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As Conchambranças de Quaderna, de Ariano Suassuna, ganha temporada em São Paulo

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Com direção de Fernando Neves, As Conchambranças de Quaderna, obra de Ariano Suassuna, ganha sua primeira montagem paulistana. O espetáculo estreia no dia 18 de outubro (segunda, às 19h) no Teatro Sérgio Cardoso.

A montagem traz o universo fantástico de uma farsa de circo sertaneja com pitadas de pura realidade cômica. Neste espetáculo, Suassuna transporta para o palco o personagem Pedro Dinis Quaderna, de seu Romance d’A Pedra do Reino, lançado em de outubro de 1971, em Recife, um ano após o lançamento do Movimento Armorial. Portanto, Quaderna completa 50 anos junto ao lançamento do espetáculo. Trata-se de uma comédia de caráter popular e de diálogo direto que une a estética sertaneja, inspirada no romanceiro nordestino do trovador ibérico ao circo-teatro, que tanto fascinava Ariano, para apresentar os imbróglios de Quaderna.

A direção de Fernando Neves, mestre no ofício do circo-teatro, conta com a colaboração do artista plástico Manuel Dantas Suassuna, na criação visual da obra e nas pinturas exclusivas dos telões do cenário, e com figurinos assinados por Carol Badra. Na criação musical, o talento e a criatividade de Renata Rosa (cantora, compositora e rabequeira) e de Caçapa (arranjador, violeiro e compositor pernambucano premiado) que construíram em dupla a paisagem sonora. E dando vida à brincadeira teatral está um elenco de atores/cômicos: Jorge de Paula, Fábio Espósito, Guryva Portela, Henrique Stroeter, Carlos Ataíde, Bruna Recchia e Abuhl Júnior, trazendo o circo pela estrada.

“Conchambrança” é uma corruptela de “conchamblança”, que significa conchavo, combinação. Foi na forma de “conchambrança” que Suassuna ouviu a palavra pela primeira vez, no sertão da Paraíba (Carlos Newton Jr). Forma que se ajusta perfeitamente ao universo da peça, uma vez que o protagonista Quaderna (interpretado pelo pernambucano Jorge de Paula) conta suas lembranças em narrativa direta.

A peça completa é composta por três imbróglios em que Quaderna toma parte, fazendo uma série de conchavos para resolver situações, tirando proveito de tudo e de todos como é esperado de um bom pícaro. Devido às medidas sanitárias e ao distanciamento social durante a pandemia do coronavírus, esta produção apresenta o primeiro ato da peça: O Caso do Coletor Assassinado. Quaderna usa sua astúcia para driblar as tensões entre o sertão e a cidade para resolver uma crise política entre o governo do estado da Paraíba e o seu Padrinho e protetor Dom Pedro Sebastião (líder da oligarquia rural), durante as investigações sobre um “suposto” desfalque dado pelo coletor de impostos da cidade.

Na versão para o teatro, Suassuna traz uma das facetas do seu Quaderna: alma de palhaço de circo popular, um rei lunático do sertão, astrólogo, intelectual sertanejo e imperador do Sete-Estrelo do Escorpião. O Quaderna do palco é divertido e sedutor, combinando os arquétipos tanto das manifestações e brincadeiras populares quanto do povo sertanejo. Com humor ácido e preciso, a peça é uma obra rica e delirante que fala para todos os públicos. O texto envolve a plateia em um jogo de ‘sobrevivência’, com truques para driblar as armadilhas e com astúcia para sobreviver. Quaderna – rei e palhaço – é um personagem rico de personalidade megalomaníaca e exuberante, autoproclamado imperador, um verdadeiro pícaro e gracioso palhaço de circo popular.

A concepção de Fernando Neves é uma reinterpretação do circo-teatro, estética à qual se dedica, há quase duas décadas, junto ao grupo Os Fofos Encenam e, desde a infância, com a sua família Santoro Neves. É uma junção do circo-teatro com a obra de Suassuna. O diretor ressalta que no eixo da encenação está o protagonista com seu tipo e temperamento. “A questão técnica deve ser preciosa na composição do ator: tempo e ritmo são fundamentais para o protagonismo de cada cena”, comenta.

