Teatro

Musical "O Grande Circo Místico" não alcança a dimensão de sua representatividade

Compartilhe
Compartilhe

O Grande Circo Místico é uma obra marcante para memória afetiva de quase toda uma geração. Seja pelo espetáculo do corpo de baile do Teatro Guaíra (1982), seja pelo disco contendo a clássica trilha sonora, existe uma espécie de apropriação emocional do que diz respeito ao poema de Jorge Lima, com notórias composições de Edu Lobo e Chico Buarque.
A nova versão que está em cartaz no Theatro Net Rio, tem o roteiro de Newton Moreno e Alessandro Toller, com direção do cada dia mais prolífero na área, João Fonseca. Pontuar as ricas músicas da trama com uma dramaturgia corrente parece ter sido o grande desafio dos autores, que se pautaram na história de amor desmedido entre uma domadora de cavalos de uma trupe circense e um médico. Inspirados no alto teor de criticidade metafórica das letras, construíram a narrativa sob a iminência de uma guerra que transcorre pelo estabelecimento onírico do fluxo da ação. Essa tentativa se esgota nas cansativas três horas de duração do espetáculo. E a direção de Fonseca é falha ao dimensionar a ideia mambembe de seu “circo” com marcações anti-climáticas (algo bem nítido na abertura) e um incômodo ruído entre a linguagem musical frente as determinações integralmente teatrais.

banner_610px-335px

Ao reforçar o lirismo acaba por cair quase sempre num certo artificialismo, atrapalhando a fluência dramatúrgica de sua história. Ou seja, o musical vira um grande sucessão de devaneios e objetivações dramáticas.
Há bons momentos, principalmente nas cenas com os “cavalos” e nas soluções cenográficas (destaque para os figurinos e coreografias). O elenco – encabeçado pela ótima Letícia Colin e pela segurança cênica de Fernanda Eiras – têm desempenho desigual, reforçado pela direção solta em momentos desperdiçados como as que envolvem as canções “A História de Lili Braun” (carente de “presença” cênica) e “Sobre Todas as Coisas“.
O Grande Circo Místico é tão complexo em sua conjuntura criativa que reproduzi-la deve ser mesmo um desafio atroz. Isso fica bem claro pela dificuldade clara de transpor isso para o palco nessa nova versão. A intenção, até para novas geração, é boa, mas o circo dessa vez, foi apenas circo. O místico ficou na memória afetiva.

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
AgendaTeatroTecnologia

Espetáculo traz IA para à cena teatral

Com o desafio de integrar tecnologia e linguagem digital em um espetáculo...

AgendaEducaçãoTeatro

Oficina gratuita “Cidade Imaginada” em Porto Alegre

Promovida pela Cia. Rústica — um dos mais premiados grupos teatrais gaúchos —, a oficina...

AgendaTeatro

“Circuito Carioca de Arte de Rua” chega a Realengo

O “Circuito Carioca de Arte de Rua” chega ao Parque Realengo Susana...

AgendaTeatro

Espetáculo gratuito “A Riscar” no Teatro Arthur Azevedo.

Com a missão de propagar a memória do Circo como linguagem artística...

SEER Performance de Tamara Gvozdenovic e Kangding Ray
AgendaDançaTeatro

Festival Internacional de Dança Contemporânea em fevereiro no CCSP, Biblioteca Mário de Andrade e Escola de Dança de São Paulo

O evento, completamente gratuito, destaca-se por performances de artistas internacionais e workshops...

AgendaEntrevistasTeatro

Marllos Silva fala da trajetória de “Kafka e a Boneca”

Ator, diretor teatral, dramaturgo, produtor teatral, arte educador, pesquisador teatral e iluminador....

AgendaTeatro

Vanessa Macedo faz apresentações gratuitas do solo La Mariposa em São João da Boa Vista

Espetáculo explora a estética da “dança depoimento”, buscando a construção de uma...