Homeland e outras séries que marcaram 2011

A temporada de séries 2011, ainda que não tenha sido brilhante como a “era de ouro da TV americana”, em 2004, trouxe bons exemplos de dramaturgia pautada na inteligência e urgência da sociedade tanto doméstica quanto mundial.As séries já sedimentadas – Modern Family, Breaking Bad, The Good Wife, etc… – fizeram boas temporadas (The Walking Dead voltou ainda melhor e mais tensa!), mantendo a continuidade de suas ótimas premissas (no caso de Modern Family isso se reverteu em muitos prêmios, inclusive agora em 2012). Mas o frescor dos novos projetos movimentou a telinha e justificaram o nosso tempo diante dela.

O caso da badalada American Horror Story acabou sendo um emblema decepcionante do ocaso do “muito barulho por nada”. Os criadores, Ryan Murphy e Brad Falchuck (ambos de Glee), descrevem a série como um thriller psicossexual, mas apesar de tecnicamente bem feita, o roteiro é raso e marcadamente fetichista e, ainda que estabeleça bons ganchos para outras temporadas, seu desenvolvimento foi bem irregular. Já Boardwalk Empire (atualmente o ponto de prestígio da HBO…), ainda é uma grande série, escrita de forma memorável, mas teve uma segunda temporada atravancada em suas próprias pretensões. Porém, o último episódio demonstrou que coisa boa vem por aí em seu terceiro ano.

HOMELAND

A série é uma versão americana de uma produção israelense. Seguindo a linha de 24 Horas, Homeland trabalha a questão do terrorismo. É como se a série de Jack Bauer fosse protagonizada pela Chlöe e investisse (muito) mais na psicologia da ação do que na literalidade dos fatos.

A questão da ambigüidade é a força vital da trama, que nos joga informações e contradições com uma habilidade extrema, e ainda contextualiza tudo de forma inteiramente verossímil. Isso sem falar em Claire Danes, que está assombrosa na construção delicada da bipolaridade de sua protagonista. É o tipo de série que, se manter aceso o fôlego, vai virar clássica.

BOSS

Uma série pouco vista e – creio eu – um tanto subestimada, apesar das indicações a Melhor Série em quase todas as premiações importantes.

Estrelada por Kelsey Grammer, a história acompanha a vida e os trabalhos de Tom Kane, prefeito de Chicago, diagnosticado com uma doença neurológica degenerativa. Sem intenção de deixar o cargo, ele esconde sua situação, enquanto manipula o poder e todos à sua volta. Criada pelo iraniano Farhad Safinia (do filme Apocalypto), Boss teve o episódio piloto dirigido por Gus Van Sant (Elefante e Milk), em seu primeiro trabalho na TV.

Boss vai destrinchando toda a armadura que se constrói em torno de uma figura pública, inclusive a devastada família do prefeito, e ainda é sagaz ao dlinear, com tintas muitas vezes cruéis, essa complicada relação do homem com o poder. Um trabalho primoroso, principalmente para àqueles que não resistem a uma boa dramaturgia regada a intrigas e diálogos implícitos.

SHAMELESS

É a versão americana de uma série inglesa homônima, criada por Paul Abott, no ar desde 2004 e gira em torno dos Gallaghers, uma família da classe operária de Chicago que precisam lidar com a crise econômica americana. Macy é um alcoólico, pai de seis filhos, casado com uma mulher que o trocou por outra mulher. A família mantém-se unida graças à filha Fiona (Emmy Rossum), de 18 anos que se divide entre cuidar dos 5 irmãos e irmãs, tentar manter o pai sóbrio e ainda descobrir uma forma de seguir o seu próprio caminho.

É curioso notar que mesmo sendo uma série de origem inglesa, a decadência de alguma base familiar aqui se agrega perfeitamente a sociedade americana. Mas o grande destaque do programa, além de sua amoralidade, é a forma irreverente e irônica com que a trama se desenrola. Uma grata surpresa nesta temporada.

GAME OF THRONES

A série é uma adaptação dos livros “Saga de gelo e fogo“, de George R.R. Martin. Ela apresenta a sangrenta luta pelo controle de Westeros, uma terra hostil onde as estações de verão e inverno duram décadas.

Cercada de grande expectativa, Game of Thrones é um série bem acima da média, ainda mais por impor um universo muito bem fundamentado em suas próprias e adultas prerrogativas. Porém, é inegável que a trama tenha derrapado ao verter sua narrativa literária para a TV. Mas é um problema que os próprios produtores já prometem reverter na esperada segunda temporada, este ano. Nada que tire o brilho e os aspectos notadamente qualitativos de seu todo.

ENLIGHTENED

É uma série criada e estrelada por Laura Dern e Mike White como uma sátira à postura bem intencionada de pessoas que, pregando mudanças de comportamento, tentam impor a terceiros suas opiniões e visão de vida.

É um humor encharcado de sutilezas, tanto no texto quanto nas interpretações, e ainda motiva reflexão sobre inadequações sociais versus parâmetros pré-estabelecidos dessa convivência.

Pela originalidade e risco da abordagem (muito complexo até para o público de TV fechada ianque, dada a fraquíssima audiência lá e aqui!), merece muito a nossa atenção, pois o saldo é de muita simplicidade… E coerência.

THE KILLING

Sem dúvida nenhuma, uma das melhores séries já produzidas pela TV americana, mesmo sendo um remake, The Killing ascende o gênero investigativo para outros patamares mais, digamos, patológicos, no tocante a humanidade de seus complexos personagens. Baseada na série dinamarquesa de sucesso Forbrydelsen, o canal AMC apresenta um drama criminal sobre o assassinato da garota de 17 anos Rosie Larsen, que segue a investigação, os suspeitos e a vida dos moradores da cidade de Seattle. A brilhante e silenciosa primeira temporada acabou de foma imprecisa, o que gerou alguma celeuma, mas a riqueza dramatúrgica da trama e a afeição que estabelece com seus personagens mantém o interesse para outras (esperadíssimas) temporadas…

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