Sobre o neoliberalismo é a introdução de “A Tragédia Latino-Americana” e “A Comédia Latino-Americana”, este espetáculo com Javier Drolas. Tragédia porque a obtenção de poder no mercado é por uma operação invisível e sem didática e uma vez adquirido o que não se apresenta, presta a idéia de funcionamento às claras e resoluta oportunidade de crescer trabalhando sob leis. A comédia depende do ponto de vista do espectador que pode ser um neoliberal poderoso a rir dos figurinos de Mickey, Índio, Televisão, Português, Alemão com cabeça de papelão cantando a tragédia latino-americana.
Uma vez introduzida a desgraça das leis invisíveis do mercado todos os atores personificados de ícones que sustentam o cenário de uma América Latina, incluindo o Brasil. A América construída e mantida pela exploração. Daí, os componentes em cena derrubam blocos de isopor para trazer o pensamento que a própria crítica se dissolve na matéria que forja uma estrutura alinhada ao poder. Uma vez assim despedaçada, é a vez de Caio Blat manifestar-se com “Catatau” de Paulo Leminsky e fumando erva: “Duvido se existo. Se este tamanduá existe, quem sou eu?”, indaga Descartes. Leminski expõe com humor e perspicácia o desconcerto do pensamento cartesiano ao se deparar com a extravagância tropical.
Com o cenário de blocos de isopores, anteriormente formando um paredão, agora, ao acaso um amontoado ganha notoriedade por argumentos de reserva de museu, que contempla ao sabor das palavras de Camila Márdila sustentado por improviso típico de estima de local de conservação e articulação de valor para feitos, feitos, por quem?
Caco Ciocler traz pantomima cômica de francês. Com sotaque arrastado na sua narrativa de imigrante é confundido com português pelo índio brasileiro. A revolta deliciosa de ser francês legítimo e não compreende o sistema de exploração colonial. O português não é cortês para o personagem que se encanta com as índias, jovens mães, corpo nú e introdução de sua cultura sexual exemplificando a antropofagia no aprendizado do amor das práticas francesas para o entendimento de “Metáfora” para o índio. Do homem índio não entende mesmo homens de corpo pintado, porque eles consomem uns aos outros no ato de canibalismo e seu pensar pintura renascentista de perspectiva de uma cabeça que pensa em emoldurar objeto de arte causa horror no homem primitivo.
Há uma assembleia em torno de uma negra, o elenco inteiro em clima de improviso, denúncia, do padre, do senhor, da mulher; defendem, acusam, protegem, conservam, libertam a questão colonial de herança religiosa e escravocrata de que neste tribunal Maria Gal com olhar, fala percebida.
O duplo da mulher: o ato e o escondido, a percepção da experiência e a memória da experiência causa uma dicotomia do belo texto dividido entre Georgette Fadel e Magali Biff de alguma narrativa fantástica ou realismo mágico.
Julia Lemmertz, de pensamento ágil, ácido e cítrico e Javier Drolas, de humor tosco, porém engenho da palavra, que passa por estar em situação. Ambos em discussão inerte, em lugar nenhum o extrato é a caminhada, onde a idéia cabe mas o afeto é alterado por uma verdade cínica que retrata o vazio da modernidade afetando o indivíduo, despersonalizado ao seu contrário que a fala esclarece e extingue o sentido e o sentido é propriamente conduzido pelo argentino. As participações de Caco Ciocler trazem o ofício imaginativo que o ator tem poder se levantar estruturas com a palavra e ação, a juventude aventureira de Camila Márdila que acrescenta a questão do corpo, esta coisa torta e renegada que não tem resposta, Georgete Fadel e espírito crítico e Rodrigo Bolzan apresentam o ritmo e autoridade do tipo que não sabe brincar.
Ao final, contra ou a favor da modernidade? Traz de lá de trás a empatia e teologia.
Elenco: Caco Ciocler, Caio Blat, Camila Mardila, Georgette Fadel, Javier Drolas, Julia Lemmertz, Magali Biff, Manuela Martelli, Rodrigo Bolzan e Maria Gal.
Direção Musical e Arranjos: Arthur de Faria
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