A ressurreição de The Killing pelo NetFlix serviu para comprovar que a história da série não precisa de engenhosismos do gênero. Não que não tenha tido. Teve e muito, principalmente na terceira temporada (que é boa, apesar de não ser ótima), e em parte dessa quarta (nos três primeiros dos seis episódios). O grande poder dramático de The Killing são mesmo seus protagonistas Linden (Mireile Enos) e Holder (Joel Kinnaman), e a relação que incide sobre eles.
Baseada na original dinamarquesa Forbrydelsen, a adaptação americana ganhou vida própria em quatro temporadas sólidas que transcenderam seu viés de “crime da temporada”, algo que podemos perceber lindamente nessa temporada. O conflito interno de Holder, com seus fantasmas do passado; a inadequação perene de Linden, até no tocante à maternidade, assim como o cinismo reinante no ambiente investigativo da polícia de Seatlle, são elementos que solidificam a unidade dessa temporada inteiramente integrada com os anos anteriores, mas evoluindo no contexto dramático de cada personagem. Mireile e Joel são excelentes atores e compreendem bem o paroxismo contido de seus papéis.
A trama dessa temporada – que investiga um massacre na família Stansbury – começa meio atravancada ao centrar numa escola de regime militar, estabelecendo uma narrativa sem grandes voltagens dramáticas, uma vez que o sobrevivente da tal chacina, e integrante da família assassinada é apresentado apenas como um perturbado diante de uma “instituição” misteriosa, mas do terceiro episódio em diante, o rapaz e a diretora da escola vão se mostrando cheios de nuance, assim como a dupla de investigadores vai se enrolando cada vez mais nas consequências do que aconteceu no fim da terceira temporada. É brilhante como as duas tramas vão seguindo de forma fluente e até complementar, numa manobra de roteiro eficaz de nos fazer grudar na TV (ou na tela do computador).
A justificativa é melhor que a solução do crime, e isso é ótimo. Mas como eu disse: a dupla protagonista é o melhor de tudo, então o final de The Killing se constrói na humanidade de seus elementos, que aparentemente seriam trágicos, mas se revelam intrinsecamente afetivos. Não a toa, foi dirigido pelo cineasta Jonathan Demme, o que agrega uma preocupação bem-vinda com o confronto entre razão e emoção no desfecho do “casal”. O resultado é o sorrisinho que damos enquanto a série vai nos dando adeus. Vai fazer tanta falta…
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