Já estamos em mais da metade de 2011 e já podemos esboçar algum retrospecto de muitas coisas que pipocaram durante esse ano até agora. E The Killing figura entre um das melhores séries do ano. Mesmo sem tanta badalação (como Game of Thrones), apesar da extrema qualidade e de estar na mesma emissora americana de Mad Men.
The Killing é uma adaptação de uma série dinamarquesa chamada Forbrydelsen (reinterpretada por Veena Sud, de Cold Case), que trata do mesmo assunto: Uma detetive, um tanto idiossincrática, se vê desafiada com um misterioso caso do assassinato de uma jovem estudante numa região cinzenta e chuvosa (Copenhagen, no original, e Seattle, na adaptação). A trama se divide em três pólos: o caso em si, a família da menina morta e um candidato à prefeitura nos últimos dias de campanha.
Pois The Killing cumpre à risca as pretensões de seu argumento. A detetive Sarah Linden (Mireille Enos, um assombro de atriz) é de uma profundidade magistral em seu conflito pessoal no profissionalismo de sua função. Fora que é uma personagem muita bem construída e compreendida pela atriz (aliás, como eu não conhecia essa atriz antes?). Sua tensa e orgânica relação com o parceiro Stephen Holder (Joel Kinnaman) é um achado na TV, assim como todo o sofrido núcleo da família da vítima. São muitos os bons ganchos atrativos, para além do mistério da morte em si. Existe o drama familiar, que dilacera corações mais sensíveis; as intrigas políticas de poder, que incendeia (de modo brando, como a série) o núcleo político, e em torno de tudo isso gravita uma melancolia característica do ambiente soturno em que se passa a história.
A série é daquelas silenciosas, quase lentas (afinal, é do canal AMC), mas nem pense na hipótese de isso ser sinônimo de chatice. O roteiro se vale da condensação de seus personagens em seus universos para seguir com a trama, essa sim, um tanto rocambolesca, mas que sempre justifica as teias que vai abrindo.
Muita gente ficou decepcionada com o final da série (já confirmada para uma segunda temporada), uma vez que não resolve, absolutamente, seu mistério. Tolice. The Killing não é uma obra de caminhos fáceis e, estendendo o seu plot, acabou por render últimos episódios antológicos. Há até uma corrente que prefere a versão original, mas aí é outra discussão: dentro do que se propõe e na chancela de uma adaptação americana, a série é fenomenal.
Se você é exigente com a substancialidade do que vê na TV, invista seu tempo em The Killing, pois esta já se configura dentre as melhores teledramaturgias na TV moderna. E, pela sua perfeita linearidade, suplantou superproduções da HBO.