A trilha sonora, assinada por Renata Rosa e Caçapa, confere o espírito festivo à peça. A música, segundo o diretor, é o chão para as personagens, potencializa os dramas e as sonoridades incidentais ajudam a revelar emoções, sensações e reações. “A peça é como uma partitura. A música no circo-teatro cumpre funções importantíssimas. É tema das personagens, cria o clima das cenas e dá o ritmo e o tempo para a atuação, revelando estados emocionais e ligando as situações que preparam o público para o final”, afirma.

O cenário com painéis de Manuel Dantas Suassuna, com traços e elementos característicos da cultura popular do nordeste, ambienta as cenas no universo visual de Ariano Suassuna. “Tivemos a sorte de contar com o talento de Dantas Suassuna, alguém que vive e faz essa cultura que estamos abordando, que nasceu inserido nela”, comenta Fernando Neves.

“Trazer Suassuna para o circo é juntar padrões que estavam separados pelas escolhas estéticas e de conteúdo dos artistas criadores do circo-teatro no Brasil. Trabalhando com o melodrama e o vaudeville, o circo-teatro seguiu um caminho menos crítico com histórias recheadas de heróis e heroínas vitimizados por vilões, que eram castigados no final diante do triunfo da virtude”, argumenta Fernando Neves. Ele explica que o circo-teatro caminhou, até meados do século XX, criando conceitos refletidos na geografia da cena, na cenografia de telões pintados e gabinetes, na música e principalmente em personagens arquetípicos, calcados na tipologia dos atores. “Os elementos e conceitos criados pelo circo-teatro são os melhores anfitriões para receber a dramaturgia corrosiva de Ariano Suassuna, mágica, sem vínculo psicológico, repleta de metáforas”. Ele finaliza: “o encontro da commedia dell’arte com o circo-teatro, que tem como base a primeira, traz um sentido histórico de ascendência artística que se enriquece com a incorporação de elementos do teatro popular nordestino, repleto de fantasias e impregnado da loucura criativa de Ariano”.

Suassuna teve contato pela primeira vez com o teatro dentro de um circo, nos melodramas e espetáculos de mamulengos (teatro popular de boneco nordestino). As apresentações aconteciam em circos pobres que chegavam à Taperoá. As Conchambranças de Quaderna marca a retomada teatral do autor, em 1987, depois de 25 anos se dedicando a outras vertentes literárias e artísticas. A peça é composta por três atos: “O Caso do Coletor Assassinado” (que é encenado nesta produção), “Casamento com Cigano pelo Meio” e “A Caseira e a Catarina ou O Processo do Diabo”. Teve apenas três montagens – em Recife (1987 e 2004) e no Rio de Janeiro (2011) – e foi publicada somente em 2018, no teatro completo e em texto individual.

Ficha técnica

Texto: Ariano Suassuna. Direção: Fernando Neves. Elenco por ondem de entrada: Jorge de Paula, Fábio Espósito, Guryva Portela, Henrique Stroeter, Carlos Ataíde e Bruna Recchia. Músico ao vivo: Abuhl Júnior. Cenografia: Manuel Dantas Suassuna. Assistência de cenografia: Guryva Portela. Trilha sonora: Renata Rosa e Caçapa. Pinturas e desenhos exclusivos para a montagem: Manuel Dantas Suassuna. Cenotécnica: Marcos Tadeu e Marcelo Andrade. Figurino e Adereços: Carol Badra. Assistência de figurino: Bruna Recchia. Costureira: Maria José de Castro. Criação de luz e operação: Rodrigo Belladona. Identidade visual peças gráficas: Ricardo Gouvêia de Melo. Produção: Beijo Produções Artísticas e Cia Vúrdon de Teatro Itinerante.

Serviço

Espetáculo: As Conchambranças de Quaderna
Estreia: 18 de outubro. Segunda, às 19h
Temporada: 18 de outubro a 11 de novembro. Segunda a quinta, às 19h
Gênero: Comédia. Duração: 60 min. Classificação etária: 12 anos
Ingressos via plataforma Sympla Streaming.
Presenciais (também na bilheteria): R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia)
Apresentações online: ingressos grátis pela Sympla.

Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno
Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo/SP.
Bilheteria: (11) 3288-0136 – (11) 3882-8080 | Ramal 159.
Atendimento de terça a sábado (14h às 19h) e 2h antes das sessões.
Capacidade: 143 lugares + 6 espaços de cadeirantes.

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