especial com um elenco de vilões que são puro quadrinhos.
Uma série para curtir e sem dúvida, foi uma das agradáveis surpresas deste 2020 que nos deixou com vontade de mais aventuras da Courtney. Assistam e que venha a segunda temporada.
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