Um violão toca no escuro e no palco profundo do teatro mostra-se os personagens instalados.
Uma canção em castelhano é cantada ao vivo nos dando boas-vindas e sentimos que estamos em território latino-americano com o virtuosismo da falência das grandes paixões.
Entramos na aventura de uma senhora viúva em sua sala com o quadro do ex-marido com uma coroa de flores. A memória dela é utilitária pela falta da presença do falecido.
Na vida difícil de recursos materiais, roubar de seu filho mudo provoca a fúria do mesmo, em expressões caricaturais, distorcidas pelo corpo que quer imprimir o absurdo. No critério dela ele é um avarento o vínculo beira a desordem de padrão. Enquanto o filho agoniza de raiva pela mãe fraudulenta, que lhe rouba os tostões, a velhaca avacalha ele e o submete pela ardil habilidade da fala estridente. Lhe oferece o ventre obscenamente e diz que antes do parto leva pontapés para sair e o provocando ao dizer que na vida adulta todo homem busca entrar novamente para o útero da mulher.
Outro quadro suaviza a sexualidade da anterior, uma canção por uma atriz enquanto varre e sai de cena.
Volta ao desejo desta mãe que rouba o filho para promover uma orgia entre mendigos e diz a falta que faz o bigode se mexendo de seu falecido marido enquanto falava.
Uma menina na boca do palco, se esconde do avô, encolhe as saias da escola enquanto mira seu observador ao longe, mas num gesto ligeiro logo retorna para casa. Outra vez vem com a mala e foge de casa, senta-se e pensa se seria perdoada pelo avô um dia, o amor a faz crer que sim e considera que seu amante se orgulharia de sua decisão de ir para ele. Trabalhando num cabaré a vemos cheirando pó que causa briga com o amante pelo gasto do dinheiro, histericamente diz que o que ganha é seu.
Um sujeito de terno e chapéu, conta de si; não se sabe se é real ou efeito do álcool, tem as chaves mas não sabe o caminho do trabalho, quer beber mas não acha seu dinheiro, vai para casa pedir dinheiro ao locatário travesti que compra o absurdo sarcasticamente.
Outro vem com uma caixa na cabeça cantando La cucaracha, aleijado de uma perna, conta a história da guerra e pede esmola a platéia e como tá difícil doar balas.
Uma mulher louca e transtornada assumidamente se considera com sucesso e vai para a orgia.
Encontramos o bêbado, o aleijado, a louca e uma banguela na orgia da velhaca.
O interesse é pela comida e uns trocos, realizam as fantasias da viúva vestindo-se de coronel, bispo, governador…
Chega a bela mocinha do cabaré, apresentada por seu marido cafetão, ela dança flamenco e introduz a orgia entre os mendigos que termina no assassinato da velhaca estridente.
Todos fogem e seu filho se retorce em grunhidos a sua morte.
É um drama grotesco, a condição paupérrima e desesperada dos personagens com a depravação de quem os alicia reduz a pó a quimera e a riqueza está no teatro, oralidade, figurino, performance e que a mensagem é que em todas as esferas há a exploração do homem pelo homem. O acontecimento é a finalidade que brota a criação assim como os maus tratos geram uma apreciação desejosa.
Texto e Direção: Hugo Villavicenzio. Elenco: Mila Rey, Rita Lacerda, Rosa Freitas, Edgard Galvão, Eliana Velasco, Júlio Sbarrais, Alejandra Flores e Antonio Bevilacqua.
Datas/Temporadas: Temporada: até 31 de Maio
Sessões: Sextas e sábados, às 20h30 (sessão extra dia 31, domingo, às 20h30)
Onde: Teatro Studio Heleny Guariba
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